Um enorme clarão resplandece em meus olhos. O corpo de Alan se altera para uma densidade eletrificada e brilhante. Seus punhos repelem um barulho metálico, proveniente da bala disparada contra ele. O braço dele está basicamente preenchido por plasma, que se agita em grande aleatoriedade.

Em um movimento que surpreendentemente não faz barulho, Alan desfere um soco contra a parede, em direção ao guarda. Uma quantidade absurda de ondas ionizadas é repelida em sua pequena cabine. O rifle cai de suas mãos no chão, ele se contorce de medo, mesmo não sendo acertado por meu irmão.

— Qual foi, comédia?! — Os raios se fortalecem, causando uma breve cegueira em mim — Você vai ficar calado aí enquanto eu estiver falando, ouviu?

Alan pega em um dos bolsos da sua calça um recipiente com um líquido vermelho brilhante. Host. Faz poucos meses que os agentes da Fulehart infiltrados na cidade nos contaram sobre a venda disso como uma droga estimulante e depreciativa para alguns puros. Mal sabem eles o quão forte isso pode ser. Digo isso por experiência própria.

Agora mesmo, estou sentido uma vontade quase que insaciável de roubar aquilo.

Os olhos de Calleb tremem, sei como é ter necessidade dela, mas não sou desse nível tão extremo. Eles têm um sistema imunológico mais fraco, devido à falta de treinamentos diários para se acostumar com uma droga pesada que nem a Host.

Alan abre a tampa do recipiente e obriga Calleb a engoli-lo. Ouço o homem engasgar, mas meu irmão o obriga a ingerir a substância. Consigo ver imediatamente as suas veias incharem, seu rosto adquire uma coloração vermelho escarlate ao mesmo tempo que sangue escorre pelo nariz.

É assim que eu me pareço quando uso a Host?

Alan faz fricção com os dedos da sua mão direita, criando pequenos raios de plasma. Enquanto ele tem uma das técnicas mais fortes da Fulehart, eu tenho que me virar com um cadarço.

— Como ousa, seu merda? Não encoste sua mão podre em mim! Eu...

— Eu não recomendaria você falar a palavra "duvido" agora.

Em um movimento rápido, Alan põe seu dedo indicador com leveza sobre a testa de Calleb. Faíscas deslizam ao decorrer de sua pele e se juntam no ponto de pressão no seu rosto. O homem apaga de imediato.

Quando ele se vira para nós, sua cara se desmancha em um simples sorriso.

— Foi rápido, né?

Nós quatro estamos com assustados com o que acabou de acontecer. Estamos boquiabertos enquanto Alan não entende bem o porquê de estarmos assim.

— Não sabia que você sabia fazer retalhações assim. — Diz Toli — Da próxima vez, vou pedir aulas de intimidação com você, e não com a Crystal. Ela não ajuda muito.

— Você deu mesmo a Host para ele? Confia mesmo nesse cara? Quando ele acordar, ele vai dedurar a gente!

Alan ri um pouco.

— Ele morrerá daqui a algum tempo. Depois dele ingerir a Host eu desferi uma descarga em um ponto vital, é questão de minutos até ele ter um acidente vascular cerebral. O corpo dele não aguenta. Quando vierem investigar, sua morte será identificada como uma sobrecarga no sistema nervoso por overdose.

Somente de ouvir este nome, sinto calafrios. Literalmente. Apesar da alta, ainda não me sinto completamente preparado para situações de combate.

— Você sabe fazer torturas? Tipo, eu sei algumas, mas não tantas. — Toli fica animado.

— Sei umas vinte diferentes, eu posso...

— ME ENSINA! — Ele quase grita a ponto de superar o barulho do campo.

— Cala boca, Toli. — Noah se levanta e vai em direção a Alan. Não é típico ouvi-lo mandar os outros fazerem silêncio de forma tão bruta. — Podemos entrar no campo?

— Vamos.

Entramos por um portão coberto de arame farpado. O ar fica imediatamente pesado, a vista da fábrica saindo fumaça me dá a impressão de que há pessoas sendo queimadas ou inalando o gás toxico. Aprendemos no caminho como nos disfarçar de prisioneiros, ficaremos de cabeça baixa e não falaremos nada. E foi exatamente isso que fiz, e deu certo.

— Bora! — Outro homem, agora mais forte, provavelmente mais novo do que o outro e fardado com um uniforme branco com detalhes dourados, chega perto de nós. — Adiantem, seus podres! Vão direto para a fábrica!

Seu pedido é uma ordem, senhor algodão-doce. Se bem que isto é uma ordem... tanto faz. Fomos direto andando para a fábrica. Temos que ficar meio corcundas, para pensarem que apanhamos.

O cheiro de fumaça é extremamente evidente aqui, parece que tudo fica cinza quanto mais andamos, ouço de fundo alguns gritos, provavelmente deve ser uma pessoa sendo torturada. Tento levar isso na naturalidade, mas estou tremendo de medo. E se o homem não avisar que estamos sob proteção? Espero tudo vindo deles.

O lugar é tão grande e tenebroso que sinto uma energia pesada vinda daqui. É muito estranho saber que milhares de pessoas foram mortas aqui apenas por serem quem elas são. Apenas por existirem.

Ao passarmos pelo campo de cascalho até a fábrica, parece que não somos somente nós que estamos caminhando por aqui. Olho para o lado e vejo um homem guiando algumas crianças em torno dos 8 anos, algumas delas são negras, e algumas não têm um braço ou pernas.

Estão amarradas pelas mãos, sendo levadas para uma espécie de câmara. Meus olhos arregalam quando percebo que ali tem escrito "Câmara 3, inferno".

Câmara de incêndio.

Enquanto ando, olho para os outros, as caras deles estão iguais às minhas. A cor parece ter sumido do rosto deles. Somente um não está com a mesma expressão que os outros.

Noah.

Veias saltaram do pescoço enquanto contraíram seus lábios. A íris azul fica cada vez mais escura. Suas sobrancelhas flexionam, dando para sentir a sua raiva longe dele.

Teus dedos agitados geram alteração na temperatura ambiente. Músculos se flexionam. Olhos agitados caçam algo. Uma estaca de gelo é formada na sua mão.

Um frio congelante rodeia seu corpo, afastando-nos de perto. A pequena lâmina é concretizada dentro de seu punho fechado.

Sua expressão não é de medo, e sim de ódio.

— Pivete, não! — Alan cochicha, mas já era tarde demais.

Sem reagir, o garoto pálido atira a estaca de gelo. O corte de ar é silencioso e fulminante. Seguro-me para não gritar. A onda de choque de MAO é tátil. A estaca some. Um sussurro ecoa.

— Lu, Be, Se, Ka.

A escuridão sucumbe à minha visão.

A Ascensão das Chamas EscarlatesWhere stories live. Discover now