Eu não podia ver nada, estava no escuro

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"...flutuando ao redor do meu destino perdido" 

(ASTRO — Stardust)

Kim Taehyung rolou na cama, soltando um resmungo quando sentiu seu corpo doer pela péssima posição em que tinha dormido na noite anterior.

Tinha chegado a Seul há mais de oito meses e ainda não tinha conseguido um emprego e nem se livrar dos pensamentos ruins que pesavam sua mente e seus ombros. Por isso, suas noites de sono eram sempre tão ruins e lhe causavam tantas dores no corpo quando acordava no dia seguinte.

Seus olhos estavam pesados e ele não queria abri-los, estava confortável daquele jeito: sem enxergar o mundo e se escondendo de tudo e de todos, na ideia infantil de que se ele não via nada, também não era visto por ninguém. Mas, infelizmente, precisava levantar da cama, tomar seu café da manhã e iniciar a jornada diária de procurar um emprego; depois, observar a vida de seus amigos e familiares na internet, felizes e sorridentes, após subjugarem e abandonarem Taehyung no momento em que ele mais queria um alento das pessoas que juraram amá-lo para sempre, não importava o que acontecesse.

Seus dias eram sempre os mesmos: acordar, comer, sair e ir à agência de empregos, chorar enquanto envia currículos pela internet em casa ao som de alguma música triste em seus fones de ouvido, desenhar, navegar pela internet e se sentir um inútil abandonado pela própria família e pelas pessoas que ele chamou, um dia, de amigos.

Ouviu uma música alta demais para aquele condomínio começar a tocar, mas ouvia aquelas músicas altas demais todo dia pela manhã, desde que um novo vizinho se mudou para o apartamento do lado, isso há uns três meses. Costumava durar uns quinze minutos, raramente mais que isso, e depois parava, trazendo silêncio durante o dia inteiro, quando o tal vizinho saía para o trabalho.

Quer dizer, Taehyung acreditava que a música parava quando o vizinho saía para o trabalho, já que todo santo dia no mesmo horário aquele ritual acontecia, mas ele não fazia a menor ideia sobre a veracidade de seu achismo.

Taehyung estava cansado.

Mentalmente cansado.

Emocionalmente cansado.

Mas, naquele dia, tinha que sair de casa e ir até a agência de empregos, na semana anterior, o supervisor disse que talvez uma boa vaga surgisse na área de atuação de Taehyung e que ele deveria voltar na segunda-feira sem falta para confirmar e se candidatar à vaga.

Depois de seu ritual rápido de arrumação para não sair parecendo um morto-vivo, Taehyung pegou tudo que precisava e se encarou no espelho, arrumando o cabelo num penteado de "sou sério, mas não um executivo, por favor me contrate para ser o designer da sua empresa, eu imploro!". A música do vizinho tinha parado há um bom tempo, o que significava que ele já tinha saído de casa.

Ou só voltado a dormir.

Ou, sabe-se lá o que ele fazia.

Taehyung nunca o viu na vida, não sabe seu nome e nem conhece sua aparência, mas tem total certeza de que é alguém jovem, pois não achava ser possível que uma pessoa mais velha ouça músicas tão alto pela manhã. Ninguém com mais de trinta anos faria aquilo, disso Taehyung tinha certeza.

Ajeitou a roupa e saiu sem pensar muito mais. Precisava muito daquele emprego. Muito mesmo. O orçamento estava começando a ficar apertado e, naquela toada, acabaria morando na rua em breve. Não voltaria para Daegu. Nunca mais. Preferia morar na rua do que voltar para aquele lugar que foi seu lar, mas que o machucou tanto e o expulsou sem pensar duas vezes quando mais achou conveniente. Taehyung saiu de lá em busca de uma vida feliz e independente em Seul, mas ainda não tinha encontrado nada disso.

Esperava que acontecesse logo. 

Stardust | TAEKOOKTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang