10 Início do caos

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POV Emma




— Eu não posso fazer muito por você, apenas limpar como eu fiz e fazer um curativo. Precisa ir para um hospital e realizar exames, esse viralata pode ter raiva, é da rua! — a enfermeira da faculdade explica e meu olhar cai sobre Jenna que está de braços cruzados no canto da sala.

— Tenho certeza que a cadela viralata é vacinada, ela só precisa de uma boa coleira. — vejo Ortega trincar os dentes me encarando séria.

— Aqui está o pedido para ir ao médico particular sócio da universidade, é só levar na diretoria e pedir para carimbar. Vão marcar o dia da consulta o mais rápido possível, garanto. Enquanto isso, cuide dessa ferida e vamos orar para não infeccionar de hoje para amanhã. —  concordo, descendo da maca e pego o papel de sua mão.





Dou um breve sorriso agradecendo a mulher alta e saímos da enfermaria. Encaro Jenna por alguns segundos e suspiro, é nítido a sua mágoa mas eu já esperava por isso, até porque foi muitos meses sendo uma covarde e escondendo toda a verdade dela.




— Obrigada. —agradeço, a morena me olha e vejo indiferença no seu olhar, isso dói muito —A gente-

— Fala, lixo! — a voz vem seguida de algum líquido sendo jogado em meu rosto — Ops!





E escuto a pessoa se afastar na mesma velocidade que chegou. Não sei quem é, mas apenas respiro fundo levando os dedos em meus olhos fechados os secando da melhor forma possível. Solto um suspiro baixo e dou uma sacodida na mão que fica molhada com o líquido, pelo menos é água e não algo doce, ou uma vitamina cremosa e nojenta.




— Pelo menos não molhou o pedido. — levanto o papel que se encontra seco, me sinto envergonhada com a situação.




(...)




Me sento mais isolada no vagão e encaro o vidro temperado que me dá a visão de tudo do lado de fora, mordo o cantinho da minha boca tentando conter o que estou sentindo, estou desesperada por dentro. Jenna sabe da verdade agora, não só ela como provavelmente a faculdade inteira já que na saída ganhei três empurrões e um tapa forte na cabeça.
Eu não esperei pela morena, na verdade eu corri para longe dali como se fosse o último minuto de vida que tinha. Estou envergonhada, com medo e angustiada do que poderá acontecer daqui para frente. Tenho certeza que estou sozinha nessa, o que significa que todas as consequências irei enfrentar sozinha como já era esperado, eu sabia que ia perder ela, só não contava que seria tão rápido assim.




— Moça? Tudo bem? — uma mulher chama minha atenção e eu afirmo limpando meu rosto das lágrimas idiotas.

— Está sim, obrigada. — dou um sorriso forçado e ela suspira me deixando quieta.





Parei na minha estação um tempo depois e caminhei com desânimo para casa, me sinto exausta e sem cabeça para nada hoje. Pego as correspondências na entrada de casa e adentro encontrando apenas minha mãe almoçando distraída, mas quando seus olhos batem em mim logo vejo sua expressão confusa. Dou um pequeno sorriso completamente sem emoção praguejando quando meus olhos malditos se enchem novamente, traidores.
Minha mãe de imediato entende tudo sem eu precisar falar nada e se levanta vindo até mim, seus braços são reconfortantes e não tem lugar mais seguro para mim do que debaixo das suas asas. Deitada com a cabeça em seu ombro eu desabo e choro feito uma criança, choro tudo o que estava segurando e o que eu nem sabia que estava sentindo devido a tantos sentimentos juntos.




— E-Ela me odeia, mãe! — soluço contra seu ombro ganhando um carinho nas costas — Eu p-perdi ela...

— Calma, Emma. Respira fundo e se acalma. — escuto ela e começo a tentar me acalmar — Te machucaram, meu amor? Por que está molhada?

— Isso não importa, mãe. Jenna me odeia e com certeza está com nojo de mim! — mamãe segura meu rosto com cuidado e seca minhas bochechas, sim, Brenda Myers sabe sobre minha Ortega.

— É impossível odiar e sentir nojo de um ser tão bom quanto você, filha. Se essa garota gosta mesmo de você pelo menos um pouco do tanto que minha pequena gosta dela, vai demorar pouco tempo para se resolverem. — seu sorriso é reconfortante em meio ao meu desespero — Bem, chegou o dia de conversar com a diretora Gwendoline e partir para o segundo plano!

— O que fez para o almoço? — fungo mudando completamente de assunto, ela sorri para mim e me puxa para a cozinha. Não quero preocupar ela demais com meus problemas que estão grandes.





Eu poderia pedir folga para o meu chefe hoje, mas não posso me dar ao luxo de ter dinheiro descontado no final do mês por causa de uma mordida. Tudo bem que parece uma mordida de um ser humano maníaco que pretendia me matar, mas só são marcas profundas de dentinhos inocentes que me fizeram quase mijar nas calças de tanta dor, nada demais e eu a perdôo, claro.
Eu tenho que admitir que o trabalho hoje foi difícil já que movimenta muitos os braços, o suor já estava escorrendo por minha testa e minhas costas, fora a dor no ombro que intensifica aos poucos a cada hora. Os olhos de Hunter me queimaram o dia todo, mas eu não retribuí essa atenção porque pretendia esperar para explicar depois toda a situação desastrosa.
Na hora do lanche eu confesso que me tranquei no banheiro e com o celular da minha mãe, entrei no Instagram para ver como ela estava e fiquei surpresa ao ver que estava tudo do mesmo jeito, Jenna é sentida e quando está mal chega ao nível de mudar as redes sociais, palavras de Hilary uma vez, aquela vaca falsa que sabia de tudo e fingiu esse tempo todo me suportar para que Jenna permanecesse no grupo, mas parece que ela chutou o balde já que decidiu expor tudo sem pensar duas vezes, sinceramente, não entendi essa jogada.





— Você vai sair desse banheiro ou vou ter que usar minha luz gay para derrubar? — dou uma risada baixa com a voz de Hunter do lado de fora — Vai, abre amiga...

— Oi... — murmuro, Doohan comprime os lábios e me puxa para um abraço apertado quando saio do banheiro da firma.

— Sua mãe me contou o que aconteceu... Se Jenna te largar eu juro que viro um hétero, me caso com você e viveremos felizes em Paris para sempre! — só ele para me fazer rir uma hora dessa.

— Você hétero? — ainda no abraço encaro o loiro que faz o mesmo em seguida gargalhando junto comigo — Eu não vou ser a passiva, não mesmo!

— Então fechou, porque ativa com você não tem possibilidade. — voltamos a rir e caminhamos pelo grande balcão — Se você quiser eu arrumo um jeito e passo a te levar até na entrada da sua sala, arrumo um jeito de te buscar todos os dias também, pelo menos até às coisas amenizarem.

— Não se preocupe com isso, eu sei me cuidar. Mas me fala... Não trouxe nem uma barrinha hoje? — Hunter sorri maquiavélico e tira duas barrinhas de proteínas com chocolate do bolso — Você é a gay mais perfeita desse mundo, Hun!

— Sua falsa interesseira! — finge descontentamento e eu dou risada, só ele mesmo para me fazer ficar alegre em meio a tanta bagunça.

The best of me-JemmaWhere stories live. Discover now