CAPÍTULO 09

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DOMINGO
16° graus celsius.

❄️❄️❄️

    Seis dias. Demorou seis longos dias para Rhaví vir até minha casa novamente. Eu já estava praticamente ficando maluco! Os dias pareciam durar uma eternidade, com trezentas horas invés de vinte e quatro.

    Confesso que eu fiquei apreensivo pra cacete sobre isso. E se ele não voltasse nunca mais? E se eu nunca mais ouvisse sequer falar deles? E Se os lobos não aparecessem no próximo inverno? E se eles resolverem se mudar de vez pro Alasca porque eu descobri o segredo da matilha? Eram tantos pontos de interrogação que minha mente estava quase entrando em pane.

   Felizmente, meus pais tiraram um dia de folga e vieram na sexta-feira, como prometido. A presença deles em casa ajudou a me distrair, já que é impossível ter tempo para ansiedade e pessimismo quando esses dois estão por perto, mas mesmo assim esses pensamentos não deixavam de vir a mente ocasionalmente.

    No Domingo, após o almoço, meus pais precisaram ir embora, já que minha mãe pegará um Platão na noite para cobrir a folga de última hora tirada na sexta anterior. Me despeço deles com um sorriso triste no rosto, fazendo meu pai vir até mim e me dá um abraço apertado. Minha mãe dá um beijo estalado na minha bochecha (o que provavelmente deixa marca de batom) e me dá um tapinha no ombro.

    Solto um suspiro e observo em silêncio o carro dos meus pais desaparecer na estrada. Os dias estão cada vez mais quentes, o que faz com que a gente não precise mais de tantos agasalhos para sair de casa. O sol banha a tarde com um amarelo vívido, mesmo que ele ainda esteja tímido entre as nuvens brancas e calmas que salpicam o céu azul.

     Um barulho típico de galhos secos estalando vindo da floresta chama minha atenção, olho rapidamente para o aglomerado de árvores da esquerda, no limite do nosso quintal. Meu coração dá um salto descompassado quando assimilo o que meus olhos vêem.

    — Oi. — O garoto alto e lindo diz ao sair do bosque e caminhar em minha direção, vestindo apenas uma calça jeans surrada. Rhaví me dá um sorriso tímido e enfia as mãos nos bolsos da calça, que está um abaixo da linha da cintura, evidenciando aquelas marquinhas em formato de "V"...

   — O-oi.— Balanço a cabeça de um lado para o outro, tentando tirar esses pensamentos impuros da mente, sem parar de encará-lo, como se não acreditasse que ele realmente estivesse aqui na minha frente. Levanto da varanda em um salto desajeitado e dou alguns passos em sua direção, sentindo a grama verde fazer cócegas entre meus dedos.

    — Eu pensei... Q-que você não aparecia mais... — me enrolo com as palavras, sem deixar de encarar seus olhos escuros. Contenho-me para não me atirar nele e ver se isso é real mesmo.

    — Desculpa, Joe precisou de um tempo para pensar no que fazer. Eu vim aqui há uns dois dias e seus pais estavam em casa, então resolvi não atrapalhar e esperar eles irem embora. — Rhaví explica, sua voz é tão grave e compassada que é como se acariciasse meus tímpanos.

    — E-entāo... Ele que me encontrar? Agora? — exclamo, sem me preocupar em esconder a empolgação. Rhaví assente levemente com a cabeça e indica para que eu o siga em direção as árvores. Não penso duas vezes, antes de começar a andar em direção ao bosque.

    Nós começamos a andar lado a lado entre os pinheiros e arbustos, ouvindo apenas a melodia dos pássaros e o som das nossas respirações. Consigo sentir o calor sobrehumano emanar da sua pele, a centímetros da minha.

    — Você tem... — ele começa, olhando para mim por cima do ombro, antes de levar a mão quente até minha bochecha. Observo-o em silêncio mostrar a ponta dos dedos sujos de batom e abrir um sorriso caloroso.

QUANDO O INVERNO ACABAR Where stories live. Discover now