Final

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O dia clareou de forma tão fraca, que demorei alguns minutos para compreender que já havia amanhecido. Me espreguicei na cama, enrolando os pés no lençol quente, puxando o travesseiro para o meu rosto logo em seguida.
Ao olhar para o celular, posto abaixo do abajur, dei-me conta de que estava atrasada, atrasada para o primeiro dia no trabalho novo.
Não era a primeira vez que Aizawa se decepcionava comigo, e não apenas em relação aos empregos que tentou me colocar.
Me troquei, pondo a nova roupa que, por incrível que possa parecer, já estava no cabide pronto para vestir. Talvez o meu subconsciente já estivesse preparado para o meu atraso. Baguncei os cabelos no espelho, tomando minha bolsa, logo correndo entre as ruas, ativando a individualidade do ar para chegar até o edifício e meu encontro marcado.

— Olá, olá. Um bom dia! — Disse para o segurança no portão assim que cheguei. — Sabe como meu pai estava hoje?

— Bom dia, (S/n). Digo que não estava de um  humor agradável.

Suspirei ao procurar uma sala em específico. O prédio mudou muito desde a última vez que estive aqui, e faz anos. Ao encontrar, entro já com o homem enraivecido em minha frente.

— Tem relógio para saber que horas são, (S/n)? — Disse meu pai, agora como atual diretor da U.A. — Quer saber, nem se explique. Seus alunos estão esperando. Turma 1A.

Ao encostar a porta, lhe mandei um beijo pelo ar. Atrasei trinta e cinco minutos, não estou tão mal assim, embora saiba que logo mais serei punida por isso, talvez no salário, o que não faz diferença.
Tomei fôlego antes de entrar. As falas agitadas desfizeram-se assim que pisei no lugar. Nervosa, caminhei até a minha mesa, a de professora.

— Bom dia, alunos, sou a senhora (S/n) (S/s), professora responsável por vocês esse ano. — Disse tentando parecer confiante. — Acredito que já saibam um pouco sobre mim, mas bem, me formei aqui há alguns anos e após atuar como super heroína decidi dar aulas como uma forma de me redimir sobre o meu passado. Peço que não investiguem sobre ele, embora tenha a certeza de que ficaram curiosos. — Sorri de lado. — Não sou como o meu pai, fiquem tranquilos, podem conversar normalmente comigo. O que vocês esperam de mim como orientadora de vocês? — Me sentei sobre a mesa.

Os alunos me pareceram mais surpresos do que ansiosos com as aulas. Me pergunto se Aizawa não comentou nada sobre eu ser a professora deles. A possível verdade é a de que eu esteja mais ansiosa do que os mesmos, já que por ser a turma 1A tenho certas lembranças, estas boas e ruins. O silêncio desapareceu quando uma jovem de pele rosa e fios rubros se pronunciou.

— Se você é a (S/n) que conhecemos, isso significa que você é casada com...

— Sim, isso mesmo! — Dei uma curta risada. — Bom, se não há mais nada a perguntar, vamos começar com um pouco de teoria, sim? — Me aproximei do quadro negro.

— Professora (S/s), por que sente que dando aulas irá se redimir por algo que fez há muito tempo? — Um rapaz tímido ao fundo da sala perguntou em um tom de voz baixo, o que me manteve de costas por ser inesperado.

— Essa é uma ótima pergunta, querido. E por favor, me chame apenas por (S/n). — Tomei a liberdade de me sentar, desta vez sobre a cadeira, atrás da mesa.

Embora tenha doído, meu passado me marcou muito. Quando penso sobre isso, sinto cheiros, sinto dores, sinto saudades daqueles que se foram e dos que nunca tive oportunidade de me despedir, e de tudo aquilo que deixei ir sem aproveitar e curtir.

— O que posso dizer a vocês é que o que está lá atrás é para se refletir, nunca para se repetir. Não quero assustar vocês, mas eu era uma garota terrivelmente burra e imprudente. As decisões que tomei... As vezes penso que voltar no tempo me faria pensar melhor, mas a verdade é que não faria nada diferente, pois não seria o que sou hoje se tudo não tivesse acontecido conforme aconteceu. — Suspirei. — O que eu quero dizer a vocês é que ainda é cedo para ser tarde demais. Eu quero ser aquilo que eu não tive quando nova, que eu consiga fazer vocês não cometerem os meus erros. Nós devemos curar aquilo que ficou, viver o agora e sonhar com o que vem pela frente, e essa minha frente são vocês crianças.

Look To Me - Imagine BnHAWhere stories live. Discover now