Qui Vigilat in Obumbratio

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O DELEGÁVEL ESPÍRITO DE CONFRATERNIZAÇÃO espalhou-se pelo recinto dominado pelo silêncio devoto — uma atmosfera de cumplicidade e calmaria que embalava os presentes

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O DELEGÁVEL ESPÍRITO DE CONFRATERNIZAÇÃO espalhou-se pelo recinto dominado pelo silêncio devoto — uma atmosfera de cumplicidade e calmaria que embalava os presentes. No apogeu da tarde, o sol a pino em um céu límpido, as freiras se reuniam religiosamente para compartilhar pequenas tarefas com propósitos caritativos e incentivar nos corações mais jovens a força de vontade para se absterem de noções egoístas instruindo as noviças no ofício da costura para a confecção de bordados e ajustes de peças de roupas para doação: uma função nobre para prover aos mais carentes.

Sob a tutela de membros mais experientes do convento, as moças acabavam se atrapalhando em alguns pontos e cometendo erros pequenos durante o processo de aprendizado. Apesar da boa educação que recebera conforme crescia, sobretudo pela criação abastada, Diva nunca fora proficiente no que tange serviços manuais que exigiam muito mais paciência e treinos contínuos para aperfeiçoamento. Possuía excelentes habilidades na cozinha, podia cortar ingredientes em pedaços tão diminutos que se orgulhava de tal destreza doméstica, contudo, ao segurar uma agulha quaisquer traço competente da coordenação motora de seus dedos simplesmente desaparecia, substituídos por movimentos desajeitados e incertos que se traduzia em um resultado menos que satisfatório.

Diva suspirou frustrada ao espetar, pelo que parecia a centésima vez, o dedo ao realizar um remendo mais modesto do que o modelo proposto. Costurar demandava técnica e refinamento constante, sendo uma arte no qual não somente une peças de tecidos como também criar padrões de desenhos e outras finalidades que tornam a atividade uma maneira eficaz de ocupar a mente e as mãos — e imprescindivelmente por a prova uma das principais virtudes de um ser vivo. Sem perder muito tempo com lamentações que limitavam seu desempenho, refez que tinha criado com cuidado para não danificar mais o pano, pensando em como deveria consertar adequadamente. Reproduzir uma pequena colcha com igual perfeição seria árduo, porém estava disposta a testar até ver seu limite.

— Segurando assim as chances de erros são bem maiores. — uma voz familiar chamou sua atenção. Diva ergueu ligeiramente a cabeça para encontrar o olhar metódico de Cass sobre si, não existia julgamento ou desdém pela sua inaptidão por trás do semblante sereno da freira. — Você está segurando a agulha como se fosse um garfo. Não precisa usar os quatro dedos — Cass auxiliou-a para suster o fino instrumento com a quantidade mais prática de dedos. — Assim é melhor. Insira a agulha e puxe a linha com menos pressão, então você une a outra ponta. É difícil no começo, mas com treino vai conseguir pegar o jeito.

— Oh, obrigada. Se eu furasse mais meus dedos, não teria como prosseguir. — corou levemente, embora bastante agradecida pela ajuda prestada.

— Vá no seu ritmo. Só cuidado para não picar de novo.

Observou a freira se dirigir a outra noviça para oferecer assistência.

Retomando de onde parou, Diva seguiu o conselho de Cass e conseguiu executar, com precisão, a finalização nas laterais da colcha. Sorriu por não ter falhado novamente e não ter mais se ferido para, enfim, concluir o que lhe fora designado.

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