PRÓLOGO

69 9 10
                                    

Tudo o que ela diz quando sugiro que estou gostando de outro alguém é:

— Eu conheço?

Assim, de forma blasé, e eu padeço momentaneamente em espírito. Este outro alguém é ela mesma, uma mentira, uma realidade hipotética em que ela existe duas vezes: uma pra ser esta amiga que ela já é e outra para me amar de volta. Logicamente, ela não existe para contemplar minhas vontades, este ser independente é maior que tudo, maior até que meu amor — se tais dimensões forem possíveis.

— Quem é? — ainda insiste, o brilho esperançoso nos olhos da amiga que talvez tenha um casamento para amadrinhar, a bondade pura de quem quer ver a felicidade genuína sendo vivida por sua amiga. Tão, tão pura.

Mentalmente, ensaio o "é você" destruidor de amizades, a palavra-forte-com-a que não deve ser usada em vão e nem dita no contexto errado. Na súplica dela por informação, este meu sentimento imenso se encabula, minha coragem afrouxa e eu sorrio sem ter razão e não choro, mesmo tendo lá meus motivos.

Se já me habituei a fazer tudo sozinha, que eu me habitue também a este novo sentimento unilateral, porque ainda que não o fosse, haveria em mim coragem para confessa-lo a ela?

Operação Lobo-GuaráOnde histórias criam vida. Descubra agora