Capítulo 07

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PERSEU

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PERSEU

Baixei o boné verde-escuro, queria coçar a droga da minha barba, que está maior que o normal, os óculos de aro fino compunham o visual. Sorri feliz para moça que me atende, ela é bronzeada e alta, de olhos fingidos, sentada em uma cadeira, para dar um ar de superioridade, de realeza, conheço bem o tipo dela – sei que vou ser contratado, esse foi o trato, e a única forma que teria de entrar na casa e fazer meu serviço.

Estou odiando esse serviço, odeio pagar de bonzinho e distribuir sorrisos para pessoas, na realidade, queria afogar a maioria delas em óleo quente. Inclusive, essa mulher cheia de olhadas desconfiadas para mim. Como sinto falta da época que o trabalho se resumia a atirar de cima do telhado e ir embora com o alvo caído no chão, pondo sangue por todos os locais. Mas os tempos vem mudando para nós, agora não podemos ser vistos, não podemos matar abertamente homens desnecessários para o planeta, tínhamos que ter cautela.

Pura banalidade para a morte, que, com certeza, viria no fim, só estamos dando uma mãozinha ao destino. Poderia ajudar este imbecil à minha frente e mandá-la para terra dos pés juntos mais cedo.

— Júlio Cesar, você entende a importância deste emprego? — pergunta, com cerimônia.

Meu senhor, a vontade é responder que vou só lavar as porras dos banheiros da casa, que importância tinha em lavar banheiro de ricos? Era zoação essa pergunta? Balanço a cabeça em afirmação contida.

— Pois bem, dê o seu melhor, que logo poderá virar jardineiro, olha que maravilha?

Que coisa animadora! Com certeza vou matá-la!

— Obrigado, senhora!

Meu sorriso a convence e ela aponta com seriedade para o corredor da grande mansão, pelo jeito a metida a coach de funcionários comandava tudo por ali com aquele discurso de vendas do pedacinho no céu.

"Dê seu melhor, quem sabe um dia você não consegue ser igual ao patrão?" Picareta pagando um salário-mínimo com esse discurso ridículo! Odeio esse tipo de gente, queria fazer uma fileira e matar todos. Faria esse serviço de graça.

Rumino essa ideia até o local dos empregados, jogando a mochila no quartinho onde fica o material de trabalho, ainda bem que o valor era meio milhão, porque odeio lavar banheiro.

**************

Um mês e estou a ponto de perder as estribeiras, a coach de funcionários pobres vivia passando a mão em mim, sempre aparecia do nada esticando as pernas e fazendo aquela cara que com certeza ela pensa que é sexy. Estou descaradamente sendo assediado pela cínica. E ela se acha o manjar dos deuses, irresistível, acho que o corpo dela vai aparecer boiando na piscina da casa qualquer dia desses.

Vejo meu alvo atravessando a sala grande da mansão, conversando com outro homem baixo, que presta atenção em tudo que ele diz – e acabo esquecendo a coach assediadora –, já sei todas as rotas de fuga da casa e, dentro deste mês, já conheço horários e rotinas de todos os funcionários e inclusive do patrão.

PERSEU: FILHO DO FOGOWhere stories live. Discover now