Capítulo 01

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ZOE

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ZOE

O vestido de chita, com flores grandes, que um dia foi verde, hoje, de tão puído, já não há mais uma cor definida, grudava na minha pele tanto pelo calor, como pelo medo do que viria pela frente, o corpo da minha mãe, que a cada dia está mais cadavérico, sendo consumido pela doença de dentro para fora. Logo os abutres viriam, eles iam querer reivindicar minhas terras e meu corpo.

Só de imaginar aqueles velhos nojentos por cima de mim, a vontade de vomitar domina minhas tripas, a terra não é importante, não tem nada de bom nela, só suor, dor, medo e sangue.

Bando de miseráveis, infelizes, que o sangue deles goteje neste chão de terra dura e vegetação morta. Cuspo no chão sujo e volto para dentro da casa, se é que poderia chamar aquele lugar assim.

Uma pequena cabana feita de mato e barro, ali foram tantos gritos. Ouço os gemidos de minha mãe, vou até ela na cama surrada e seguro sua mão tão franzina e fragilizada.

— Mãe?

— Zoe, minha pequena menina, não lute, vai ser melhor para você, vou partir em paz, sabendo que está protegida — declara com a voz fraca.

Meu estômago revira com a ideia que ela tem de proteção. Eu não vou fazer isso, jamais farei, só se fosse obrigada, à força.

— Filha, nós, mulheres, somos fracas frente aos homens poderosos deste lugar, não lute, ou irão te machucar, apenas aceite o que o destino tem para você.

Sua mão trêmula e sem forças acaricia minha bochecha e noto que lágrimas escorrem pela sua face, não sou fraca, não vou me deitar com velhos sujos para sobreviver como ela fez. Não, vou pegar a estrada e ganhar o mundo ; irei fazer meu próprio destino.

Assim que sua alma deixar essa maldita terra, eu partirei. Já tenho tudo planejado, minha trouxa está pronta debaixo da cama com meu punhal. Matarei quem chegar perto de mim.

Um barulho alto do lado de fora chama minha atenção, meu corpo fica tenso, olho pela janela, buscando minha faca, estou cansada, as noites sem dormir tomando conta do lugar estavam acabando comigo. Mas não posso baixar a guarda, eles podem vir a qualquer momento, e estarei preparada.

Tremo com mais um barulho e uma coruja emite seu som característico de longe. Quando isso vai acabar? Penso, olhando minha mãe dormir.

*****

Assusto-me com mais um barulho, verifico, sobre a bancada, perto da cama, o relógio, e já passam das 3h da manhã, acho que acabei pegando no sono. Levanto rápido e olho a pulsação da mamãe.

Ela parece bem mais fraca que ontem, seguro o copo de água, levando até seus lábios roxos, seus olhos abrem e estão sem vida, opacos, quase mortos. Assim que bebe água, começa a tossir forte, então arrumo o cobertor velho ao redor do seu corpo com calma. Ela poderia ter todos os defeitos do mundo, mesmo assim, ainda era minha mãe. Mesmo com quase 20 anos, sei que a vida não é fácil, até aqui a minha não foi, mas acredito que as coisas podem melhorar, conseguirei um trabalho e me sustentarei bem longe deste inferno de lugar.

PERSEU: FILHO DO FOGOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora