Capítulo 22

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A casa de Emily não era uma construção bonita que ficava em uma ruazinha afastada do Centro da cidade. Havia poucas casas naquela rua e ela não tinha saída, apenas a floresta surpreendentemente assustadora e escura no final dela. Emily não gostava muito de como as casas eram posicionadas, todas distantes apesar de ficarem na mesma rua, ainda mais nos tempos em que vivia, com criaturas sombrias vivendo naquela mesma cidade não muito longe dali.
"Não é como se alguma coisa fosse deter Victor..., mas gostaria de sentir que poderia pedir ajuda... "

_Miau... _ miou o animal no canto de seu quarto a despertando de seus devaneios e voltando a lembrar-se do gatinho que encontrara pouco antes de chegar em casa. Era quarta-feira e o tempo estava chuvoso, o que era quase algo normal para ela, já que chovia naquela cidade desde o dia em que ela e o pai haviam chegado. O gato estava todo molhado da chuva e tremia de frio. Tinha os pelos amarronzados e era um filhote ainda. Emily não gostava muito de animais, mas por algum motivo havia sentido pena do animalzinho e decidiu levá-lo para casa.

_Você estava sozinho e assustado. _disse ela pegando o gato com as duas mãos de forma gentil. _Acho que nisso nos somos parecidos, eu também estou...

_O que esse bicho faz aqui?! _rosnou uma voz já bastante conhecida vindo da porta do quarto, a fazendo soltar um gritinho assustado, quase deixando o animal cair.

_E... ele é meu. _gaguejou ela pondo o gato no chão em cima do tapete felpudo cinza do lado da cama.

_ Você odeia animais, Emily! _soltou Victor irritado.

_ Não odeio não. _retrucou ela nem se dando ao trabalho de perguntar como ele sabia daquilo. Se tratando de Victor, não se surpreenderia se ele soubesse tudo sobre ela. _Só nunca tive vontade de ter um, mas encontrei esse gatinho abandonado e vou ficar com ele.

_ Não vai. _negou o demônio friamente. _Vai devolvê-lo ao lugar de onde o tirou e vai fazer isso agora.

_Eu não posso, ele vai morrer de frio e de fome se o deixar... _ Emily tentou argumentar.

_ Você me ouviu, não vou repetir. _ murmurou Victor estreitando os olhos de forma ameaçadora.

Emily abriu a boca para contrária-lo, mas a fechou rapidamente ao lembrar da noite anterior. Tinha tantas perguntas para fazer a Victor sobre o que havia acontecido. Tudo o que ele e aquela mulher haviam conversado havia sido demais para ela. A proposta de Lúcifer de que ele voltasse para o inferno e fizesse um tipo de pacto de que serviria a ele e em troca ele traria Sophie de volta, o fato de que para que isso acontecesse eles usariam um bebê inocente para ser a casca onde a alma da filha de Victor ficaria era chocante ao extremo e a fazia lembrar a si mesma o quanto o demônio a sua frente era perigoso.

_A mulher de ontem, quem ela é? _questionou Emily hesitante.

_O nome dela é Lilith, é a esposa de Lúcifer. _respondeu ele se aproximando perigosamente perto de Emily, que ofegou surpresa e ao mesmo tempo assustada quando ele ergueu uma das mãos e acariciou seu rosto de leve. Parecia uma mania para ele atormentá-la com sua presença e com seus toques falsamente gentis.

_Aquela das lendas? A primeira mulher de Adão, que se disfarçou de serpente e tentou Eva com a maçã e a levou a pecar? _exclamou ela assustada. Se a Lilith da noite anterior fosse como nas histórias que ela já havia visto nos livros, era ainda mais perigosa que Victor.

_Sim, essa mesma. Os detalhes você vai ter que perguntar a ela. _concordou o demônio não dando importância para a expressão chocada no rosto dela e se aproximando ainda mais, fazendo seus corpos se colarem. _Você ouviu nossa conversa ontem, sabe o que ela queria.

_ Você vai aceitar a proposta do seu irmão? _quis saber Emily dando um passo para trás querendo manter certa distância dele, mas sendo impedida pelas mãos fortes do demônio que a mantiveram no lugar.

_Eu não quero aceitar. As coisas pelas quais passei, coisas que eu fiz por Lúcifer... não gostaria de continuar fazendo aquilo. _confessou ele, a surpreendendo. _Mas trazer minha filha de volta é uma proposta tentadora. A morte dela foi o motivo pelo qual estive tão infeliz nos últimos séculos, eu gostaria de voltar a ser feliz de novo...

_Mas se colocar a alma de Sophie no corpo do bebê o que seria da alma que estava nele? Ela morreria? _perguntou ela.

_Provavelmente. _murmurou Victor.

_Mas ele seria seu filho, você mataria a alma do seu próprio filho? _questionou Emily horrorizada com tal possibilidade.

_A alma de Sophie seria colocada assim que o feto se formasse, a alma do bebê ainda não estaria desenvolvida.

_Eu não vou ter um filho com você, Victor. _afirmou a garota convicta. _Escolha outra pessoa.

_Eu estou pensando sobre tudo isso, mas se eu aceitar o acordo do meu irmão eu vou escolher você e isso não é algo a ser discutido. _assegurou ele.

O gatinho começou a miar sem parar e Victor a soltou caminhando rumo ao animal, mas foi impedido por Emily que saiu de seu aperto e se pôs a sua frente o impedindo.

_Eu vou dá-lo a alguém, por favor não faça mal a ele. _ murmurou ela implorando com olhar para que não ele não fizesse nada.

_Tudo bem. _ concordou ele dando de ombros como se pouco se importasse, e a verdade era que não se importava mesmo. _Eu vim aqui por outro motivo. Eu vim te chamar para uma festa, Evan Gilbert está dando uma hoje na floresta, em um camping perto do lago na saída da cidade.

_ Você está me perguntando se quero ir? _perguntou Emily irônica.

_É lógico que não, eu estou avisando dos nossos planos para hoje à noite. _respondeu ele de forma arrogante.

_Por que as vezes você age como se estivéssemos em um tipo de relacionamento? Se comporta como se fosse normal tudo o que você vem fazendo comigo, mas não é! Isso é doentio, Victor! _rosnou Emily irritada. _ Em certos momentos age como se me odiasse, me faz passar por coisas horríveis..., mas no minuto seguinte age como um namorado ciumento que não pode ver garoto algum se aproximar da sua garota. Eu só queria entender o que eu de verdade significo para você. Por que se me odeia, o que eu ainda estou fazendo aqui? Por que ainda não me matou? Por que ainda estou respirando se me odeia tanto?

_Eu não sei. _ murmurou o demônio em resposta, e incrivelmente parecia sincero. _Eu de verdade também não entendo.  Mas seja lá o que me impede de te matar, isso um dia vai acabar, e quando esse dia chegar não a ninguém no mundo que vai me impedir de matar você, princesa. _sussurrou.

_Porque algo me diz que esse dia nunca vai chegar e você nunca terá coragem de me matar. _disse ela de forma corajosa.

Victor a encarou sorrindo, apesar de tudo o fato dela desafiá-lo a fazia ainda mais interessante e irresistível para ele.

Mistério Dos Sombrios Vol 1Where stories live. Discover now