Call It What You Want - Docshoe

I'M THE ONE HE'S WALKING TO

A fim de não passar a manhã inteira tentando desvendar o mistério da saída repentina do Sapato, eu vou para a academia (é a primeira vez essa semana, mas o importante é que estou indo).  Ao final do treino, pego meu celular e me surpreendo com a quantidade de ligações perdidas.

Ligo para ele, que atende no primeiro toque.

- Sapato? Tá tudo bem?

- Onde você está? – ele parece sem fôlego.

- Na academia.

- Ah. – ele dá uma pausa. – Quando você volta pra casa?

- Não sei... vou sair daqui direto pras reuniões e depois vou jantar.

- Tem como você dar uma passada em casa antes?

Meu coração acelera imediatamente e eu fico preocupada com o que pode ter acontecido.

- Por que? O que houve?

- Nada, Amandinha. – ele responde em um tom de voz mais comedido. - Eu vim pegar minhas malas e lembrei que não te entreguei teu presente.

- Presente?

- É.

- Não sabia que tinha me comprado um presente! – digo com um sorriso. – Eu passo em casa antes do jantar, te aviso quando chegar lá.

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- Flores? – eu questiono quando, horas depois, o Antônio me entrega meu "presente".

- Aham.

- Você trouxe flores de Miami?

- Sim?

- Você comprou essas flores nos Estados Unidos, colocou na mala e despachou? Essas flores sem nenhum amassadinho e com um cartão escrito "Boutique Floricultura" em português?

- Droga, não vi o cartão. – ele diz baixinho, coçando a cabeça.

Eu olho para ele confusa.

– Tá certo, eu comprei ali na esquina.

- Ué, mas por que? Cadê meu presente de verdade?

- Você não gostou das flores?

- Eu amei.

Elas são realmente lindas e eu começo a abrir todos os armários da cozinha à procura de um vaso.

- Que bom... A verdade é que eu queria falar um negócio com você.

Eu encontro um perfeito e encho de água, colocando-as delicadamente dentro do vaso.

- Pensei que você queria me ver pra entregar isso. – eu digo, enquanto tento descobrir o melhor lugar para deixar o arranjo.

- Não. Preciso te falar uma coisa.

- O que você acha? – pergunto apontando para a mesa de jantar.

- Tá lindo. – ele responde distraidamente. – Você me ouviu?

- Você nem olhou, Sapato.

Ele desvia o olhar de mim e olha para as flores rapidamente.

- Tá lindo. – ele repete. – Então, Amandinha...

- Ahistória do presente era mentira?

- Sim... quer dizer, não, não era. São as flores.

- É que você fez parecer que era algo que você tinha trazido de fora.

- Depois a gente fala disso. – ele balança a cabeça, sem prestar atenção. – O que eu preciso te falar é... tem como você olhar para mim, Amanda?