34 | boca amarga

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Eleven Tudor foi a primeira mulher que magoei intencionalmente

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Eleven Tudor foi a primeira mulher que magoei intencionalmente.

A primeira de quem fui a ruína, de forma tão gradativa e destrutiva que, no final, dela apenas sobraram cinzas.

A tatuagem feita em sua homenagem não me deixava esquecer, mesmo que o pequeno "11" estivesse praticamente escondido entre os outros desenhos no braço. Em todas as vezes que me encontrava sóbrio, a imagem dos olhos esverdeados, cabelos em tons de caramelo e mel e da pele negra engolia a minha mente. Era como se pudesse sentir até o suave aroma do seu perfume e o toque das mãos macias e delicadas no meu braço, como se ela estivesse ali, comigo, falando por horas a fio acerca dos livros que desejava escrever e do sonho de ter o seu talento reconhecido.

Eleven era quase divina de tão bonita, mas o que eu mais apreciava era a sua forma de pensar, e a mentalidade aberta. No entanto, por mais que reconhecesse todas aquelas qualidades, ela era proibida para mim; sendo a irmã mais nova de um dos meus amigos mais próximos na época, a negra de cabelos cacheados que literalmente vivia em mundos fantasiosos não poderia, em momento algum, se tornar algo mais do que uma espécie de irmã para mim. Fora isso, ela era mais nova, e eu jamais me envolveria com uma miúda de dezasseis, tendo dezoito anos de idade.

Eu a quebrei, em todos os sentidos da palavra. Deixei, por pena, que ela me contasse sobre os problemas em casa, nos quais os seus pais tragavam a vida um do outro diariamente e descarregavam suas frustrações nos filhos. Permiti que ela procurasse calor nos meus braços nas madrugadas frias que passávamos, todos juntos, em festas nas quais nos drogávamos o suficiente para não conseguirmos mais sequer ficar em pé, deixei que me contasse sobre os mundos que criava em páginas antes em branco, e que me tocasse da forma mais carinhosa possível. Tudo isso sabendo o quão apaixonada ela era por mim, desde os treze anos, enquanto eu não sentia absolutamente nada por ela.

Eu a deixei confusa com todas aquelas demonstrações de afecto, seguidas de beijos e amassos com mulheres aleatórias em momentos nos quais sequer lembrava mais o meu próprio nome. Virei-a do avesso com certos comportamentos e reações explosivas quando não conseguia lidar com a pressão que o meu pai exercia sobre mim todos os dias. Arranquei-lhe os sorrisos doces do rosto em todas as vezes nas quais rejeitei o seu carinho ou ignorei as suas palavras, embriagado e chateado demais para querer engolir a sua presença. A presença da única pessoa que amou verdadeira e incondicionalmente cada parte de mim, até a mais podre e irracional.

Ela estava em todo o canto, não ia embora, não desaparecia, mas precisava. Era isso, ou eu continuaria a sugar cada partícula da sua vida como o filho da puta egoísta que era.

Não estava apaixonado, mas adorava o jeito como ela suportava o mais feio dos meus lados. Adorava o jeito como ela mostrava querer ficar por perto, nem que fosse para explicar coisas que eu sequer entendia por estar fodidamente bêbado, até o dia em que ela apareceu com alguns cortes nos pulsos.

IDRISWhere stories live. Discover now