Contra as Trevas

204 32 12
                                    

Coelhão ouviu o som de algo quebrando e ao desviar os olhos para baixo ele pôde ver várias rachaduras começando a se formar no gelo que cobria o chão e prendia suas pernas; eles cresciam mais e mais a cada segundo, como fios de uma enorme teia de aranha. Ele tentou se mover, notando que o aperto do gelo havia se afrouxado levemente, se ele chutasse as pernas com força ele acabaria se soltando sem muito problema. Coelhão ergueu os olhos, os focando no rapaz parado no meio da caverna.

Jack Nightmare ainda estava parado no mesmo lugar, como se ele tivesse se transformado em uma estátua. Em suas mãos estava a pequena fadinha, agora completamente envolta em gelo.

Um silêncio tenso pairava no ar.

Até que ele foi cortado por um soluço.

As orelhas de Coelhão se arrepiaram levemente, ele conhecia aquele som, já tinha ouvido uma ou duas vezes naqueles últimos sete anos. Ele teve que segurar a vontade instintiva de correr na direção do rapaz, tomá-lo nos braços e tentar acalmá-lo. Ele ainda não sabia o que estava acontecendo com Jack.

"Jack...?" Coelhão chamou tentativamente, inclinando a cabeça, tentando encontrar os olhos do rapaz.

E por um momento Jack pareceu ter erguido os olhos para ele, encontrado com os de Coelhão. As orelhas do Pooka se atiçaram novamente. Aqueles olhos podiam ainda ser vermelhos cor de sangue, mas havia um brilho neles, um brilho muito familiar para Coelhão.

Jack Frost.

Mas Frost não estava ali, no meio da caverna subterrânea, mas sim em um lago congelado. O gelo estava rachando lentamente em baixo de seus pés, fino demais para segurar seu peso por muito tempo, mas pouco lhe importava as rachaduras em baixo de seus pés descalços e já bem acostumados ao frio, mesmo sendo tão rosados e tão cheios de vida quente; ele só tinha olhos para as rachaduras em baixo dos pés calçados de outra pessoa, que o encarava com os olhos bem abertos, arregalados, e dizia para ele com a voz trêmula:

"Jack... Eu estou com medo..."

As palavras se repetiam em sua cabeça. Tinha sido assustador ouvir aquelas palavras vindo de sua irmã, a voz que sempre o acompanhava rindo de suas brincadeiras, agora tremendo, como que imitando o som do gelo quebrando.

Depois de tanto tempo sem memórias, Jack agora se lembrava bem daquele dia, sempre se lembrava daquele dia, do dia em que os dois tinham saído para patinar. O inverno estava apenas começando, o gelo não estava grosso o suficiente em algumas partes do lago, mas Emma tinha insistido uma vez que ela tinha acabado de ganhar patins novos de seus pais. Ele se lembrava de quando ouviu o gelo quebrando quando os dois se aproximaram do centro do lago e de como seus olhos se arregalaram ao ver que as rachaduras estavam crescendo em baixo de sua irmã.

Mas aquilo tudo estava no passado, Jack sabia disso.

Então porque ele estava de volta naquele mesmo lugar, cercado pelo gelo? E porque Emma estava... Em suas mãos, envolta em gelo, os olhinhos fechados como se perdida em um sonho profundo? Baby Tooth.

Jack nunca tinha pensado muito a fundo porque ele se dava tão bem com a pequena fadinha, mas desde o momento em que ele tinha salvo Baby Tooth dos Pesadelos tinha sentido que havia alguma coisa que os unia. Como ele não tinha notado aquilo antes, ele não sabia...

Mas que momento para descobrir que ele tinha machucado aquela por quem ele tinha morrido para proteger.

"Emma... Me desculpa..." Jack murmurou, finalmente notando as lágrimas que estavam rolando por suas bochechas.

O silêncio na caverna foi entrecortado pelos soluços do garoto de gelo, o frio crescendo a cada lágrima que caia.

Jack pôde sentir o gelo deslizar por suas mãos, atingindo o chão com um som oco e baixo. Ele ouviu um tilintar, reconhecendo o som suave de asas de beija flor. Jack piscou uma ou duas vezes, tentando afastar as lágrimas. Ele sentiu um toque contra a ponta de seu nariz e o pequeno peso - quase não existente - na palma de sua mão se moveu.

A Guardian's Diary 2 - The Rise of Jack NightmareWhere stories live. Discover now