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Mais uma vez, me sento no balanço que tem no jardim da minha casa, costumo vir aqui quando me sinto pressionada por algo. Seja família, seja namorado. Ambos andam me dando muita dor de cabeça ultimamente.

Minha família me vendeu ao filho dos seus sócios e donos das empresas filiadas as nossas. Somos destinados desde pequenos. Tudo bem, no início foi bom porque eu achava ele um gato. Mas as aparências enganam, não é mesmo?

Kei Tsukishima é tudo o que um homem de verdade deveria ser, mas as vezes ele sai do controle. Como na vez em que me deu um tapa por eu olhar para seu amigo da escola. Ele não me suporta mas supostamente me ama ao mesmo tempo. Sua dupla personalidade é um terror e quase não o aguento. Bom, isso não importa, estou há dois anos sofrendo agressões e minha família não dá a mínima para isso. Temos que ficar juntos e manter as famílias unidas mesmo que isso signifique uma vida infeliz. Ele até seria um marido aceitável se não sentisse ciúme até se eu esbarrar em alguém na rua.

Não posso questionar sobre nada nos negócios da família mas sou a responsável por manter a porra toda funcionando, irônico, não é?

Tenho que me esforçar e manter notas absurdas de altas na faculdade de administração, mesmo que quem vá liderar tudo no futuro seja meu marido. Não faz sentido estar cursando algo que nem vai ser útil na minha vida. Meu pai mesmo disse que nenhuma mulher liderará as empresas dos Halpert ou dos Tsukishima. Segundo ele, mulher só serve para ir ao shopping e cozinhar, e é exatamente isso que minha mãe fez e vai fazer durante o resto da vida dela.

Queria poder ser diferente, olhar para frente e dizer não. Mas meu futuro foi traçado mesmo antes de eu nascer, se eu não o seguir, vou morrer na miséria e afundar na solidão. Vou ser abandonada.

Confesso que até pensei em viver por mim mesma, mas quanto tempo alguém com os meus costumes viveria em condições ruins? Na verdade, a única coisa que me segura é o medo. Medo que meus pensamentos me controlem novamente, medo de ficar a sós comigo mesma. Preciso de pessoas ao meu redor, nem que sejam as piores do mundo.

- O que faz você ficar tão aérea assim, meu bem? - Kei passou os braços ao redor do meu pescoço me dando um susto. O balanço perdeu a força rapidamente quando ele segurou a corda. - Espero que não seja um amante. - soltou irônico e relembrei um acontecimento ruim, uma vez kei ficou tão paranoico que me forçou a fazer várias coisas para provar que o que pensava era mentira. Eu o odeio tanto que ao olhar na sua cara só sinto nojo e raiva. - Bom, temos o almoço do sábado na minha casa, tenho me preparado durante toda a semana... - disse insinuando coisas perversas, sei muito bem o que ele tanto prepara. Nunca vi alguém tão obcecado por sexo. Infelizmente não posso me negar a ele, estava em uma das regras escritas no contrato em que meus pais assinaram quando eu tinha apenas dois meses. Dá pra acreditar?

- Meus pais vão viajar na sexta, acho bom a gente ficar por aqui. Não gosto de tranzar com seus pais no quarto ao lado, kei. - admiti envergonhada, se tenho que cumprir meu dever, que ao menos seja de uma forma menos vergonhosa.

Depois de alguns anos, acho que aceitei o fato de que essa é minha vida e nunca vai ser diferente. Tenho que aceitar meu futuro marido nem que precise renunciar a minha própria felicidade. Tentarei ao máximo fazer com que não seja 100% um inferno.

Eu mentiria se dissesse que tranzar com ele não me traz prazer, na verdade, é a única coisa boa que vai existir no nosso relacionamento. Ele é um merda mas é ótimo na cama, é completamente diferente. Me trata tão bem que me apaixonei por sua personalidade durante o ato, mas o odeio quando tudo acaba. Não que fora do sexo seja muito diferente, ele até que é gentil. Mas qualquer coisa ativa seu gatilho de machismo absurdo.

- Jantar cancelado então, pizza e cineminha no quarto. Combinado? - sugeria alheio ao assunto, mas animado pelo o que o futuro lhe aguarda. Ele só pensa nisso. - Falta um ano e meio para o fim do seu curso e finalmente formaremos uma família. - disse animado, as vezes sinto como se ele realmente estivesse entusiasmado com nossa perspectiva de futuro. E talvez esteja.

- Estou ansiosa por isso. - sorri falsamente, meus olhos ardendo por uma raiva que nunca cessará. Odeio a minha vida e tudo que estou sujeita a viver ainda. - tenho prova no sábado, terá que me esperar um pouco. - avisei logo, estou a semana toda sem fazer contato com ele. Quando tenho prova, as nossas regras de contrato nos proíbem de nos vermos. É ridículo.

Tenho que amá-lo incondicionalmente e ser submissa a ele, tenho que manter o sexo ativo mensalmente e tomar os remédios para não engravidar até o final da faculdade. Mas, se eu quiser ver ele durante as provas não posso? Conta outra! As vezes penso em me suicidar, seria a melhor forma de escapar dessa situação.

Ao anoitecer, tudo o que fiz foi estudar, meus pais não me deixam descansar por um segundo. Não posso falhar. 22h da noite e ainda não jantei, e nem há previsão para isso. Preciso ter no mínimo sete horas seguidas de estudos, com direito apenas a uma garrafa de água de 600 ml. Eu vivo em uma constante prisão. Pelo menos só passo por esse sufoco nos períodos de provas.

- Socorro... - mumurrei sozinha no quarto, sentindo minha cabeça doer ao ler mais uma vez as vinte e cinco páginas de conteúdo para a prova. Há uma câmera no canto do meu quarto que só filma a escrivaninha, que é onde eu tenho que ficar durante metade do dia. Tem vezes que me sinto grata por não filmarem minha cama e banheiro, eu não teria nenhuma privacidade.

Espero que quando eu me casar com Tsukishima, tudo isso acabe. Se minha obrigação for apenas procriar e fazer compras no shopping, que seja. É melhor do que tudo isso, é melhor do que ficar com fome e não dormir direito.

Quando jantei, eram 2h da manhã, minha alimentação é tão desregulada que já parei no hospital umas três vezes só esse mês. Quando me deitei na cama, o meu celular, que ficou o dia inteiro na mesinha ao lado da minha cama, apitou indicando una chamada do meu futuro marido.

- Querida? Você ainda está estudando? - sua voz soou preocupada do outro lado e meu coração ficou quentinho com a demonstração. - Sinto muito mesmo, já conversei com meu pai sobre isso. Minha família o ameaçou de cancelar o contrato se ele não deixar você descansar como deve, garanto que amanhã tudo isso vai acabar. - meus olhos se encheram de lágrimas ao escutar isso, sua atitude foi tão fofa. - Eu te amo. - susurrou cansado.

- Obrigada, kei. Eu não estou bem, de verdade. Obrigada. - agradeci sentindo as gotas salgadas caírem pelo meu rosto inteiro. - Eu te amo, durma bem. - fiz um barulhinho de beijo e desliguei a chamada, sentindo que talvez meu relacionamento não seja tão ruim assim. Talvez seja o melhor que eu conseguiria.

Em seguida, adormeci pensando no quanto pouco tempo falta para o fim da faculdade. Depois que acabar, finalmente será só descanso e mordomia, eu vou merecer todo o descanso que tiver na vida inteira. Minha mãe, assim como eu, passou por tudo isso. E olha só ela hoje em dia, shopping com as amigas e viagens semanais ao litoral. É perfeito. Injusto por todo o esforço que ela teve para estudar, mas é perfeito.

Talvez quando eu estiver casada e sair da propriedade dos meus pais, poderei mudar esse padrão e ser a única mulher na história dos Halpert a governar uma empresa.

𝐌𝐎𝐑𝐄 𝐓𝐇𝐀𝐍 𝐓𝐇𝐈𝐒, suna rintarouWhere stories live. Discover now