Capitulo IX-"Aegon de Tetas"

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Fazia algum tempo desde a última vez que Aemond havia sonhado. Desde que foi arrancado da terra dos mortos, experimentou raríssimos momentos de paz. Normalmente, sua consciência era atormentada pelo remorso: de ter abandonado sua família, de ter sido a causa primária pela qual a dança dos dragões aconteceu, de não ter se despedido de sua senhora, Alys, adequadamente.

Tantos eram os motivos que não o deixavam dormir à noite. Entretanto, quando seu caminho cruzou com o de Daenerys, quando recebeu um propósito honesto para remendar seus erros, estes pesadelos diminuíram consideravelmente. Até que se apaixonasse por ela e esquecesse suas ambições em prol da bela rainha exilada, ele não conhecia realmente o amor. E a obsessão e a luxúria que um dia o ligaram à Alys Rivers cessaram de uma vez por todas.

Aquele era um sonho diferente. Transmitia paz, serenidade e tranquilidade, tudo aquilo que Aemond raramente desfrutou. Cercado por jardins cheios de rosários e uma variedade de flores, em seu meio o príncipe via uma fonte sobre a qual repousava uma estátua de um casal apaixonado.

Virou-se. De onde estava, avistava edifício erguido em pedras, diferente da Fortaleza Vermelha. Intrigado, se dirigiu a ela, cruzando um labirinto verde antes de lá chegar. E assim que pesadas portas de ferro se abriram quase automaticamente no instante em que parou diante delas, Aemond se deparou com uma corte tranquila.

Todos o aguardavam. Amigos e parentes. Todos sorriam a ele. Da abobada, pendia lustre cheio de velas que iluminavam grande salão. Aemond teria se emocionado, desacostumado a se encher de emoções, a senti-las individualmente ou em turbilhões.

Contudo, um rapaz parou na sua frente. Para seu horror, era o filho de sua irmã, Lucerys. Constrangido, Aemond o fitou em silêncio.

"Para construir um novo futuro", disse o espectro de Lucerys Velaryon, "é preciso estar em paz com seu passado."

Aemond engoliu em seco. O som alegre que o tinha recebido pareceu aos poucos desaparecer. Era como se esperassem pelos próximos passos do príncipe.

"Não deveria ter acontecido", Aemond enfim admitiu. "Era... Era para ser um susto somente. Eu..."

Feridas da velha infância que nunca se cicatrizaram. De abandono, de amor, da busca incessante por aprovação que o fizeram ser quem foi.

Ele não se deu conta do quanto chorava. Culpava, sempre culpou, seu pai pela negligência. Como Aegon, um dia se perguntou se era digno de ser amado ou de conhecer o amor. Tal como seu irmão mais velho, nunca lidou muito bem com a rejeição do pai.

E por conta disso, uma guerra civil começou.

"Está tudo bem", disse Lucerys, colocando uma mão sobre o ombro do outro. "Eu o perdoo. Fomos tolos. Mas este é um erro que não pode acontecer novamente e você sabe muito bem por que."

Apesar da reconciliação, Aemond não sentiria paz verdadeiramente até que coroasse Daenerys. Se ele começou uma disputa sangrenta, seria quem colocasse um ponto final nela, ainda que as circunstâncias fossem diferentes.

"Não mereço seu perdão, mas agradeço. Sei o que devo fazer."

Lucerys aquiesceu. Deu um último apertão sobre o ombro de Aemond antes de sorrir:

"Há mais alguém que deseja falar com você, Aemond, e reparar os erros do passado."

Aemond arqueou uma sobrancelha, mas assim que Lucerys se afastou, encarou perplexo Viserys Targaryen vir em sua direção.

***
No entanto, Aemond não era o único que precisava lidar com seu próprio passado. Daenerys se defrontava com o seu, forçada a reconhecer que uma sucessão de erros de seus ancestrais contribuiu para que Aerys II fosse deposto e morto.

A Ascensão dos DragõesWhere stories live. Discover now