Capítulo 18

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   _Emily... _ouviu uma voz autoritária lhe chamar. _Srta. Thorne, você por acaso ouviu o que eu disse nos últimos dez minutos?! _rosnou o professor Dylan O'Connor, de ensino religioso a encarando furioso.

    Era terça-feira, dias depois das revelações de Victor e da morte da garota. Não lembrava exatamente como havia chegado em casa depois de tudo o que aconteceu, a única coisa que sabia e que de alguma forma havia adormecido e quando acordou estava em sua cama e já era tarde da noite. Quando chegou na escola naquela manhã dias depois do ocorrido não ouviu boato algum sobre algum corpo que havia sido encontrado e por um momento torceu para que o que tivesse acontecido não tivesse passado de um sonho ruim, mas no fundo sabia que tinha realmente acontecido. O olhar que Victor Hale lhe lançara assim que ela entrou na sala naquela manhã não lhe dava dúvidas. O professor, um atraente homem de quase quarenta anos por quem praticamente todas as garotas babavam a encarava mais do que furioso. Estava extremamente irritado por um motivo sério, ele lhe fizera uma pergunta, talvez até várias, mas Emily estava tão amedrontada por tudo o que Victor fizera e lhe contara que não havia prestado atenção alguma durante toda a aula. E como em seu primeiro dia de aula com a professora de história, estava ferrada.

_Que tal esquecer sua viagem por esse mundo paralelo em qual você estava viajando e se juntar a nós na aula de ensino religioso, Emily. _zombou ele sarcástico. _Ou você se acha entendida demais do assunto para ter que participar da aula como o restante dos alunos dessa turma.

    Emily abriu a boca com intenção de pedir desculpas, mas a fechou desistido da ideia. Isso só faria o professor ficar ainda mais irritado e não adiantaria nada.

_Que bom. A srta. Thorne vai se juntar a nós, penso que agora você poderá responder minha pergunta. _murmurou o homem friamente ainda com sua atenção voltada a ela.

_Não entendo para que tanto estardalhaço por ela não estar prestando atenção, para que vamos usar nosso conhecimento sobre céu e inferno e tudo mais na realidade? _disse uma voz vinda do fundo da sala o desafiando.

O professor desviou o olhar furioso de Emily e o direcionou para o garoto sentado na última carteira que tinha falado aquilo e todos os alunos acharam que ele explodiria de ódio naquele momento. Seu rosto estava muito vermelho e sua paciência estava no fim.

_Está me dizendo que a matéria que ensino é inútil? _questionou o professor caminhando lentamente até onde o garoto estava, sendo acompanhado pelo olhar por toda turma que os encaravam curiosos com a provável confusão. A aula estava chata demais até então e qualquer coisa diferente do que estava antes parecia interessar a turma.

_Estou dizendo que em uma entrevista de emprego, não vai ser perguntado o porquê de Lúcifer e dos anjos caídos terem sido tão tolos a ponto de trocarem a maravilha do céu por mais poder, desafiando a criatura mais poderosa do universo, Deus, por causa disso. Porque sinceramente, ele deveria ter percebido que não conseguiria muito com isso, o inferno não foi bem um prêmio para ele, foi? Está mais para purgatório particular para punir as pessoas ruins da terra. _disse o garoto ruivo amargamente, Emily lembrou de já tê-lo visto antes, mas era uma lembrança vaga, ainda não estava familiarizada com o rosto de todos daquela escola. Seja lá quem ele fosse ela havia gostado dele, ele tinha atitude.

_É... mas todo mundo sabe que o diabo vai conseguir bilhões de almas pecadoras no final de tudo, ele não saiu tão perdedor assim. _elucidou Jessica franzindo o cenho de forma superior para o garoto, como se estive claro que o garoto estava errado. A turma riu com seu comentário, mas o professor o ignorou, sua atenção ainda no garoto ruivo.

_Isso porque Deus decidiu que as pessoas deveriam tomar suas próprias decisões sobre suas vidas. Ele deu o livre arbítrio por amor a nós, porque queria que não o adorássemos por obrigação e sim por nossa própria escolha. Mas ele continua sendo mais poderoso que qualquer força do inferno. Lúcifer não venceu. A sede por poder dele o torna mais fraco e sua falta de amor também. As pessoas vão para o inferno por suas ações ruins, não porque escolhem ele. _dissertou o garoto ruivo fazendo o professor o encarar impressionado. Seu olhar era como de alguém que tivesse conseguido exatamente o que queria, como se já estivesse esperando um desenvolvimento parecido com aquele e tudo tivesse sido milimetricamente planejado.

_E o que você acha disso Sr. Hale? _perguntou o professor, desviando a atenção do garoto ruivo e se encarando Victor de forma astuta, como se a resposta dele fosse importante por algum motivo. Não parecia irritado e sim relaxado, o debate que havia começado o havia acalmado. Apesar de tudo os alunos estavam participando.

_Acho que se existisse um meio termo entre céu e inferno eu o escolheria. Deus é poderoso, mas o que ele faz para ajudar as pessoas que morrem a cada segundo, as pessoas que passam fome, que sofrem e passam pelas coisas mais terríveis... Deus não se importa tanto assim conosco se deixou que o diabo tivesse certo poder para causar coisas ruins. _murmurou Victor encarando o professor sombriamente.

_Todas essas coisas ruins que acontecem no mundo são consequências de ações humanas... nossa culpa. Deus permite porque todas as nossas ações geram consequências que nos mesmos causamos, livre arbítrio lembra. _contra-atacou o garoto ruivo sem desviar os olhos de Victor por sequer um segundo, o que atraiu a atenção de Emily, que franziu o cenho achando aquilo extremamente esquisito. Era como se estivessem em uma disputa ali, como se já se conhecessem sem ser da escola, era como se odiassem um ao outro.

_Isso é interessante. _comentou Victor rindo para si mesmo, como se risse de uma piada que só ele sabia. _Você acha que Deus é perfeito? Acha que ele ouve todas as suas orações? Acha que ouve a todos?

_Se forem sinceros... eu acredito que ouve. _afirmou o garoto de cabelos avermelhados com uma certeza tão firme que até Emily que não era religiosa acreditou nele.

_E se a pessoa for sincera e mesmo assim não houver reposta alguma? _perguntou Victor ainda encarando o garoto com um olhar mortal. _Talvez existam exceções no amor dele, talvez não seja para todos. Os anjos caídos por exemplo, e se algum deles se arrependesse, Simas, você acha que existiria salvação para eles? Se houvesse um arrependimento sincero e verdadeiro, e se eles estivessem dispostos a tudo para voltar para o céu, acha que Deus daria mais uma chance?

Emily congelou onde estava chocada, o garoto ruivo e Victor com certeza se conheciam. E por tudo o que Victor dissera a pouco, acreditava que Simas, o nome que Victor o chamara sabia sobre a natureza sombria dele.

_Estamos falando sobre céu e inferno e a queda dos anjos caídos gente, não sobre arrependimento. _disse o professor os interrompendo. _Eu não acho que isso agrega ao nosso plano de estudo, por isso vamos focar sobre o que estávamos falando antes.

    O garoto ruivo ia falar alguma coisa, Emily tinha certeza de que ia, mas por algum motivo se manteve em silêncio, parecendo pensar sobre as indagações de Victor. Por um momento Emily pensou se o anjo caído usado na pergunta de Victor não fosse ele, mas rapidamente se deu conta de que isso era impossível, Victor havia matado uma pessoa três dias antes, e não pareceu nada arrependido para ela.

_Como vocês me parecerem bem interessados nesse tema então... _murmurou o professor. _Quero que tragam na próxima aula uma redação com a opinião de vocês sobre a queda e de que lado vocês ficariam.

_Uou professor! _exclamou Daniel gargalhando. _Ninguém aqui ficaria do lado do satã.

_Você se surpreenderia. _comentou o professor voltando para sua mesa e apanhando seus materiais. _Você se surpreenderia...

     O sinal tocou logo em seguida e Emily suspirou aliviada quando o professor saiu sem chamar mais uma vez sua atenção por sua falta de atenção na aula. Precisar se focar mais nas aulas, mas estava difícil com tudo o que Victor Hale a fazia passar a assombrando a cada segundo.

***
_Emily Rose Thorne... _sussurrou alguém em seu ouvido a assustando quando ela saia do banheiro horas depois no intervalo.

   _Aii meu Deus! _exclamou ela assustada dando vários passos para trás e deixando um grito agudo escapar, cobrindo a boca logo em seguida, corando intensamente ao esbarrar em uma garota morena que também saia do banheiro logo atrás dela e que a encarou irritada.

_Você é um desastre da natureza com toda certeza. Nunca vi alguém tão atrapalhada como você em toda minha longa existência. _disse Victor sorrindo de forma cruelmente zombeteira.

_O que você quer? _perguntou ela ficando pálida. Não ia bancar a Emily desafiadora agora, havia aprendido a lição dias atrás, não faria aquilo de novo.

_Eu não queria que nos vissem juntos na escola ou em algum lugar público. Ia pegar mal depois que você sumisse inesperadamente, eu ia ter que apagar a memória de todos para que não se lembrassem mais disso. Porém pensei melhor e decidi que como você é a última, tenho que passar mais tempo com você, não é maravilhoso? _murmurou ele baixinho de forma irônica, só para ela ouvir depois que a garota que Emily sem querer esbarrara saiu apressada. _Quero que venha sentar comigo no refeitório, agora.

Ele pegou a mão dela delicadamente e a entrelaçou na sua. Emily tremeu, lembrando das mãos dele sujas de sangue tocando em seu rosto. Tudo o que sentia com a presença dele era medo e repulsa, ele era um assassino. Havia matado aquela garota.

Emily assentiu hesitante, é claro que não desejava ir a lugar algum com ele, pior onde todos iriam ver e falar sobre isso, mas já aprendera da maneira mais difícil que Victor não estava para a brincadeira, cada ameaça feita por ele era verdadeira. Só cabia a ela entrar naquele jogo e tentar sobreviver o maior tempo que conseguisse. Estava jogando o jogo dela por sua vida, não podia vacilar de novo.

Emily tentou ignorar as centenas de olhares que eram lançados a ela e a Victor ao entrarem no refeitório lotado de mãos dadas, mas era impossível, cada olhar estava direcionado aos dois e o refeitório que antes estava barulhento ficara estranhamente silencioso. Victor a direcionou para uma mesa no fundo do refeitório, onde os membros da sua família que estudavam ali estavam. Katherine a encarou com um olhar de total desprezo, Nora e Alexia confusos e Hector não esboçaram reação alguma.

   Victor a fez se sentar entre Nora e uma cadeira vazia onde provavelmente ele ficaria e lançou um olhar significativo para as pessoas que estavam na mesa.

_O que você vai querer? _perguntou ele pra Emily, que encarava confusa a bandeja com comida de Nora, da irmã e de Hector. Sabia agora que eles eram vampiros e não entendia o porquê da comida. "Talvez pra fingirem serem normais" _pensou melancolicamente.

_Não estou com fome. _respondeu ela tentando controlar a perna direita que não parava de tremer.

_Um sanduíche de frango com maionese para você então. _disse Victor ignorando sua resposta negativa. _Algo para beber? Um refrigerante talvez... Coca cola. _supôs ele.

Emily pensou por um momento como ele sabia sua bebida preferida, mas achou melhor deixar para lá. Não era como se àquela altura do campeonato houvesse algo sobre ela que ele não soubesse então fez um gesto afirmativo com a cabeça o fazendo sorrir falsamente e se afastar, se direcionando até a fila para a compra dos lanches do outro lado do refeitório.

_Eu estou ficando louca e isso é uma visão ou ele realmente te convidou para sentar conosco? _ disse Nora lançando um olhar estranho pra Emily que tentava naquele momento não encarar Kath, porque se o fizesse não conseguiria ficar ali por mais tempo. Katherine Donovan realmente a odiava.

_Eu também não entendo. _murmurou Emily em resposta. _Mas não queria estar aqui...

_ Também não queríamos você aqui. _escutou Katherine dizer baixinho, estava furiosa e Emily teve certeza de que se não fosse o desejo de Victor de mantê-la por mais tempo viva e dele mesmo ser seu algoz, ela mesmo a mataria, ali mesmo na frente de todos.

Mistério Dos Sombrios Vol 1Where stories live. Discover now