Penúltimo Capítulo - Arilia

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- Luiza, e esse é meu último pedido, me morda, vou acabar com toda essa merda.

- Sabe o que mais me dói nisso tudo? - Ela falara me olhando fixamente, - não posso sentir seus lábios novamente. - Luiza puxou minha mão e cravou seus dentes sobre meus dedos. Soltei um cronometro no meu relógio marcando exatamente três minutos até eu virar um deles.

Meu corpo ficou quente no mesmo instante, mas não importou o que sentia. Era só esperar a luz descer. Marcos André correu até onde estávamos e gritou desesperado quando viu a cena, pareceu não acreditar, com violência me segurou pelo colarinho da camisa, fazendo meu corpo se levantar e deixar Luiza ao chão.

- Não Nicolas, você não!

- Vai ficar tudo bem, meu amigo. -Berrei e me soltei dele, olhei para o céu, segurei firme minha mochila e antes da luz me atingir, disse olhando para Luiza. - Obrigado meu amor, eu farei uma promessa para você, vou acabar com o que eles começaram! Marcos André, retire a Luiza da luz e leve-a com você mesmo infectada, por favor diga a minha família que sempre os amarei. - Coloquei a mão no meu bolso lembrando de algo importante.

- Nicolas isso é um erro, não tem como entrar nas naves, já tentamos de tudo. - Marcos continuou gritando e sorri para meu primo.

- Olhe tenho outro pedido, está um pouco rasgada e amassada por ter sido molhada, mas leve essa foto para a esposa Joana e a filha Isabel de Jhonatan, foi o último pedido dele, isso é muito importante, procure-as na Base, tenho certeza que estão vivas e seguras, gostarão de ver que Jhon lembrou delas no fim da vida.

Joguei a foto ao chão, vendo-a cair me fez lembrar de muita coisa. Passei por tantas coisas difíceis, vi tanta gente morrer em minha frente. Amigos que fiz para toda a vida serem esquartejados, sangue senti respingado por todos os cantos. Tudo que lembro desse incidente é medo, pânico, desespero... A Luz caiu sobre meu corpo. Não consegui descrever o que foi aquilo. Meu corpo esquentou como se houvesse sol, meus braços foram posicionados para baixo sem minha ordem, olhei para Luiza que era levada por Marcos André pela última vez antes de apagar em uma hipnose desconhecida.

Me senti intrépido, forte e capaz, a luz me fez enxergar coisas maravilhosas, mas sabia que eram apenas miragens. Vi em minha frente uma bola azul. A mesma bola que ganhei quando era criança, ela ia percorrendo um campo gramado, enquanto meu pai chutava ela para mim. Na grama verde um lençol florido, - nossa eu odeio aquele lençol, mas minha mãe adora. - Ela estendia e minha irmã colocava as coisas para comermos, um enorme piquenique se estendia sobre aquele céu azul. O mundo era quente, próspero, feliz e harmonioso.

Léo balançava Caroline em um balanço feito de uma corda com um pneu velho. Olhou para mim e seus pensamentos estavam unânime aos meus. Sorri ao ponto de gargalhar, uma voz me chamou. Vinha detrás de uma árvore velha com folhas esverdeadas. Andei na direção da voz, chegando mais perto reconheci no ato e quando viro o tronco meus olhos se arregalam na imagem divina que presenciei. Luiza segurava em seus braços um bebê, recém-nascido.

- É nosso filho Nicolas. - Chorei, pelo pseudo que estava vendo. Tudo era mentira. Luiza está morrendo, eu estou morrendo, meu pai morreu e Léo está perdido pelo mundo devastado.

Senti meu corpo molhado, abri os olhos e minha vista ainda embaçada não reconheceu o lugar. A água era rala, - não espere! - Isso não me pareceu água, era viscoso e denso. Sangue? Saltei de onde estava ficando em pé. Assim podendo perceber que ao meu redor centenas de Zoens me cercavam, mas não se mexiam, pareciam estar em um estado de transe. O ar daquele lugar me fazia sentir repulsa, era denso e o gosto de sangue era tremendo. O odor devastador, cheiro de carne podre, de decomposição, haviam Zoens sem pele, sem partes do corpo, pareciam que estavam se desfazendo pelo tempo que os corpos estavam mortos. Ergui a cabeça, o que vi foi um lugar de dezenas de metros em uma circunferência aguda, como se estivéssemos em um casulo gigantesco. Andei entre os Zoens com cautela de não esbarrar em nenhum deles, o lugar era escuro e com uma luz vermelha sobre nossas cabeças. A cúpula grande parecia ser feita em uma estrutura de ferro, mas o ferro era diferente, em certos pontos se mexia, nunca havia visto coisa mais estranha. Parecia até mesmo que as paredes respiravam. Curioso coloquei minha mão sobre a superfície do material desconhecido, me assustei quando a parede mexeu em ondulações. Ao levar a minhã mão a altura de meus olhos me lembrei do que tinha que fazer, meus olhos foram direcionados ao meu relógio de pulso que marcavam um minuto e dezessete segundos até o vírus Zoen infectar meu corpo. Pareciam que horas haviam passado, mas em segundos fui sugado para dentro da nave deles, agora percebo. Os Zoens que estão aqui dentro permanecem em transe, dentro desses corpos podres ainda existe um resto de alma, eles acreditam estarem vivendo uma realidade falsa, eu só acordei por que o vírus não me atingiu, que desumano.

Livro I - Nuvens de SangueWhere stories live. Discover now