CAPÍTULO 10

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    Nós caminhamos pela floresta em silêncio por alguns minutos. Lanço um olhar em direção a Joe, tentando decifrar sua expressão, mas seu rosto está calmo e tranquilo, como sempre.

    — Eu tinha quinze anos quando aconteceu comigo. — Ele quebra o silêncio, encarando-me por cima dos ombros. — Minha família morava nos Estados Unidos, Arizona. Os lobos de lá não são... Tão calmos quanto os daqui. A maioria resolve simplesmente desaparecer em alguma reserva para não causar problemas.

    — Existem muitos lobos espalhados por aí?

    — Algumas centenas, espalhados em pequenos grupos por alguns países. Estados Unidos, Noruega e Suécia são que possuem mais de nós. — Ele explica, antes de coçar a barba loira e enfiar as mãos nos bolsos da calça de moleton novamente.

    — M-mas... Mas... Não seria melhor morar em países mais quentes? Tentar levar uma vida tranquila lo Brasil, Austrália, África do Sul, Argentina... — não deixo de perguntar. Os países que ele citou são congelantes!

    — Não mudaria nada, Igor. Alguns de nós já tentaram isso, mas é como... Como se nosso corpo se adaptasse as temperaturas médias de cada lugar. Aqui, com alguma coisa perto dos 10° graus Celsius já corremos o risco de nos transformar, já na Austrália, por exemplo, como as temperaturas são mais altas, talvez com uns 20° graus já ocorra a transformação. Escolhemos países mais frios porquê há mais estabilidade, já que as estações são bem demarcadas. Em países tropicais como o Brasil, as coisas são mais imprevisíveis, tempestades surgem do nada, ventos frios vindo do oceano, correntes marítimas, el nino, la nina... Tudo isso torna o clima meio instável.

    — Acho que entendi.

    — Muitos de nós também são mortos todos os anos, então sempre levamos em conta a segurança também. Aqui no Canadá temos várias leis que proíbem a caça dos lobos, coiotes, raposas do ártico e linces, mas mesmo assim, é impossível não me preocupar com o bem estar da minha matilha, eles são tudo para mim.

    — E-eu nunca faria nada que machucasse o Rhaví, ou qualquer um de vocês! — apresso-me em explicar.

    — Eu sei, Igor. Confio em você. Você é a primeira pessoa que descobriu nosso segredo, conhecemos você desde os seus sete anos! Por isso não nos mudamos de vez pro Alasca. 80% da matilha disse que confiava em você para guardar nosso segredo, então aqui estamos.

    — 80%? I-isso quer dizer que Lola...

    — Jen é um pouco difícil as vezes, mas fique tranquilo. Se você souber ser paciente, verá que ela é uma ótima pessoa.— ele me corta, então confirmo em um aceno curto.

     Caminhamos em silêncio por mais algum tempo até chegar em um pequeno riacho. Sento sobre uma pedra grande e lisa na margem. dobro as pernas até o peito e as abraço logo em seguida.

    — por que vocês estiveram comigo todos esses anos? Todo inverno vocês estavam lá, como se eu também fosse parte da matilha. — pergunto por fim, apoiando o queixo nos joelhos. Joe parece pensar um pouco antes de responder.

    — Rhaví gostava de você e não queria deixar essa cidade de jeito nenhum. Quando eram apenas Carlos, Malu, Jen e eu, passávamos os invernos nas florestas do Alasca, longe de qualquer pessoa. Mas quando Rhaví apareceu... Ele era uma criança presa dentro de um lobo, um garotinho brincalhão e alegre que durante o inverno estaria solitário, sem nenhum amigo, mesmo que fizéssemos de tudo para que ele não ficasse assim. Quando viu você pela primeira vez naquele balanço, foi como se Rhaví tivesse se conectado à você instantaneamente. Não pareceu justo tirar dele o único amigo que ele tinha, mesmo que ele fosse um lobo e você um humano. Desde então resolvemos passar os invernos aqui. — Meu coração está martelando sem parar quando Joe para de falar. Eles ficaram por mim. Rhaví ficou aqui por mim todos esses anos...

    — Acho melhor voltarmos, já está ficando tarde.— O homem em pé ao meu lado diz.

    — S-sim. Vamos.

    — Mas antes, prometa-me que cuidará de Rhaví, por mim. — Joe me segura pelos ombros gentilmente e se inclina para me encarar.

    — Eu prometo.— Respondo, com a voz firme dessa vez.

    — Ótimo, confio em você.— Murmura ele, dando-me um aceno.

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    Assim que retornamos à Colina onde fica o abrigo, avisto um cara alto saindo do túnel, totalmente pelado. ele definitivamente é bastante bonito, com uma pele dourada e um nariz longo.

    — Hey, Igor! — o cara vem até mim com um sorriso enorme no rosto e me puxa para um abraço.

    — O-oi...— desvio rapidamente o olhar, sentindo meu rosto arder de vergonha. O cara aparenta ter uns vinte e poucos anos, seus olhos castanhos me encaram enquanto ele levanta uma das sobrancelhas, tentando entender porque estou desconfortável.

    — VISTA ALGUMA COISA ANTES SEU IDIOTA! VAI TRAUMATIZAR O MENINO!! — Malu ruge, saindo do abrigo e lançando um olhar felino para o cara, que suponho ser Carlos.

    — Tudo bem querida. Desculpa igor.— ele diz, dando um passo para trás, mas sem fazer qualquer outra coisa para cobrir suas partes íntimas.

   — Eu sou o Carlos, aliás... — ele começa, mas Malu o pega pela orelha e começar a arrastá-lo para dentro do abrigo novamente. — é um prazer finalmente te conhecer!!

    — Digo o mesmo! — grito, antes que ambos sumam na escuridão do túnel. Rhaví sai de lá logo em seguida, dando-me um pequeno sorriso.

    — Já está ficando tarde, Rhaví. Leve Igor de volta para casa. — Joe pede.

   — Okay.

    — Rhaví vai te levar até o nosso apartamento qualquer dia desses, assim poderemos conversar mais.

    — Obrigado por confiar em mim, Joe. Diga para Malu e Carlos que eles são demais! — Me despeço, então Rhaví e eu começamos a andar pela floresta, por onde viemos.

    — Você deve achar que somos loucos, né. — Rhaví diz, sorrindo, depois de alguns minutos caminhando em silêncio.

    — claro que não! Vocês são incríveis. — apresso-me a dizer.

    — Desculpa se Carlos te deixou desconfortável, é que não costumamos usar muitas roupas entre as transformações, já que isso irá rasga-las, é praticamente normal para a gente ficar assim na frente uns dos outros.

    — percebi. — digo um tanto sarcástico, Dando-lhe um sorriso sincero e um pequeno empurrão. Não tenho nenhuma objeção  a fazer no que diz respeito a um Rhaví pelado na minha frente.



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QUANDO O INVERNO ACABAR जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें