WALKING WITH HIS HEAD DOWN

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Eu te amo tanto, tanto, tanto.

Meu coração acelera ao ouvir essas palavras pelo telefone.

Não lembro a última vez que ela me disse isso. Todas as vezes que eu digo, ela muda de assunto e eu já tava ficando é doido com isso. A Amandinha se tornou minha melhor amiga e a ideia de eu não ser tão importante para ela como ela é para mim me preocupa às vezes.

Eu sinto tanta falta nela... Os últimos três meses foram muito mais difíceis do que os quatro anteriores. A semana que passamos juntos e o fato de que agora eu durmo e acordo vendo o rosto dela tornaram a distância muito pior. É como se um vazio enorme tivesse aberto dentro de mim e não importa o que eu faça, eu não consiga preenchê-lo.

Eu sabia que ela tinha começado a namorar o Luciano, apesar de não termos tocado no assunto. Quando eu vi a primeira notícia deles juntos, a sensação foi terrível... eu senti uma dormência, meu estômago se correndo e logo me veio um enjoo. Era como se eu tivesse perdendo alguma coisa, mas eu não sabia o que. Nada tinha mudado, ela continuava a ser minha amiga, mas isso não me fazia parar de enlouquecer pensando em tudo que possivelmente estava acontecendo entre eles e, pior, em tudo que poderia vir a acontecer.

E se ele a pedisse em casamento? Eu não consiga imaginar alguém namorar a Amandinha e não querer casar com ela. Eu teria que assistir a cerimônia? Ela me pediria para ser padrinho? E se eles tivessem filhos? Eu seria tio das crianças? Esses questionamentos me davam dor de cabeça, mas eu não conseguia expulsá-los da minha mente.

Cada vez que saia uma notícia deles dois juntos ficava mais difícil respirar. Para piorar, ele ficaria o resto do ano no Brasil enquanto eu estava preso em outro continente, a mil quilômetros de distância.

Eu não conseguia pensar em outra coisa.

Os únicos momentos que eu tinha paz eram quando eu estava falando com ela ou então quando estava treinando. A minha luta se aproximava cada vez mais e dessa vez eu não estava nem um pouco apreensivo: eu não via a hora de acontecer.

Eu lembro o dia em que vi a luta dele – não por causa dele, mas porque seu rival era meu amigo. Ele não era ruim, eu concluí friamente enquanto assistia ele desferir golpes, mas não era tão bom quanto eu. O pensamento me encheu de satisfação e, com esse sentimento de superioridade, o cumprimentei educadamente ao final da luta, lhe dando os parabéns.

- Obrigado, cara. – ele apertou minha mão forte. – Agora me dá licença que Amandinha deve tá me ligando para dar parabéns.

Ele me lançou um sorriso provocador e eu senti o músculo em meu maxilar pulsar.

Que filho da puta.

Amandinha?

Quem ele pensa que é pra chamar ela assim?

- Ela fica muito feliz pelos outros, né? - lanço um sorriso sarcástico enquanto coloco toda a minha irritação no aperto de mão. - Foi a primeira pessoa a me abraçar quando sai do ringue. – completo, dando um tapão não tão amigável em suas costas antes de me retirar.

Depois desse dia, eu não consegui parar de matutar sobre o porquê eles estão juntos. Como ele a conquistou? O que ela vê nele? Ele não é bonito, nem simpático ou engraçado ou inteligente, e, francamente, já vi técnicas muito melhores. O cara passou três rounds morrendo para ganhar a luta numa tecnicalidade.

Após vários dias pensando sobre isso, não me aguento e pergunto ao Cigano o que ele acha.

- Cara, você sabe a minha opinião.

- Qual?

- Eu acho que você não se conforma que ela está com alguém que não é você.

Balanço a cabeça em negativa.

Call It What You Want - DocshoeWhere stories live. Discover now