Subindo a bordo

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 A quarta-feira começou agitada para ela, que mal teve tempo de registrar as últimas horas de descanso. Ainda na noite anterior recebeu a moção de seu caso, infervencendo-se em raiva. Mas era claro que ela faria isso. O combate estava travado a alguns anos sempre carregado de orgulho, prepotência, ambição e desprezo. As disputas eram no mínimo acirradas. 

 Apressando cada vez mais o passo pelo corredor vazio, o cheiro de limpeza e os azulejos eram sua companhia. O prédio estava em seu primeiro plantão, os colaboradores começando a chegar no lugar.

Exceto por ela.

Mon sabia que no momento em que chegasse ao seu destino, sua adversária estaria ali. Com as luzes do escritório acessas e um baixo e rítmico digitar das teclas. Quando Mon abre a porta furiosamente, não foi nem preciso erguer os olhos da tela para saber quem era o intruso.

– Às nove da noite, Anantrakul? – a mulher baixa e elegante pergunta furiosamente ainda no batente da porta.

– Olá para você também, Petchpailin – a outra responde sem desviar os olhos da tela do computador – E nós duas sabemos que você estaria no escritório de toda forma.

– Não ferra comigo Sam, olha a moção que você me enviou! Acha que sou uma otária?

 Nesse momento os olhos castanhos escuros observa atentamente a mulher parada a alguns passos de sua mesa, a saia em xadrez europeu combinando com o casaco marrom e o coque apertando seus cabelos. Cruzando os braços sobre a mesa ela apoia o queixo sobre as mãos.

– Quer mesmo ouvir a resposta, Kornkamon? 

– Anantrakul... – sai um rosnado em aviso.

– Para ser sincera, acho justo todos os pontos da petição. Confesso que argumentei com a procuradoria o tempo de sentença e foi o melhor que consegui – como se estivesse cansada da conversa a morena da de ombros se recostando na cadeira.

– O melhor? São a merda de oito anos sem condicional ou prestação de serviço, Sam. Ele é apenas um menino.

– Filho de estrangeiros que não respeita as próprias leis, se fosse em qualquer outro país ocidental ele já estaria preso.

 O silêncio corta como uma faca. Se pudesse matar alguém com os olhos, Mon precisaria usar seu réu primário com a mulher sentada relaxadamente atrás da mesa de madeira.

– O dever e a fome de sempre estar com a razão, precisa mesmo estar acima de qualquer coisa? – ela questiona erguendo o queixo, se preparando para a batalha que estava para emergir.

– Leis e justiça precisam ser mantidos a tudo e a todos e,  se esse é o trabalho da promotoria, então com prazer darei o meu melhor para cumprir – a resposta vem de forma fria.

E ali estava: rival contra rival. Olho no olho, armaduras encaixadas e a tensão explosiva expandia os nervos. Cada vez que se enfrentavam em um tribunal o prêmio aumentava entre elas. Quem seria a próxima vencedora? Ou quem seria a primeira a acionar o gatilho da bomba? 

Mon estava pronta para rebater, sua fúria contida martelando seu coração. Contudo, antes mesmo que pudesse dizer a primeira palavra, a morena se levanta da mesa revelando seu belo conjunto de saia tubo midi e uma blusa de botão preta, conjunto que não passou despercebido pela mulher mais baixa.

– Por mais que adoraria debater todo meu ponto de vista, senhorita Petchpailin, tenho outros casos em mãos e meu tempo está contado – ela rodeia, parando em frente a mesa se recostando na tampa sob a mira de Mon – Devo lembrar que temos uma audiência pré-julgamento sexta pela manhã onde você poderá argumentar o quanto quiser... Até lá, os termos da moção estão abertos apenas para estudo e análise junto do cliente.

Sentença Final - o jogo proibidoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora