twenty two

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Estava a caminho da igreja e nunca suei tanto em toda a minha vida, e olha que o ar-condicionado está no máximo. Agradeço por estar só eu e o motorista, assim me sinto mais a vontade para ficar nervosa pra caralho. Tento não borrar a maquiagem com tamanho suor que escorre pelo meu rosto sem motivo aparente, mas está ficando cada vez mais difícil. Sorte minha que a igreja não fica tão longe. Quando cheguei, pedi para ficar no clima frio do carro só por dois minutos e o motorista concordou. Respirei fundo e tentei me acalmar nem que seja só um pouco.

Eu olhei pelo vidro do carro o movimento de pessoas na praça em que fica a igreja, há muitos carros de luxo e pessoas muito bem vestidas entram e saem da capela a cada instante. Muitas pessoas que eu nunca vi na vida, e alguns são familiares distantes que só vejo nesse tipo de ocasião. Não há uma pessoa especial para mim lá. São só desconhecidos.

Não sei se estou sensível ou se só sou besta demais, mas por algum motivo meus olhos desviaram para um casal e uma criança que caminhavam muito longe, do outro lado da rua, prestes a dobrar uma esquina que não consigo ver. Essa cena que observo agora, de uma mãe e um pai segurando a mão do filho durante uma caminhada, é algo que eu secretamente sempre desejei, e isso é tão distante da minha realidade. Acho que família deveria ser o lugar para onde você volta quando tudo está caindo aos pedaços, e não de onde você luta feito uma louca para escapar. Flutuei tanto em um sentimento distante que não senti uma lágrima cair, sorte que me assustei quando o motorista abriu a boca para falar que os dois minutos se passaram e que eu preciso descer do carro.

Assenti meio estranha e ele me acompanhou até o fundo da igreja onde tinha uma porta que dava entrada a um tipo de cômodo de descanso, lá estava meu pai terminando de se arrumar de frente para um espelho, quase pronto para me levar ao altar feito o pai maravilhoso que é. Fechei os olhos antes de voltar ao meu personagem, é bem pior agora, depois de saber tudo o que esse homem é.

- Você está linda. - falou quase se emocionando mas dois segundos depois voltou com a expressão séria e mandou o motorista que ainda estava ali ir embora. Veio para perto de mim e analisou bem meu rosto, como se procurasse algum defeito. Sim, tenho certeza que está fazendo isso. - A maquiagem está boa, só esse batom que é um pouco forte demais, não acha? - voltou para perto do espelho onde tinha uma mesinha cheia de coisas, pegou um lenço demaquilante e me ofereceu. Isso é mesmo sério? - Tire e passe esse. - tirou um tubo brilhoso do bolso que julgo ser o gloss mais feio e infantil que já vi na minha vida. É cheio de glitter e mini estrelinhas.

- Não vou tirar esse batom. - disse firme devolvendo o lenço ao seu local de origem, em cima da mesa. Me afastei alguns centímetros só para me garantir segurança, mesmo sabendo que ele não faria algo no dia do meu casamento.

- O que acha que seu marido vai dizer? Essa cor vermelha é como se gritasse "Eu sou puta!". - afinou a voz no final da frase para tentar me ridicularizar. Não quero tirar esse batom, não se for para colocar um mais feio ainda.

- Meu marido que escolheu, achou ruim? É a cor que ele mais gosta. - retruquei tentando passar confiança mesmo tendo acabado de dizer uma mentira gigante. Não me importo, se eu disser as palavras certas para kei, aposto que vai sair gritando para todo mundo que amou a cor do batom.

- Sendo assim... - revirou os olhos claramente derrotado e respirou fundo quando uma música clássica de casamento começou a ecoar ao longe. - Vamos, já começou. - fez aquele lance nos nossos braços e me levou até a entrada da igreja, durante esse percurso tentei procurar Rin em algum lugar na praça, mas só o que vi foi velhos e crianças correndo.

A caminhada até o altar foi muito longa, várias pessoas me olhavam tanto que senti como se todas as minhas verdades estivessem sendo expostas em um mural para eles. Minha mãe estava chorando e nunca a vi tão emotiva quanto agora, e eu sei que tudo isso é uma farsa idiota. Kei estava de frente para mim, me olhando como se eu fosse a mulher mais linda do mundo, como se fosse o amor de sua vida. Seus olhos estavam lacrimejando e mesmo estando um pouco longe, notei suas mãos tremendo. Se eu não o conhecece literalmente a minha vida inteira, diria que ele é um noivo super fofo que parece amar muito sua quase esposa.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐓𝐇𝐈𝐒, suna rintarouOnde histórias criam vida. Descubra agora