Capítulo II--Da Tormenta, A Esperança

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Daenerys despertou mais cedo do que o costume, atormentada com estranho sonho que a impediu de dormir tranquilamente. Era muito parecido com a vez em que estava nas Cidades Livres e tinha passado por várias portas, abrindo algumas delas, nas quais se deparava com cenários e figuras que fizeram parte de sua vida.

No entanto, não era com um trono de ferro sob pesada neve que sonhava, nem com o príncipe Rhaegar cantando sobre o Príncipe Prometido enquanto embalava seu filho, Aegon, nos braços. Era, todavia, com dragões que dançavam nos céus escuros. Rhaegal e Drogon voavam em círculos, um mergulhando sobre o outro. Parecia que se atacariam, mas, ao contrário, alinhavam-se em um único ataque dirigido ao rei da Noite e ao dragão que costumava ser Rhaegal, e agora era apenas uma montaria de gelo, usurpada por tal criatura maligna.

Dos círculos de fogo cuspidos por seus filhos, porém, outro cenário catastrófico foi-lhe mostrado. Neste, Daenerys via belo rapaz de cabelos compridos e feições valirianas-um parente, por certo, lembrava de ter pensado-montado em gigantesco dragão, este possivelmente com o dobro do tamanho de Drogon, enquanto portava afiada espada. Usava um olho cristal onde deveria estar seu olho comum, e seu grito era ensandecido, carregando terror enquanto caía...com uma espada atravessando esse mesmo olho.

Não era uma cena bela de assistir e quando Daenerys despertou, sentiu sobre seu coração um aperto que quase a sufocou. Levantou-se de sua cama e, sem esperar pelas aias, trocou seu camisolão por um vestido mais quente--afinal, o inverno havia chegado--de veludo vermelho. Deixou as madeixas soltas e manteve-se descalça.

Seus aposentos pareciam acompanhar o frio daquela estação. Mesmo a lareira, que agora queimava baixo, não era capaz de fornecer o calor que ela precisava.

Ao olhar através da janela, Daenerys contemplava as ondas que, tão distante do castelo que um dia sediou os conquistadores, ricochetavam contra as rochas. Podia ver a chegada de Daenys, a Sonhadora, e seus familiares à Pedra do Dragão, cem anos antes da queda de Valyria, como se desenrolasse sob seu olhar.

Pergunto-me se ela teria previsto também a chegada da Conquista de Aegon e da Grande Noite. Não me parece que seus sonhos traziam algum conforto como os bardos deviam retratar e os meistres, recontar.

Mas o vislumbre da corte Targaryen atravessar aquelas ondas enquanto a família voava sobre seus dragões, se dissipou tal qual névoa que se dispersa aos primeiros raios do sol.

Daenerys pensava em Jon e na sua traição. A deslealdade dele não se tratava na cópula com outra mulher, mas no interesse em seus dragões, no afastamento de seu coração do dela, na preferência da companhia dos selvagens que a desdenhavam--e em momento nenhum, ele a defendeu. Mesmo quando Sansa, sua irmã, a desprezou, Jon silenciou.

Era por aquelas ações que doíam seu peito e faziam surgir lágrimas aos olhos. Talvez sofresse pela ideia que tinha feito dos dois juntos: uma união que coroaria a dinastia Targaryen em seu pleno triunfo quando, após a infindável guerra contra o Rei da Noite, reconquistassem os sete reinos.

Me acostumei com a dor e fiz dela meu conforto. Não me lembro de ter sentido paz fora do caos.

E o que doía mais era concluir que não o tinha amado. Foi uma fraqueza sua entregar-se a alguém como ele, mas quem poderia culpá-la?

Ele tinha me oferecido conforto, consolo para tudo o que eu passei. Encorajou-me a ser uma versão melhor de mim. Mas, aproximando a tempestade, não consegui chegar até ele. Nunca atingi seu coração, nem obtive acesso à alma. Aquele não era um verdadeiro Targaryen.

Daenerys afastou as lágrimas dos olhos, aceitando o peso de ser a única Targaryen neste mundo. Era uma dor perigosa, uma constatação amedrontadora. Mas, enquanto permitia que a memória de Jon Snow se esvaisse, que o luto se revelasse, ela voltava a se fortalecer.

A Ascensão dos DragõesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora