O "PÓS" DOS SONHOS

929 49 0
                                    


Tudo começou com uma breve ida ao Instagram.

Todo mundo ao meu redor tinha me aconselhado a ir com calma porque o pessoal nas redes sociais costumava pegar pesado com as críticas e, apesar da minha equipe ter feito o possível para bloquear o máximo possível, podia ser que um ou outro comentário escapasse.

Eu aceitei o conselho de bom grado, até porque desde o início do programa eu me pegava pensando em como eu estava sendo vista pelo público.

Decidi que só ia dar uma olhada no meu perfil no Instagram pra ver o que tinha sido publicado por lá na minha ausência. Eu sorri muito quando vi todo o carinho e cuidado da minha equipe nas publicações, tudo parecia extremamente profissional.

Depois de um tempo lendo os comentários e as publicações na minha página, eu comecei a perceber que tinham muitas menções aos "haters" e ao trabalho sujo das páginas de fofocas e todos diziam para não dar importância a essas coisas e isso plantou uma curiosidade dentro de mim e eu não conseguia parar de pensar "o que estão falando de mim que é tão ruim assim?".

Eu sabia que era uma decisão ruim e que eu ia me arrepender, mas eu precisava saber. Entrei no perfil da primeira página de fofoca que eu consegui lembrar, fui lendo todas as publicações até o comecinho de janeiro, depois li os comentários, e passei para a próxima página de fofoca e para próxima.

A cada leitura, eu sentia crescer um peso no meu peito, um aperto no meu coração.

Eu lia alguns comentários e sentia o meu rosto ficando quente de vergonha, eram tantas críticas e comentários maldosos... As pessoas tinham notado e, o pior, ridicularizado tantos aspectos sobre mim, sobre minha personalidade, trejeitos, tiques, aparência. Eu comecei a sentir uma sensação terrível de querer estar fora do meu próprio corpo.

Eu não conseguia parar. Eu vi que muitos comentários também mencionavam ataques no Twitter e então eu decidir checar o que havia sido dito por mim lá. Certos comentários eu já esperava, mas muitos me pegaram de surpresa, tanto pelo ódio que algumas daquelas pessoas pareciam sentir de mim quanto porque eram detalhes que eu pensei que ninguém tinha percebido ou que nunca tinham acontecido.

Eu era feia. Eu era gorda. Eu era suja. Eu tinha tiques estranhos. Eu era muleta emocional. Eu era manipuladora. Eu era uma farsa.

Sem que eu nem percebesse, eu passei três horas sentadas na cama lendo comentários e publicações. Eu sentia um peso tão grande no meu coração, eu sentia como se minha respiração estivesse fechando e eu não conseguisse respirar direito.

Tentei me acalmar, mas nada surtiu efeito. A sensação de vergonha e constrangimento que eu estava sentindo era tão grande que eu sentia como uma força física estivesse me empurrando pra baixo.

Decidi ligar pra Pamela.

- Pamela? - eu falei e foi então que eu notei que eu tinha começado a hiperventilar.

- Amiga? O que aconteceu? - ela me perguntou preocupada.

Quando eu só continuei a chorar, ela disse:

- Fica aí, já tô indo.

Depois disso, toda a família ficou sabendo da minha crise de ansiedade e não saíram do meu pé até eu marcar um psicólogo que pudesse me ajudar. Nenhum dos meus argumentos foi aceito e eu fui vencida pelo cansaço. Ainda assim, eu relutei muito e precisei ir em três profissionais diferentes até começar o tratamento de fato.

Eu detestava. Mas estava indo, aos trancos e barrancos.

A parque que eu gostava é que as sessões me davam a oportunidade de processar tudo que estava acontecendo na minha vida.

Call It What You Want - DocshoeWhere stories live. Discover now