44 | uma pitada de caos

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O ruído de uma rajada de vento batendo nas folhas das árvores foi o único som que se fez ouvir por um momento e, se prestasse atenção suficiente, poderia ainda escutar a respiração ruidosa do Marco, que permanecia com o olhar duro e frio preso ao ...

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O ruído de uma rajada de vento batendo nas
folhas das árvores foi o único som que se fez ouvir por um momento e, se prestasse atenção suficiente, poderia ainda escutar a respiração ruidosa do Marco, que permanecia com o olhar duro e frio preso ao meu suposto irmão. Ele, por sua vez, ainda apresentava uma expressão de certo deleite e felicidade, como se tivesse finalmente alcançado alguma meta ou cumprido com um objectivo, o que me deixou tão curioso e intrigado quanto a sua repentina aparição.

A Irina ainda chorava silenciosamente, chegava até a tremer de forma quase violenta, e eu não era capaz de ler a sua expressão com clareza; não conseguia sequer imaginar se ela sabia ou não da existência do rapaz há alguns metros de nós, em frente à porta, ainda com alguns dos homens do Marco às suas costas.

— Devo confessar que os seus genes são surpreendentemente fortes... — voltou a falar, com uma gota de deboche escorrendo pelo tom — Digo, eu e ele somos praticamente a cópia um do outro e-

— Fecha essa boca! — o mais velho vociferou, finalmente atrevendo-se a dizer alguma coisa — Vai imediatamente com eles ao meu escritório!

— Ah, pai, eu estou cansado de ficar sentado... — desdenhou com um chiado, movendo-se para se aproximar da mesa sem hesitação alguma — Além disso, estou cheio de fome e este desjejum parece maravilhoso!

Quase estupefacto, observei-o puxar uma cadeira e sentar com a maior naturalidade do mundo. Ele serviu-se de uma xícara de café e praticamente atirou um dos biscoitos amanteigados na boca ao relaxar contra o encosto da cadeira.

— Que falta de respeito a minha. O meu nome é Nathan. — disse a mim — Nathan O'Connell.

O Marco finalmente levantou-se e seguiu em passos largos e pesados para fora da sala com o celular em mãos, furioso. Eu até acharia engraçado o estado no qual ele se encontrava, mas estava surpreso demais para isso. Não era fácil de assimilar que, de um minuto para outro, tinha um irmão que, supostamente, nunca havia nem pisado naquela casa.

— Idris. — murmurei, contendo a vontade que tive de abandonar também a sala quando a Irina literalmente correu para outro cómodo. Acabei também me sentando, e foi estranho parecer estar a encarar o meu próprio reflexo. Um evento quase assustador.

— Eu sei. — sibilou após engolir um gole e pousou a xícara de porcelana, sereno — O filho predileto.

Tossi uma risada, achando graça na certeza que carregava nas palavras.

— Se eu sou o filho predileto, não sei o que tu deves ser.

— Basicamente, aquele que foi escondido de tudo e todos por dezanove anos. — deu de ombros, observando a mesa cheia aparentemente à procura de mais algo interessante para comer — Obrigado a viver nas sombras que nem um rato apenas para não arruinar a reputação de um pai ausente e não acabar com a luxuosa vida de uma rameira.

IDRISWhere stories live. Discover now