3.7 - my father is you

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Isabella
Londres

Eu tive alta do hospital no sábado e no mesmo dia embarquei de volta para Londres, acompanhada da minha mãe e do Afonso em um jatinho particular que ele fez questão fretar. Charles foi para Maranello na sexta, pois no sábado ele já tinha que estar em terras italianas para compromissos na sede da Ferrari.

Apesar de eu ter tido uma rápida conversa com a minha mãe e com o Afonso no hospital, nós combinamos de nos encontrar aqui no meu apartamento para que eles pudessem finalmente me contar o que aconteceu durante todos esses anos. Eu ainda estou melancólica por tudo que aconteceu comigo desde o acidente, e mais ainda quando me lembro que eu poderia ter morrido estando brigada com pessoas que tem uma grande relevância na minha vida.

- Acho que ele chegou - Falei enquanto me encaminhava em direção a porta e minha mãe se sentava em uma das poltronas da sala.

- Olá - Disse Afonso me cumprimentando - Eu trouxe seu chocolate favorito.

- Obrigada - Respondi pegando a sacola e dando passagem para que ele entrasse - Fica a vontade.

Era estranho ser simpática com Afonso depois de tudo que aconteceu, minha cabeça ainda estava confusa em relação aos meus sentimentos em relação a ele.

- E o seu braço, como está? - Ele disse enquanto caminhava devagar em direção ao sofá e acenando para a minha mãe, que apenas assentiu com a cabeça e se manteve calada. Aliás, nosso voo aqui para Londres foi em completo silêncio. Vez ou outra ela me perguntava alguma coisa, mas em momento algum eles trocaram sequer uma palavra, diferentemente do hospital,  que eles aparentemente estavam em paz e harmonia.

- Ainda dói um pouco - Respondi o seguindo - Mas viajo hoje a noite para o Brasil, então é bom que ele pare de doer - Falei dando risada.

- Você vai mesmo trabalhar? - Ele questionou e olhou para a minha mãe, que dessa vez balançou a cabeça negativamente.

- Eu implorei para a Elisa deixar eu ir e ela acabou deixando - Respondi - Com a condição de que eu não faça nada a mais do que o necessário...

- Mas de qualquer forma você iria com o Charles - Foi a vez da minha mãe finalmente falar.

- Sim - Respondi  - Mas é a minha chance de quem sabe cobrir a final do campeonato...

- E ver ele se tornar campeão - disse Afonso.

- Se Deus quiser - Dei um sorriso ao me lembrar de que Charles pode se tornar campeão mundial já no domingo e justamente no Brasil.

- Bom, mas acho que a conversa aqui não é sobre fórmula 1 - Ele disse mudando o tom da voz - Eu te devo algumas respostas.

- Prefiro me abstrair em relação as perguntas - Respondi - Só peço que seja sincero.

- Eu tinha 20 anos quando conheci a sua mãe lá no Brasil. Eu sou espanhol mas sempre quis conhecer la pois eu tinha um tio que morava em São Paulo e falava que aquela cidade vivia 24 horas por dia - Disse Afonso - E como eu era novo e gostava de diversão, não pensei duas vezes quando ele me convidou para morar com ele durante um tempo.

- São Paulo realmente não para - Respondi.

- E foi em uma dessas que eu conheci a sua mãe - Ele olhou para ela - Nós tivemos uma conexão incrível, mas ela sempre dizia que estava acabando a faculdade e que não queria nada sério e então nós fomos levando...e aí pouco mais de três meses depois ela acabou engravidando.

- Por culpa sua - Ela disse em um tom sério.

- É sério que você vai me culpar por ter engravidado mesmo a nossa filha já tendo 24 anos? - Ele respondeu olhando para ela e eu permaneci calada. Desde pequena minha mãe sempre falava que eu não estava nos planos dela então já cresci com isso em mente e ouvir ela falar esse tipo de coisa já não me assusta mais - Não haja como se eu tivesse a feito sozinha.

- Mas deixou que eu a criasse sozinha - Ela respondeu - Você não tem noção do quanto foi difícil.

- A senhora me deixava com os meus avós em qualquer oportunidade que tinha - Falei o que já estava entalado na minha garganta há um bom tempo.

- Quando sua mãe estava na reta final da gravidez eu recebi uma carta do meu pai dizendo que a minha mãe, vulgo a sua avó, havia descoberto um câncer terminal - Ele respirou fundo antes de continuar - E eu não pensei duas vezes antes de voltar para a Espanha. Eu sei, eu fugi da minha responsabilidade no Brasil, mas eu não poderia saber que a minha mãe estava partindo sem que eu pelo menos pudesse me despedir.

- Ela morreu? - Questionei e ele apenas concordou com a cabeça - Eu sinto muito.

- No mesmo dia que eu cheguei lá ela morreu, e eu não tive a chance de me despedir dela - Os olhos dele estavam cheios de lágrimas - E eu passei muitos meses me culpando por isso.

- E esqueceu que me abandonou grávida no Brasil - Mais uma vez minha mãe rispidamente falou.

- Eu te enviava cartas - Ele respondeu olhando para mim - Eu enviei muitas cartas para a sua mãe.

- Mas você nunca teve curiosidade de me conhecer? - Questionei.

- Eu sempre pedia para sua mãe responder as cartas com fotos, mas ela se limitava a dizer que seu nome era Isabella e só - Ele respondeu - Eu acabei entrando na faculdade de engenharia mecânica na principal faculdade de Madrid.

- Ok Afonso - Respondi me levantando - Eu acho que não quero ouvir mais nada. Não tenta justificar o injustificável- Era a minha vez de falar  - Eu entendi realmente que a sua vida era mais importante do que a filha que você deixou no Brasil antes mesmo de nascer.

- Eu fui um idiota - Ele se levantou - Eu não imagino o quanto você sofreu por passar todos esses anos sem saber absolutamente nada sobre mim. Eu parei de enviar cartas quando elas começaram a voltar para mim e então eu deduzi que sua mãe havia se mudado do local que ela morava. Se passaram quase 15 anos até que eu a reencontrasse, mas eu só fui saber que você era a Isabella minha filha no começo desse ano, depois da Isadora me mostrar uma sequência de fotos suas dizendo que ela queria ser jornalista igual a você, e nessa sequência tinha uma foto sua com a sua mãe e sua irmã.

- Então se não fosse a Isadora talvez você nunca fosse me conhecer? - Questionei.

- Eu estava determinado a te encontrar e sua mãe sabia disso - Ele olhou para ela, que permaneceu calada - Eu quero que você saiba que eu sei que nada do que eu disser aqui vai ser capaz de apagar todo o estrago que eu fiz na sua vida - Ele segurou a minha mão esquerda - Mas eu estou determinado a compensar todo o tempo perdido,mas vou entender se você não quiser.

- Quando eu te falei no hospital que eu aceitaria ter você na minha vida, eu estava falando sério - Dei um sorriso - Eu não te garanto que de cara eu vá ser totalmente aberta a compartilhar tudo da minha vida com você, até porque você ainda é praticamente um desconhecido...mas acho que com o tempo vamos nos tornar grandes amigos...e temos algo em comum.

- Amamos fórmula 1 - Ele sorriu - Posso te abraçar?

Eu apenas assenti e retribui o abraço. Era a primeira vez que eu abraçava o meu pai. Era a primeira vez que eu recebia um abraço do meu pai. Eu esperei a minha vida toda por esse momento, e por mais que essa história ainda doesse em mim, daqui para frente eu estava determinada a colocar uma borracha no passado e aproveitar todos as oportunidades que a vida pode me dar de estar junto dele.

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Post para finalizar essa parte da história da Isa com o Afonso.
A querida perdoou ele e vai viver a vida daqui para frente sabendo que tem um pai, que por mais a tenha abandonado, estava determinado a compensar o tempo perdido.

Esse é o antepenúltimo capítulo da fic 🥹
É provável que até domingo eu termine...

bjs
take care ❤️

don't let me go | Charles LeclercOnde as histórias ganham vida. Descobre agora