Lições do Amor | Vol.1

35_ VAI SE LASCAR!

ㅡ Não atenda! ㅡ Sid exclamou alto chamando minha atenção.

Um aperto dentro do meu peito surgiu como uma facada. Na verdade, foram como se várias facas atingissem meu peito e uma dor enorme surgisse me derrubando.

Mariana era a causadora do meu complexo. Como uma irmã mais velha ㅡ Ela era bem diferente das irmãs mais velhas que eu conheci das outras pessoas ㅡ , ela nunca quis que eu aparecesse. Ou melhor, nascesse.

Ela sempre deixou claro que o fato de eu ser parecida com ela era horrível porque éramos tratadas como gêmeas. E eu não tinha o mesmo gosto dela, não gostava de socializar ㅡ na verdade eu tentava, mas as pessoas me rejeitavam por não ser igual a Mariana socialmente ㅡ , e sempre mantia meus estudos a cima da minha vida social. Ela odiava isso em mim.

Ou melhor, ela me odeia.

ㅡ Marina Soares, não atenda! ㅡ Sid exclamou novamente.

Levantei-me do sofá apertando o telefone em meus dedos enquanto meu coração batia forte com medo. Era medo de ouvir a voz dela novamente, era medo de não aguentar e dá o prazer a ela de me fazer chorar.

Sem pensar direito, apertei no botão e atendi levando meu telefone até a orelha.

ㅡ MARINA! ㅡ Sid gritou cruzando os braços.

Mari- Alô?

Tentei manter a minha voz o mais firme possível.

Mariana- Finalmente, né, Marina!

Mari- O que é que você quer, Mariana?

Perguntei secamente me aproximando da janela. É claro que estava falando em português e a Sid não entendia.

Mariana- Eu queria saber como você tá. O que anda fazendo nos Estados Unidos?

Respirei fundo fechando os olhos. Até parece que ela se importava.

Mari- Isso não lhe diz respeito.

Eu me martilizava por ter que ser daquele jeito tão grossa mas, infelizmente, era isso que a Mariana merecia.

Mariana- Ai, Marina, para de ser grossa! Eu estou aqui mó de boa.

Revirei meus olhos.

Mari- Mariana, dá um tempo! Euem! O que você quer? Seja direta! Não venha com esses joguinhos idiotas porque eu não vou cair neles.

Explodi.

Mariana- Ai ta bom! Por que você tá fazendo isso?? Cara, mesmo de longe você atrapalha a vida das pessoas!

Mari- Quem tá me ligando para saber da minha vida e da pitaco é você.

Mariana- Ai, você continua irritante! Acredita que o papai quer ir até os Estados Unidos para buscar você??? Ele deixou de me dá a mesada do mês.

Revirei meus olhos, novamente, ouvindo a voz irritante dela. Mariana tem 23 anos, atualmente ela faz curso de moda e começou a trabalhar nesse ramo. Porém, aparentemente, estava de mau a pior.

Mariana- E é tudo culpa sua!

Mari- MINHA???? Se enxerga, Mariana! Você vê onde eu estou?? Sou mais nova que você e já consegui, PELO MENOS, dá entrada em um apartamento sem mesada de ninguém.

Mariana- Olha o respeito, Marina!

Mari- Você quer respeito? Respeite a si mesma primeiro! Com 23 anos nas costas não faz nada além de depender do papaizinho para ganhar mesada. Faça-me o favor! Você não tem direito de julgar ninguém.

Exclamei com todo ódio que eu nutri durante anos aguentando-a.

Mariana- Sua...

Interrompi ela.

Mari- VAI SE LASCAR!

Gritei antes de desligar a ligação e voltar a olhar para a Sid, que me olhou assustada e bastante confusa. Porém, ela segurava um pote de sorvete e comia com a colher.

ㅡ O que é tudo isso? ㅡ Questionei-a enquanto me aproximava dela. Respirei fundo controlando as lágrimas que nem percebi que inundaram meus olhos.

ㅡ Eu percebi que você começou a alterar a sua linda voz então eu decidi comer algo enquanto ouvia tudo sem entender. ㅡ Sid respondeu me fazendo rir. ㅡ O que que aquela sua irmã falou?

ㅡ Guarda o sorvete que eu quero comer ele mais tarde. ㅡ Pedi abrindo um sorriso.

ㅡ Arg! ㅡ Ela revirou os olhos levantando do sofá.

Naquele momento, pela primeira vez, eu não me senti nenhum pouco intimidada ou com medo após falar com a Mariana. Aquela era uma sensação diferente e, consequentemente, boa.

ㅡ Pronto!! ㅡ Sid voltou correndo e sentou ao meu lado. ㅡ Me conta o que Mariana falou!

ㅡ Ela falou que o meu pai quer vim para cá, falou que ele quer me levar de volta e que aparentemente não quer da a mesada dela por causa de mim. ㅡ Expliquei toda a situação para a Sid, que me olhava atentamente, enquanto eu falava sem sentir nada.

Sabe você quando não sente nada mesmo que aquela situação possa te machucar muito? Era exatamente isso. Eu não conseguir sentir nada, a única reação automática foi as lágrimas involuntárias que eu consegui controlar.

Mariana, pela primeira vez, não conseguiu me fazer chorar.

Era a minha primeira lição.

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