Virei-me feliz ao entrar na pequena confeitaria, não pelas atitudes de Dom, mas sim pela ideia de saborear várias sobremesas. Tive vontade de rir ao subir os degraus, adorava doces. E no momento apenas eles eram capazes de apaziguar meu humor confuso. Bastou um bolo de morango para imediatamente me fazer feliz como uma criança com seu docinho.

À mulher na mesa ao lado ficou me fitando, o brilho no seu olhar era egocêntrico e arrogante. Alternando entre mim e meu abdômen, quando nossos olhos se encontraram, dei o dedo do meio para ela, de forma discreta, claro.

Permitindo apenas que ela percebesse meu gesto obsceno, e quando ela se deu conta do que eu estava fazendo, dei a ela um sorriso petulante. Fazendo-a se levantar furiosa e ir embora, cochichando ofensas.

Anne chegou um pouquinho atrasada na confeitaria, ela disse que foi o monstruoso trânsito da cidade que às dez da manhã já estava um caos. Pedimos várias sobremesas e salgadinhos para comer enquanto discutíamos sobre detalhes das cores, de alguns móveis e dos gastos para a decoração do apartamento.

— Como já definimos o estilo, temos que escolher uma peça chave em cada ambiente — Anne comentou. — É nela que você vai imprimir sua personalidade e características do seu estilo, um jeito de colocar um pouco da sua personalidade em cada cantinho e isso vai deixar o ambiente cheio de estilo e identidade! — A mulher estava feliz, parecia que estava redecorando o seu próprio apartamento, vi que não fiz a escolha errada. — Qual cores você quer?

Não a respondi logo de início, minha boca estava cheia de bolo, mastiguei com calma para poder respondê-la. Depois bebi um pouco de vitamina para ajudar a digerir mais rápido.

— Estava pensando em amarelo, os vários tons de amarelo que têm. Eu pessoalmente tenho preferência por cores claras e vivas — expliquei.

— Atualmente, há muitos projetos decorativos com tons de amarelo. Essa cor conquistou relevância e está presente na montagem de salas, quartos, cozinhas e até banheiros — ela balbuciou enquanto bebia seu suco. — O amarelo é perfeito para iluminar o ambiente e dar um toque de vivacidade.  É uma boa ideia, também gostei.

— Mas eu não quero um amarelo "ousado", quero uma cor mais aconchegante, e casual. Temos que entender o significado da cor, e analisar as combinações... vamos ver algumas fotos como exemplo, tudo bem? — Ela concordou, comendo alguns salgadinhos.

— Li que o amarelo combina com uma série de cores. Temos que ver quais combinações vão te agradar! Geralmente, fica perfeito com opções mais neutras, já que é essencialmente vivo e vibrante. — Neste ponto nós dois concordamos, e voltamos a comer a cada pausa que fizemos.

Anne e eu passamos o dia assim. Depois que nosso encontro terminou às oito e vinte da noite, eu e ela arrumamos nossas coisas. Eu estava pronto para ir para casa comer meus pasteizinhos que Dom disse que traria para mim, mas não estava muito confiante de que ele realmente faria isso. Ele não é muito confiável, disso eu sei. Apesar dele ser responsável para certos assuntos.

Já estava escuro lá fora. As luzes fracas da rua pareciam ter coberto o mundo como uma rede invisível. Eu não estava familiarizado com aquele bairro, mas disse para Anne que estava tudo bem em ir sozinho. Mesmo depois de sua insistência, eu a convenci de que estava tudo bem, mas... depois de andar sem nenhuma noção de direção, me deparei com uma rua urbana desconhecida. Vazia e sem ninguém por perto, não tinha carros ao redor e muito menos casas ou posto de gasolina.

Cocei meus cabelos castanhos, percebendo que estava cercado por árvores na beira da estrada. O exuberante volume de folhas das árvores cobriu cada raio de luz e alguns postes haviam se apagado, enquanto a escuridão me cercava. O ar estava completamente frio e o lugar estava silencioso, estava perto de um cruzamento, mas não tinha nenhum ponto de ônibus.

Era possível ouvir o rangido dos meus passos hesitantes sobre o asfalto e o barulho do vento colidindo contra as folhas, via as sombras escuras dos galhos se movimentando conforme o vento os conduzia. Sentir que o mundo estava estranhamente absorto ao silêncio enquanto ouvia o vento soprando as folhas.

Não gostei do ambiente, mas continuei seguindo em frente. Afinal, tinha que encontrar um ponto de ônibus logo.

Estava tudo muito quieto. Senti um calafrio de repente. Tratei de ir embora dali imediatamente, apenas para ouvir uma voz estridente ao fundo. Parecia que alguém estava pisando nas folhas, criando um som de esmagamento. Os passos estavam lentos e conforme acelerei os meus passos o barulho de passos que vinha detrás de mim fizeram o mesmo.

— Há alguém aí? — Parei e olhei em volta, me sentindo aturdido. Apesar disso, não houve resposta e não havia ninguém andando atrás de mim.

Ao longe, uma sombra deformada se fez visível entre as árvores, era grande e obscura, muito sinistra. Não tinha como ser um humano, era medonho demais.

Fantasmas são imaginários; algo em que os humanos acreditavam durante os tempos mais primitivos e supersticiosos... certo?

Foi definitivamente assustador ver tal figura naquele lugar extremamente silencioso e isolado. Os ruídos estavam se aproximando, as batidas do meu coração dispararam e era possível sentir a velocidade que ele estava usando para bombear o sangue pelas minhas veias, meu estômago estava agitado.

Decidi caminhar em direção para onde havia luz, quando tomei coragem e finalmente olhei para trás mais uma vez, me dei conta de que meu perseguidor era peludo e feroz, com três patas velhas e desgastadas. Isso me fez soltar todo o ar dos meus pulmões, suspirando exageradamente.

Era um pequeno felino de rua, um gato aleijado que estava ensanguentado e sua sombra havia diminuído. Ele me observava esperançoso. Passei um curto tempo olhando para ele e então olhei ao redor e para as vegetações enquanto tentava me acalmar.

Tomei a decisão de ir até ele naquela área cheia de árvores e bancos de concreto. Para dar-lhe alguma coisa, se é que havia restado algo dentro das minhas coisas.

O sangue no animal parecia fresco, porém, o animal não tinha vestígios de ter sido atropelado. O sangue não parecia ser dele. Isso me fez levantar as sobrancelhas franzindo minha testa quanto ao quê ou de quem pertencia o líquido vermelho.

No entanto, quando voltei a andar para ir até ele... foi apenas para tropeçar em algo e cair no chão.










Betagem por:Arabella_McGrath

A Década Depois Da PrimaveraΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα