CAPÍTULO 03

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17° GRAUS CELSIUS
DOMINGO
❄️❄️❄️


   Um lobisomem.

   JACK É A PORRA DE UM LOBISOMEM.

   Meu Deus.

   Meu cérebro vai derreter.

    Ele simplesmente desapareceu na floresta sem ao menos olhar para trás, me deixando petrificado na porta de casa. Precisei de alguns minutos para digerir o que os meus olhos viram e finalmente voltar para dentro, tonto e perplexo.

    Não consegui pregar os olhos uma vez sequer durante toda a noite. Fiquei sentado na pequena poltrona do meu quarto, repassando cada segundo daquele estranho encontro e tentando ligar os pontos.

    Ele mudou totalmente em uns cinco segundos, tão rápido que meu cérebro quase não acompanhou as imagens captadas por meus olhos. Não era dia de lua cheia (eu chequei no calendário), E COMO RAIOS ISSO É POSSÍVEL?!

    Estava vendo algumas fotos de quando era criança num álbum velho que encontrei no sótão. Os meus lobos (ou seja lá o que sejam) estão em várias delas. Toco com a ponta dos dedos a fotografia meio amassada, onde estou sorrindo para a câmera e fazendo sinal de positivo com as duas mãos. Eu deveria ter mais ou menos uns dez anos, há um cachecol azul enrolado no meu pescoço, meu cabelo está despenteado e meus olhos verdes praticamente brilham de felicidade. Os lobos estão deitados perto dos meus pés. Jack é o mais bobalhão e está com a língua para fora; Nevasca está encarando diretamente a câmera com olhos semicerrados, seu belo pelo branco se camufla tão bem na neve que é quase impossível vê-la por completo; Jimmy e Rainbow estão brigando e mordiscando um ao outro, o pelo castanho dele contrastando com o branco dela; e por fim há Lola, deitada na neve um pouco mais afastada da gente, ainda com aquela expressão de mal-humorada que sempre está em seu rosto.

    Estava tão perdido nos meus pensamentos que mal notei o som de um carro parando ao lado da casa. Olho de relance pela janela do quarto e percebo que já é de manhã.

   PUTA MERDA.

    Levanto rapidamente da poltrona e corro para o guarda roupas, já que ainda estou vestindo meu pijama amarrotado e meio sujo de ontem.

    Depois de vestido, corro para fora do quarto e começo a descer as escadas.

❄️❄️❄️


   — você passou a noite assistindo, não foi?— essa é a primeira coisa que ouço da minha mãe. Ela vem até mim e me abraça forte, envolvendo-me com seus braços.

    — É... Acho que exagerei um pouco na maratona.— minto, devolvendo o abraço. Minha mãe é exatamente da minha altura, o cabelo castanho cai como cascata ao redor do seu belo rosto.

  O meu pai passa pela porta segurando uma caixa grande de papelão e resmungando baixinho consigo mesmo.

   — eu ajudo, pai. — vou até ele e pego a caixa de suas mãos, ela é surpreendentemente pesada.

  — obrigado, filho. São alguns papéis velhos e apostilas, pode colocar ali no canto que depois eu boto no porão. — diz ele, antes de bagunçar meu cabelo e me dá um sorriso grande. Seus óculos fazem os olhos verdes refletirem ainda mais a luz, deixando-os ainda mais bonitos.

  Em passos rápidos, vou até o canto da sala e a deixo lá, meio escondida atrás de uma das mesinhas cheias de vasos.

  — tudo bem na escola, Igor? Está comendo direitinho? — minha mãe pergunta, encarando-me com seus enormes olhos castanhos. Vestidos floridos são com certeza as roupas que ela mais veste quando deixa de lado seu jaleco branco. O que ela veste agora é azul com flores brancas.

  — tá tudo bem sim, mãe. E minha alimentação está legal, também.— respondo, o que me faz receber uma encarada de desconfiança. Forço meu melhor sorriso e rezo para que ela não vá conferir na geladeira, que ainda contém metade da comida que ela deixou, mas em compensação, eu comi os dois potes grandes de sorvete, o bolo e os pacotes de batata frita.

   — hum... Sei.— resmunga ela, então corro para onde meu pai está, sentado no sofá. Só ele pra me ajudar caso ela resolva continuar me interrogando, se bem que minha mãe é a chefona daqui e é impossível fugir dela.

  — tudo bem no seu escritório, pai?

  — Tá sim. O maior número de contratos fez com que tivéssemos mais trabalho esse mês, por isso não viemos ontem.— ele explica, empurrando o óculos para cima com a ponta do dedo e passando a mão no cabelo logo em seguida. Já consigo ver vários fios brancos entre os demais.

   Nós continuamos conversando por um longo tempo, até que minha mãe anuncia que vai fazer Strogonoff pro almoço e que precisa ir a cidade comprar os ingredientes.


❄️❄️❄️


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QUANDO O INVERNO ACABAR Where stories live. Discover now