Passou uma hora e desmarquei com uns pacientes, pois não conseguiria atendê-los. Liguei para meu pai, minha mãe, Renan e Evelyn. Todos estão bem, mas estou angustiada. Nosso casamento é daqui a um mês e não posso deixar que ele me afete desse jeito. Com as mãos entre meus cabelos e o cotovelo sobre a mesa, estou imersa nos meus pensamentos quando ouço uma batida na porta.

— Entra!

— Senhora, posso sair mais cedo? Não estou me sentindo bem...

— Claro, bom descanso. Carla, esqueça tudo o que você viu aqui, por favor, ou você também pode se tornar um alvo.

— Fica tranquila, Ive. — Olho nos seus olhos e percebo que ela não parou de chorar. Quando ia falar mais alguma coisa, ela vira as costas e vai embora.

Pego o telefone e, controlando minha voz que estava rouca, ligo novamente para o Renan. Ele estava em reunião e não quis atrapalhá-lo.

— Oi minha princesa, desculpa ter que falar rápido aquela hora, era um investidor de fora...

— Oi a...mor. — sem querer minha voz oscila.

— O que foi amor? Por que a sua voz está assim? Aconteceu alguma coisa, não minta pra mim, você sabe que eu te conheço como ninguém.

Disfarço minha voz e sorrio com sua preocupação.

— Não é nada, vida. É só preocupação com a Judy... — Por um lado, não estou mentindo, realmente estou muito preocupada com ela. Mas nesse momento, o medo de acontecer algo de ruim com eles está me destruindo e, por mais que eu tente, ao fechar os olhos vejo meu gato naquele estado.

— Sinto muito amor, o que pudermos fazer para ajudar a pequena, vamos fazer.

— Eu sei amor, obrigada por se preocupar... amor?

— Oi minha vida?

— Eu te amo muito. — Sem conseguir conter as  lágrimas, elas rolam pelo meu rosto sem parar.

— Também te amo mais que tudo nesse mundo...— Ouço vozes até que ele se despede. — Minha princesa, vou ter que desligar, chegou a... bom, chegou um problema e vou ter que resolver.

— Mas está tudo bem?

— Espero que sim, não se preocupe.

— Tá bom, te amo infinitamente! Se cuida... — Desligo o celular e volto a me sentar.

Respiro fundo, tentando controlar essa tristeza do meu peito. O telefone toca e é um paciente que iria vir agora. Como não consegui contato quando liguei desmarcando, ia atendê-lo se viesse. Aconteceu um imprevisto que impediu dele chegar. Dou graças a Deus, pois realmente não estou bem para atender agora.
Logo após desligar, o telefone toca novamente. É a professora da Judy, disse que a mãe dela vem conversar comigo ainda hoje.

Levanto e vou ficar na recepção. Sem querer, as lágrimas escorrem pelo meu rosto novamente ao pensar na imagem do meu pequeno gatinho que não fez mal a ninguém. Penso que aquela imagem nunca mais vai sair da minha cabeça.
Limpo meu rosto correndo quando vejo uma moça se aproximar. Apesar de ser muito bonita, sua aparência é cansada e seus olhos têm olheiras profundas.

— Oi, você pode dizer para a senhora Ive que a mãe da Judy chegou.

— Oi, sou eu mesma.

— Desculpa, é que a professora disse que a secretaria estaria na frente. Prazer, sou Jessica.

— Não tem problema, vamos para o meu escritório.

— Tudo bem.

— Se importa se eu trancar a entrada? — Ela me olha com um ar de desconfiança, mas concorda.
Agora estou com medo de ficar no meu próprio consultório. Reviso se está trancada duas vezes, caminho para a sala, sentamos e começo a conversar com ela. No meio da conversa, reparo algumas marcas em seu rosto, braços e pernas.
Ela segue meus olhos e começa a ficar nervosa, tentando cobrir as lesões.

INFIEL Where stories live. Discover now