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Selene

Toda vez que eu volto para casa na esperança de encontrá-lo para poder contar como foi o meu dia e as coisas no trabalho, essa esperança logo se despedaça causando uma fenda em meu coração.

Porquê Dionísio tem que ser tão teimoso e casmurro, não vê que as ações dele me machucam. Ele acha que se afastar de mim é a melhor escolha? Que somente trocar algumas palavras monótonas, como se fossemos malditos robôs vai mudar alguma coisa?.

Ele sai pela manhã antes que eu acorde e só volta quase pela madrugada. Simplesmente deixa um beijo em minha testa enquanto finjo dormir e engulo o choro, vendo ele dormir no sofá. E isso tem quase duas semanas.

Não houve sábado e nem almoço de domingo. Como se fossemos estranhos partilhando o mesmo quarto, a mesma casa. Me sinto a estranha carregando um bebê de um homem que me é completamente desconhecido.

— Selene? Você está bem? — Deixo de encarar o vazio e forço um sorriso olhando para Donna.

Não entre em colapso Selene.
Não entre em colapso.

Repito firme encarando todos os olhares preocupados.

— E-estou bem não se preocupem! — Me esforço, mas para quem eu quero mentir — E então... Gaspar. Você e a Bria estão juntos e eu acabo de descobrir por terceiros sendo que sou sua melhor amiga?!

— Você definitivamente não está bem Lene.... Somos seus amigos, você sabe que pode contar sempre conosco! — diz, Gaspar me fazendo fraquejar no disfarce.

— Você está agindo estranha e anda muito calada nas últimas semanas. Essa não é a Selene que eu conheço. Cadê minha irmã? — Donna pergunta preocupada segurando minha mão. 

— Dionísio está agindo mais estranho do que o normal. E olha que eu conheço muito bem meu irmão para saber que algo não está certo! — Domenico pontua.

— Eu já disse que estou bem! — insisto na mentira — Eu não quero falar sobre Dionísio podemos por favor mudar de assunto? Este está fazendo minha cabeça doer!.

— Está bem, mas se precisar de qualquer coisa eu estou aqui. Sou sua irmã e sempre estarei aqui para sempre unidas! — Donatella afirma e joga o mindinho.

Para sempre unidas! — Selamos a promessa que fizemos a muito tempo atrás.

— Todos estamos aqui Selene, para você. — Domenico diz.

— Obrigada gente. Vocês realmente alegraram o meu dia. — confesso mais feliz do que antes.

Eles não tocaram mais no assunto Dionísio e assim pudemos continuar com o nosso almoço, repleto de risos, novidades, emoções, alegria e muita amizade. Mesmo que passemos a maior parte do tempo fazendo bullying uns com os outros, nós nos amamos.

Acho que esse está sendo um sábado incrível com eles, assim não preciso ficar em casa lamentando igual uma mulher amargurada para sempre.

— Eu não acredito nisso! — Bria exclama surpresa olhando pro seu celular.

— O que foi? — Donna pergunta. Bria olha para mim e rapidamente desvia o olhar.

— O que tem Bria? Vai matar a gente do coração! — Nico diz.

— É uma notícia... — Ela fica em silêncio e nos encara cogitando revelar a informação — Itália magazine!

— Fala sério Bri, tanto alarde para página de fofoca? — Gaspar fala incrédulo.

— Eu vou matar essa mulher! — Agora foi a vez de Donna, ela chia para o celular com raiva.

— Agora eu quero saber do que se trata! — Nico abre seu celular indo atrás da fofoca que está deixando todos incrédulos. E assim eu também o faço.

Amaldiçoei o momento em que entrei nessa página! Meu coração esmurra a minha caixa causando um desconforto enorme.

Me obrigo a ler e reler a manchete e a seguir olhar para a  foto dos dois juntos, tão próximos.

Dionísio Moretti e sua linda noiva Gabrielle Vitalli. Toda Itália tinha um palpite sobre o casal.

Está é a prova de que um dos solteiros mais desejados da Europa se não for do mundo inteiro não, está fora de serviço.

Continuo rolando a tela vendo as demais fotos da família Moretti, e algumas minhas junto dele bem íntimos.

Dionísio é flagrado saindo de uma floricultura com a cunhada de mãos dadas.

Meu estômago embrulha lendo os comentários sobre mim. E os nomes atribuídos a mim. Rapidamente limpo a lágrima antes que ela caia e desligo o celular.

Todos trocamos olhares enigmáticos, e deixamos que o silêncio tivesse sua demanda. As vozes doa outros clientes ao nosso redor eram simples borrões, ruídos.

— Eu tenho que ir. — Pego minha bolsa saindo do restaurante em um salto.

Me seguro na lataria do carro e coloco a mão no peito respirando o mais fundo que consigo, para me acalmar.

— Senhora precisa de ajuda? — Um dos seguranças pergunta e abano a cabeça que não — Tome um pouco de água.

Recebo a garrafa e mesmo com as mãos trêmulas abro e bebo metade do conteúdo. Ouço um deles avisando que vai ligar para Dionísio.

— Ninguém vai ligar para ele. — ordeno — Quem ousar fazer isso será demitido! — ameaço, mas eu nunca faria isso sem motivos.

— São as ordens.

— Quem está dando as ordens aqui sou eu. Se digo que ninguém vai ligar para ele é porquê ninguém vai fazer isso, que fique bem claro.

— Sim senhora!.

— Vamos ao consultório da doutora Cecília m primeiro.

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— Sua pressão está muito alta Selene. — Cecília diz preocupada — Por enquanto eu não vou te receitar nada, precisamos averiguar para que isso não se torne um caso grave.

— Não se preocupa, não será. Eu vou passar algum tempo com a minha irmã. 

— Quanto ao seu problema com Dionísio eu não posso ajudar. Mas você não deve se estressar.

— Eu vou seguir seu conselho. — Sorrio.

— Até a próxima consulta. E lembre-se...

— Eu não vou me estressar.

— Cuide-se.

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Agradeço o segurança e passo pela porta encontrando um silêncio absoluto. Final de semana, sozinha num castelo. Ótimo.

Se Clarice estivesse aqui o silêncio não seria tão ensurdecedor. Sigo as escadas chegando ao final e me perguntando que direção seguir. A do meu quarto ou dele? Nosso é uma palavra muito difícil agora.

— Haa... Oi Selene. — Travo minha mão a centímetros da maçaneta e me viro encontrando a última pessoa que eu queria ver agora — Chegou cedo...

Só pode ser uma brincadeira de muito mau gosto, sacanagem do universo comigo.

Um bebê para o italianoWhere stories live. Discover now