CAPÍTULO 11

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Boa leitura

Sozinha na cozinha, Isla Maria sentia seu interior ferver de ódio.
​Como uma pessoa poderia ser tão ruim e miserável a ponto de mandar um inocente embora?
Orion tinha todos os defeitos do mundo, mas era um homem inteligente que calculou toda aquela ação nos mínimos detalhes. Cássio foi mandado embora com o único objetivo, o de atingi-la.
Ele parecia não possuir um lado humano e mesmo que Isla soubesse que parte daquilo era sua responsabilidade, já que tinha provocado o maldito, jamais conjecturou que terminaria com a demissão do motorista.
Mas tudo o que se desenrolou ajudou seu coração – e cabeça –, a compreender, ainda mais, com quem estava lidando.
Uma coisa era estar em casa, lendo sobre o homem mais poderoso do país e criando táticas para chegar até ele, outra muito diferente era conviver e superar os obstáculos que surgiam todos os dias.
Isla entendeu que Orion não era homem de joguinhos e ela assumia que havia sido uma tola quando resolveu provocá-lo abertamente.
Culpava aquele maldito beijo, foi isso que a deixou momentaneamente cega.
De qualquer forma, se ela queria desistir, aquele era o momento de abandonar o barco e todos os seus planos. Mas como ela poderia fazer isso quando vingar a morte das duas pessoas que mais amava foi o que norteou toda a sua vida?
Sua consciência racional – e emocional –, não a deixava simplesmente partir e esquecer.
Orion era seu alvo e nada mudaria aquilo, mesmo sabendo que sua vida estava em perigo.
Aquele homem era poderoso e tinha parte do mundo nas mãos, mas não era possível que não fosse capaz de encontrar uma mísera brecha em meio a tamanho poder.
Ele fazia o que queria, a hora que queria e não existia a palavra impossível em seu vocabulário. Isso apenas aumentava sua raiva, pois não era justo um homem tão ruim ter tanto domínio, inclusive sobre ela.
Tudo aquilo a desanimou e irritou na mesma medida e, sem que percebesse, uma lágrima escorreu por seu rosto. Dentro daquela pequena gota havia uma quantidade tão grande de raiva e amargura, que nem mesmo Isla conseguia medir. Mas ficar se fazendo de vítima não resolveria seus problemas, por isso levantou a cabeça, limpou o rosto e seguiu para mais um dia de trabalho, com a certeza de que estava no caminho certo, sabendo que, daquela vez, não deixaria nada desviar seu foco.
O ego não era um bom comandante e aprendeu aquilo da pior forma.
— Bom dia, Isla — disse Linda, entrando na cozinha e a despertando de seu monólogo interior.
— Bom dia — cumprimentou com um sorriso amarelo no rosto, tentando camuflar o frangalho que estava por dentro. — Dona Linda, eu gostaria de lhe pedir um favor — disse, sentando-se e sendo acompanhada pela patroa. — Cometi um erro e queria que se a senhora intercedesse.
— O que aconteceu?
Isla achava que Linda não tinha o poder de recontratar Cássio, porém, todos ali sabiam que a mulher sentada à sua frente era a única a quem aquele monstro dava atenção e respeitava – ou pelo menos o que ele entendia dessa palavra.
Ela tinha que tentar, pois conviver com aquele peso seria demais.
— O Cássio foi mandado embora por minha culpa.
— Sim — respondeu Linda, compadecida.
— A senhora está sabendo? — questionou Isla, surpresa.
— Não dos detalhes, mas não necessito deles. Eu o conheço desde menino e você, bem, sinto que posso confiar, que é uma pessoa boa — afirmou, fazendo seu coração diminuir de tanto remorso. — Não posso recontratá-lo, acho que sabe disso, mas também tenho meus contatos e ele já está contratado em outra empresa.
Isla respirou fundo, aliviada.
— Quer um conselho de uma mãe que conhece seu filho como ninguém? Faça o que tem que fazer — recomendou, levantando-se.
Aquela mulher realmente parecia conseguir ler seus pensamentos. Mas se isso fosse verdade, não lhe daria aquele conselho, não quando ele poderia prejudicá-la tanto.
Isla se infiltrou naquela casa com apenas um objetivo, acabar com o filho dela e nada a faria mudar de ideia, então apenas sorriu em resposta.
— Ah! Outra coisa — declarou, virando-se novamente para Isla. — Nós faremos uma viagem.
— Claro, só me avisar a data que organizo tudo para a senhora e...
— Não, querida, acho que não entendeu. Você irá junto — finalizou com um sorriso e, em seguida, saiu da cozinha.
Como assim? pensou, assombrada.
Será que aquele plural envolvia Orion também?
Deus do céu...
Por um lado, era uma oportunidade maravilhosa para tentar se infiltrar nos assuntos dele, por outro, poderia ser um tiro no pé, porque sempre que estavam juntos, era como se juntassem fogo e gasolina.
Teria que encontrar uma forma de não deixar sua raiva comandar suas ações e ser mais humilde, ou pelo menos era o que ele deveria achar.
Se ele confiasse em Isla, tudo ficaria mais fácil, ela poderia angariar provas que precisava juntar contra ele mais rápido, diminuindo o tempo de convivência com aquele inescrupuloso e sua mãe.
Não era uma matadora ou coisa do gênero, seu objetivo era apenas um: vê-lo apodrecer na cadeia, resultado da pilha de provas que ela entregaria à Polícia Federal.
Isla já possuía algumas coisas, contudo, eram muito poucas perto da quantidade que sua mente casta conseguia imaginar. Quem sabe essa viagem não fosse a oportunidade perfeita para aumentar as evidências de seu arsenal.
— Cozinha liberada? — brincou Teodora, entrando novamente no cômodo.
— Ela é sua.
— Ótimo, vou fazer um risoto de queijo com funghi. Você gosta?
— Meu prato preferido — revelou com brilho no olhar.
— Mesmo? É do patrão também.
— Olha só, temos uma coisa em comum, jamais achei que isso existiria — ironizou, revirando os olhos.
— Pois acho justamente o oposto.
— Como assim? — inquiriu, curiosa e com uma pitada de fúria.
— Não fique brava, minha filha, é só a visão de uma velha que mais observa do que fala — declarou, carinhosa, pegando alguns ingredientes na geladeira. — Bom, a convidada da senhora Meirelles já chegou?
— Ainda não.
— Sabe até quando ela fica? Preciso organizar as refeições.
— Não exatamente, mas acho que poucos dias. Assim que souber eu te informo. Agora preciso ir até o escritório do Sr. Meirelles, vou aproveitar que ele saiu.
— Vai limpar lá? — indagou Teodora, surpresa.
— Na verdade, vou organizar algumas coisas que Linda pediu. Por que o espanto?
— Nunca ninguém limpa aquele cômodo.
— Ah, bacana, agora fiquei mais tranquila — brincou, um pouco apreensiva.
— Se ela pediu, sabe o que está fazendo. Vá, minha filha.
Isla subiu os dois lances de escadas e encontrou o escritório já aberto.
Iniciou seu trabalho repondo bebidas na pequena geladeira. O fato de não encontrar nenhuma bebida alcoólica chamou sua atenção, mas resolveu não perder seu tempo pensando naquilo e partiu para o banheiro.
Trocou as toalhas, repôs alguns produtos que estavam faltando no armário e retirou o lixo.
Assim que finalizou, foi para a parte que mais lhe interessava: a mesa.
Ela ficava na frente da parede de vidro e tinha formato de meia-lua. Precisava admitir novamente que o infeliz possuía muito bom gosto para as coisas, pois tudo naquela casa era lindo.
Começou a passar um pano na superfície com uma mão e com a outra tentou abrir cada uma das gavetas, porém, obviamente, nenhuma estava destrancada. Por que achou que estaria?
Não havia um mísero papel em cima daquela enorme tábua de madeira maciça, apenas duas canetas milimetricamente organizadas e dois computadores, um PC e um notebook, desligados.
Isla não se atreveria a tentar ligar nenhum deles, pois obviamente não saberia a senha, por isso teria que ser resiliente, tinha fé de que tudo aconteceria em seu devido tempo.
Permaneceu mais vinte minutos fazendo seu trabalho e quando finalizou, espirrou um aromatizador de lavanda no ambiente, dando seu toque final.
Quando virou as costas para ir embora, adivinha quem estava na porta a encarando? Sim, a mulher do Diabo, Caetana.
Aquela biscate não iria sossegar enquanto Isla não estivesse no olho da rua, mas ela era mais inteligente e não cairia em seus truques. Mais uma vez precisaria ter paciência porque não cair naquelas provocações era muito difícil.
— Que sujeira é essa? — disse a ruiva, olhando para o chão de madeira polido e brilhante.
Ela não respondeu, apenas encarou o chão limpíssimo sem saber do que aquela louca estava falando.
— Não está vendo?
— Não — respondeu por fim, apenas para não começar uma briga.
— Aqui — declarou, jogando todo o café da xícara que segurava no chão. — É cega ou só se faz? Limpa isso antes que meu amor chegue e veja o escritório dele imundo porque uma serviçal incompetente não fez seu serviço.
— Caetana, o que faz aqui? — inquiriu Linda. — O que está acontecendo?
— Oh, oi, dona Linda. A empregada não me viu entrar e acabou fazendo essa lambança — mentiu, descaradamente. — Me desculpe, querida — disse, encarando Isla falsamente pesarosa.
— Poxa, então tenho certeza de que não se importará em limpar, não é? Uma convidada minha chegou e preciso muito da ajuda de Isla — falou Linda.
Se ela não estivesse enganada, a hippie tinha acabado de ser bem irônica com a "nora". Era possível que Teodora estivesse certa? Linda realmente sabia das coisas?
Está bem, talvez a mulher tivesse ganhado um ponto, mas ainda a detestava.
— Vamos? — chamou Linda.
Isla passou por Caetana, mas antes de sair, estendeu-lhe um pano de chão.
— Vai precisar — finalizou, piscando e saindo do cômodo.
Ela não precisava ser vidente para saber que a ruiva estava espumando de raiva e que aquela batalha ainda teria muitos rounds.
— Oi, meu filho — saudou Linda quando saíram porta afora.
Assim que ele pisou no último degrau que dava acesso ao terceiro andar, questionou:
— O que está fazendo aqui?
Isla achou que a pergunta fosse para ela, e quando foi abrir a boca para retrucar notou que os olhos de Orion encaravam Caetana.
— Oi, amor, vim te visitar — disse ela, aproximando-se.
— Entre — ordenou ele, mal encarando a ruiva — Quanto a vocês, conversaremos depois — disse olhando para a mãe e, em seguida, para Isla.
Seu coração congelou e voltou a bater no instante seguinte.
Por que aquele maldito tinha que ter uma força tão poderosa sobre ela?
Era incontrolável e patético a ponto de se sentir uma mosca prestes a ser esmagada a qualquer momento.
— Venha, querida, não ligue. Com ele eu me entendo depois — tranquilizou-a Linda, puxando-a escada abaixo.
Após ser apresentada à visitante, Isla organizou suas roupas no quarto e a acomodou, explicando a rotina da casa.
A patroa já deveria ter feito aquilo, mas algo lhe dizia que sua demanda ocorreu apenas como um pretexto para tirá-la das garras de Caetana. Ou era apenas seu lado carente indicando algo que não existia?
O que interessava era que havia se livrado daquela idiota.
No fim do dia, permitiu-se sentar um pouco na área externa para tomar um café, já que a própria Linda havia permitido, então não viu mal algum.
O dia estava frio e chuvoso, perfeito para aquela bebida quente e relaxante.
Ficou sentada observando as árvores enquanto a chuva fina colidia com a água da piscina.
— Quer um croissant? — perguntou Orion, cáustico.
Ele estava acompanhado por Nicolas e quatro outros homens mal-encarados que a olhavam como se estivesse cometendo o maior crime do mundo.
Irônico, não?
— Vão — ordenou ele, sem tirar os olhos dela. — Vou logo em seguida.
— Sua mãe...
— Minha mãe está sempre te protegendo, não é?
— O que posso dizer? Eu gosto dela e acho que é recíproco.
— Sabe, Isla Maria — começou ele com aquela voz rouca e sexy.
Orion disse seu nome poucas vezes, mas em todas elas sempre soava como uma música letal aos seus ouvidos, pois algo lhe dizia que poderia se perder imensamente caso se deixasse levar pela sensualidade que emanava dele.
— Eu sinto cheiro de coisa ruim a quilômetros de distância. Será que esse cheiro está vindo de você?
— Não, senhor Meirelles, sou pobre, mas só uso perfume importado.
Ele a encarou sem qualquer divertimento no olhar, a boca cinzelada em uma linha fina.
— Seu senso de humor é péssimo.
— Temos mais coisas em comum do que eu poderia imaginar — respondeu, atrevida.
Ela já estava em pé, a poucos metros dele, a cabeça estava erguida para encará-lo nos olhos e, apenas naquele instante, se deu conta o quanto a cor deles era similar aos seus.
Nunca havia reparado que ele possuía olhos verdes, muito provavelmente devido à raiva que lhe ofuscava a razão.
Mas as roupas negras e o cabelo impecavelmente arrumado eram como a marca registrada de Orion.
O desgraçado sabia que era bonito, entretanto, Isla também não precisava de modéstia e tinha conhecimento de seus próprios atributos. Era um duelo de titãs, pois se ele não estava disposto a ceder, ela também não o faria.
— Essa viagem será como um teste para você — declarou ele, mudando de assunto. — Que fique claro que fui completamente contra uma serviçal nos acompanhar, só que minha mãe faz questão e não vou contrariá-la. Todavia, você entrará muda, sairá calada, mas, principalmente — disse, aproximando-se —, ficará cega para algumas coisas que possivelmente verá. Estamos entendidos?
— Sim.
Ele estava bem próximo, encarando sua boca, e o que era um assunto tenso e ameaçador, transformou-se em algo sensual.
Sua intimidade começou a dar sinal de vida, ao passo que o magnetismo daquele olhar a mantinha ali, estática, como se curtisse o contato.
— Ótimo — disse Orion, passando a língua no lábio inferior como se estivesse degustando algo. Após isso, segurou em seus cabelos longos e lisos, que estavam presos no alto da cabeça em um rabo, e puxou para perto.
— Espero mesmo que seja uma boa menina — finalizou com aquela frase de duplo sentido e a tirando daquela bolha ao empurrá-la para sair da frente.
Ainda entorpecida, ela o viu seguir em direção ao local que seus capangas haviam ido.
Que porra foi aquela?
Aquilo serviu apenas para mostrar como Isla estava se perdendo.
Sentir tesão por seu algoz era o fim do mundo para ela. Precisava se controlar, manter a língua dentro da boca.
— Ah! — discorreu ele, virando-se novamente. — Caetana é a mulher com quem fodo quase toda noite, então, mais respeito com ela, fui claro? Se ela mandar, apenas obedeça de cabeça baixa, como uma boa empregada.

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