twenty three

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Quando chegamos na delegacia haviam poucas pessoas, mas só passou alguns minutos e minha mãe junto com vários familiares de Rin e Kei chegaram. Achei que a família de Rintarou não queria saber mais dele, ver eles aqui foi uma surpresa e tanto. Eu estava na sala de espera enquanto um policial bastante jovem conversava com Rin a poucos metros de distância. Eu conseguia escutar um pouco, o suficiente para saber que não era sério.

- O que você fez dessa vez? Como conseguiu inventar algo desse tamanho? - minha mãe chegou gritando desesperada e com lágrimas nos olhos. Não entendo como ela não consegue enxergar a simples verdade que foi exposta. - Sua mentirosa, ela forjou tudo! - fez um escândalo tão grande que um policial veio acalmá-la, nem abri a boca pois acho que não vale mais a pena. Só quero que isso acabe logo para podermos ir para longe daqui.

Os pais de Rin estavam perto dele e falavam algo com o policial, dessa vez não consegui ouvir pois minha mãe ainda estava tentando se acalmar. Deve ser algo normal e familiar pois sua mãe está segurando seu ombro. Devem ter feito as pazes. Interessante.

- Senhorita [Nome], pode vir até aqui? - o mesmo policial pausou a conversa com a família Suna para me chamar. Me levantei sem nem pensar duas vezes, quando cheguei próxima a mesa a Selena me olhou receptiva e seus olhos brilhavam como se estivesse gostando de me ver. - Esse rapaz agiu em legítima defesa após ele a ajudar, certo? - não pareceu uma pergunta, foi mais só para fazer mesmo. Os pais deles já devem ter dado aquele papo verde. Assenti rapidamente e o mesmo sorriu e fez o mesmo. - Ótimo, podem ir para casa. Como foi só uma briga, já vou ordenar que liberem o outro rapaz também. - finalizou abrindo um caderno para indicar que a conversa havia acabado de vez. Rintarou se levantou tão rápido que mal pude ver seu movimento, e em segundos ele me apertou em um abraço. Tão bom.

- Vamos para casa? - me perguntou passando os braços por cima do meu ombro e me guiando para fora da delegacia. Sim, eu queria muito ir embora. - Sabe aquela bolsa de dinheiro? Não me deixaram ficar com ela. - adicionou meio sem expressão. Isso era óbvio, eu no fundo imaginei mas não queria me convencer. - Mas esses pais aqui vão me dar uma mala de dinheiro. - apontou para o casal que caminhava ao nosso lado, seu sorriso foi tão sincero que acho que nem sente mágoa pelo o que os pais fizeram. - Sei o que está pensando mas meus pais nunca ficaram contra mim. Depois te explico melhor. - riu novamente e logo paramos em frente a um carro preto bem sofisticado. Seu pai caminhou até o outro que estava atrás e pegou uma bolsa no porta malas.

- Aqui está, como prometido. - ele entregou a Rin e apertou sua mão logo em seguida. - Se precisar de algo, ligue. E se não precisar, ligue mesmo assim, nos envie notícias suas. - sorriu alternando o olhar entre mim e o filho.

Não estou entendendo mais nada. Os pais o acusaram de sequestro e disseram que ele podia estar morto, mas isso tudo era só uma parte do plano? Se sim, foi incrivelmente convicente.

- Querida, anotei meu número nesse papel, caso precise de uma conversa feminina... - sua mãe se aproximou de mim e me entregou um saquinho pequeno e levemente pesado. - Espero que fiquem bem, você finalmente está a salvo. Não sabe o quanto esperamos por isso. - segurou minha mão e passou uma energia tão pura e mágica que quase chorei, parecia muito real. - Esse rapaz aí convenceu a família toda que você era a garota. Nunca duvidei. Você é incrível, pode contar comigo. Ligue quando quiser. - apontou para o filho e sorriu desajeitada. Eu é quem deveria estar assim, e provavelmente estou. Só sei sorrir e balançar a cabeça.

Definitivamente não esperava por isso. Rin literalmente planejou estar comigo de todas as formas possíveis, envolveu até a família nisso. E deu tudo certo, é isso que me intriga. O homem ao meu lado segura minha mão tão forte que acho que pensa que vou sair correndo e nunca mais voltar. Em questão de segundos ele deu tchau aos pais e entramos no carro escuro. Um minuto de silêncio se passou lá dentro, mas foi o silêncio mais confortável do mundo.

- Vamos para kamakura. Bem mais perto dessa vez. - nem o mar junto de uma lua e um céu estrelado não é tão desconcertante de se olhar quanto Rintarou Suna nesse momento. Ele não deu a partida no carro pois nem sequer está olhando para a frente. Quando fica me olhando assim, sinto como se estivesse sem nada. Totalmente exposta e perdida. - Você vai amar essa nova casa mais do que a outra.

- Nem passamos muito tempo nela. - brinquei assim que o carro começou a andar deixando para trás a delegacia que estávamos faz pouco tempo. - Precisa me explicar sobre seus pais, aquilo tudo é muito confuso. - pedi depois de alguns minutos observando a cidade passar.

Ele não virou a cabeça mas sei que olhou para mim, de fato preciso saber logo como tudo isso rolou. Todo mundo caiu no papo que eles inventaram, é justo eu querer saber como fizeram. É intrigante, sou curiosa.

- Eu convenci eles de que você era importante para mim e isso foi o suficiente para eles concordarem com todas as maluquices que eu planejei. Aquela casa foi comprada com o dinheiro deles, e eles também sabiam que iríamos para aquela cidade. Foi tudo planejado, tudo mesmo. O discurso para me nomear candidato... tudo mesmo. - simplificou e me senti importante mais uma vez. Aconteceu bem poucas vezes até agora, mas acho que vou passar a me sentir assim com mais frequência daqui pra frente. - Eles nunca questionaram, nadinha mesmo. Me diziam que eu era besta demais e que provavelmente você não aceitaria fugir comigo. Mas eu sabia que sim desde o dia em que olhei para você pela primeira vez. Sabia que estávamos ligados de alguma forma, eu sentia... - continuou mudando de marcha e estávamos prestes a sair da cidade de vez. - Eu sei que não temos a vida inteira mas não tenho pressa, quero que a gente conviva normalmente até você ter certeza que fomos feitos um para o outro. Quero passar tempo te admirando de perto por cada coisinha que você fizer, quero me perder e depois me encontrar nos seus olhos e sorriso. - fiquei sem fala, tanto que senti minha garganta travar. Isso é lindo. Lindo de verdade. - Acho que apenas uma escolha boa compensa centenas de escolhas erradas. E você foi a mais certa de todas. - continuou sem me dar tempo para pensar ou muito menos responder. - Não precisa responder agora, como eu disse, vamos ter tempo para você escolher tudo o que quiser. Tenho ciência de todo o tempo em que você viveu sem ser valorizada da maneira correta, sei muito bem a diferença que algo assim faz na vida de uma pessoa. Fique tranquila. Agora eu estou aqui.

É claro. É difícil ter certeza se sinto amor por ele já que nunca fui amada. Não sei como o sentimento deve parecer. Não sei como reagir ou muito menos o que fazer. Minha família quase me destruiu por completo. Eu realmente preciso de um tempo com ele para entender esse turbilhão de coisas que sinto quando ele simplesmente respira perto de mim.

Me emocionei e deixei até cair uma lágrima. Mas não é de tristeza, esse de longe é o dia mais feliz da minha vida. Sei que disse isso quando fugimos pela primeira vez mas agora é bem mais certo. Eu sinto de verdade. Depois de chorar um pouco, comecei a rir baixinho. Rin não fala nada, e me sinto bem assim. Ele me respeita. Amo isso. Acho que estou sorrindo porquê não entra na minha cabeça que alguém sempre me achou incrível e sempre esteve me olhando e planejando um futuro comigo. Não entra de jeito nenhum que um homem seja tão fofo e gentil quanto Rintarou Suna. Dizem que todos os homens são iguais e eu realmente acreditei nisso por um tempo pois tive contato com os dois piores homens do mundo... Mas Rin é simplesmente inacreditável.

Ele é ele. Deve ser por isso que parece ser tão irreal as vezes.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐓𝐇𝐈𝐒, suna rintarouWhere stories live. Discover now