capítulo 7

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Passamos pela porta da cozinha e a bagunça já estava toda em cima da bancada e da mesa. Uma chapa de ferro se encontrava em cima do fogão, o alemão estava encostado na bancada vendo algo no celular, Gabriel e o Marasato estavam "organizando" os ingredientes em tigelas de vidro.

- que bom que entraram, a gente já vai começar a fritar os hambúrguers, o bacon e o queijo aí vcs já montam seus lanches - Gabriel falou sem tirar os olhos das tigelas a sua frente

- e que bom que vocês chegaram, eu já tava morrendo de fome - coiote falou de uma forma dramática

- e eu to morrendo de vontade de saber o que você está fazendo aqui, pelo que ouvi era pra estar bem longe - marasato disse em um tom afiado, pelo visto a briga entre os dois permanecia. Mesmo depois de tanto tempo sem se ver, ainda sim o odio que um sentia pelo outro era quase palpável

- eu vim porque aparentemente tem alguns incapazes de fazer o seu serviço e precisam de alguém que seja apto pra realizar qualquer trabalho - aquelas palavras de alguma forma haviam machucado marasato mas ele não se deixou abalar, deu as costas a nós e voltou a picar os tomates que estavam a sua frente

-vocês deviam se resolver em vez de ficar discutindo por coisa idiota - falei passando por eles e me sentando em uma baqueta que estava disposta no balcão

- e qual seria a graça das reuniões? - alemão perguntou sem nem tirar os olhos do celular

Pude perceber um brilho de raiva passar pelos olhos do coiote, mas ele apenas passou pelo alemão, pegou alguns pratos e começou a abrir os pães.

- e a gente vai apenas ficar sentado comendo, ou vamos fazer alguma coisa? - Gabriel se virou para perguntar a ninguém em especial

uma nova discussão começou, agora sobre o que fariamos mas minha mente já estava longe. Talvez Erick estivesse certo, talvez eu devesse ir atrás do tenente, mas não devíamos tirar conclusões precipitadas, porém por um lado ele estava certo, seria bom ter uma segunda opção.

E talvez eles não vão gostar quando descobrirem que eu tenho uma terceira opção, mas a regra é clara, sempre estar um passo a frente de todos não importa quem seja.

De repente a cozinha ficou muito barulhenta, todos falando ao mesmo tempo, rindo juntos, uma música saia de uma pequena caixa de som que fazia barulho no canto do balcão. Eu precisava sair do meio desse caos o mais rápido possível.

Me levantei e sem disser nada subi os degraus um a um ainda perdida em pensamentos, eu não queria acreditar que nosso pai estava tramando algo, mas a essa altura tudo era possível.

Entrei no meu quarto e fechei a porta atrás de mim, atravessei o quarto já decidida no que faria, eles sabiam quem havia queimado a minha balada e me mostraram uma foto, isso era tudo que eu precisava.

Abri meu closet e adentrei a procura das minhas antigas roupas, a muito tempo não usava um vestido de baile, um chapéu grande ou uma roupa justa.

Coloquei uma calca, uma regata e uma bota de cano alto. Passei meu coldre pela cintura e já encaixei minhas pistolas gêmeas com seus silenciadores, uma de cada lado, ao lado delas munições, e no limite da minha bota coloquei minha adaga, o cabo preto com pequenos cristais da mesma tonalidade, quase se camuflavam em minha bota.

Olhei para o fundo do closet e lá estavam, minha jaqueta dobrada em cima de uma pequena mesa, acima dela, em um expositor, minha katana, meus dois leques e minha máscara, montados como uma mausoleu para cigana. Depois do dia em que os deixei, eu me tornei apenas a Katerina, nunca imaginei que um dia sería novamente a cigana.

Respirei fundo, depois que vestisse aquela máscara não tinha mais volta, meu destino estaria selado novamente. Coloquei a jaqueta, e peguei minha katana, subi um pouco acima da bainha até a lâmina dar seu primeiro sinal de luz.

Coloquei novamente a arma a minha frente dentro de sua bainha e encaixei nas minhas costas, então peguei a máscara. Estava na hora de aceitar minhas origens e de mostrar meu verdadeiro dom.

Amarrei a máscara no meu braço e peguei o capacete vermelho. Sai do quarto da forma mais silenciosa possível, deci as escadas e fui em direção a porta principal, todos estavam na cozinha, seria fácil sair sem ser vista.

Peguei a chave da minha moto ao lado da porta e sai em direção ao ar frio do outono, e simples assim eu saí sem ninguém me ver. Abri o portão da garagem e adentrei em busca da minha  Suzuki intruder M1800R.

- procurando por isso? - a voz do Alemão soou em meio ao veículos olhei na direção em que o som vinha e o encontrei encostado na minha moto - sério que você achou mesmo que ia sair sem ninguém perceber?

- eu não preciso que vocês não percebam, eu só preciso que não me sigam - encaixei meu capacete na cabeça e abri a viseira

- e o que pretende fazer? Sair a caça?

- por mais que não seja da sua conta o que vou fazer, eu estou indo esfriar a cabeça, preciso de um pouco de silêncio - isso deveria ser o suficiente pra ele entender que eu queria ficar sozinha

- quer que eu vá junto? - um brilho diferente passou por seus olhos, mas logo sumiu quando balancei a cabeça negativamente

Ele apenas respirou fundo e se afastou dando espaço pra que eu subisse na moto e ligasse o motor.

- não faz nada que possa se arrepender depois - a voz dele passou por cima do som da moto me fazendo olhar para o seu rosto novamente

- eu não me arrependo das coisas que faço - exclamei fechando a viseira e saindo da garagem em direção ao pouco de sol que conseguia passar pelas nuvens.

A estrada seria longa, motivo pelo qual adorava morar no meio do nada, dava pra pensar direito no que faria até que conseguisse chegar a qualquer lugar civilizado. Com a paisagem da pequena estrada rodeada de árvores já com folhagem de outono, eu sabia que os pensamentos me consumiram o caminho todo.

Herdeiros Do Submundo Where stories live. Discover now