Atalanta morava na parte sudoeste, assim como quase todos. Eram ali que ficavam os chalés para guerreiros e casas de famílias abrigadas. Também onde treinavam, comiam e batalhavam entre si.

Logo ela viu que quem fazia a algazarra logo cedo eram os garotos do chalé número 17. Só podiam ser eles.

- Ei, a capitã está vindo! - bradou um garoto, assustado, apontando. Ele era um dos cinco que faziam roda para a batalha entre dois deles.

"Capitã" era como eles chamavam Atalanta, reconhecidamente a melhor guerreira entre eles, o quê, de quebra, havia lhe rendido um chalé inteiro só para ela. Não podia reclamar, de fato.

- Sem problema, Evans. - Atalanta fez um sinal de desinteresse. - Finjam que eu não estou aqui.

O garoto assentiu, parcialmente assustado.

- Sua postura defensiva não está firme o suficiente, Holgate. - ela notou, observando os garotos que batalhavam. Um com uma lança, na ofensiva, e o outro com escudo, na defensiva. - Você sabe disso, não é?

- Sim, senhora. - ele disse, mexendo os pés para a posição certeira.

Atalanta nunca deixava de exercer a posição de liderança que havia sido lhe confiava, mesmo sendo mais nova que a média de seus próprios companheiros. Ela tinha 17, enquanto alguns tinham 22, 23... até mesmo 26. Alguns deles tinham lutado com as forças de Cronos na Batalha de Manhattan, 10 anos atrás.

- Capitã Atalanta! Aqui, por favor. - ela escutou alguém chamar.

Era o Sátiro mensageiro Speed. O sátiro "mais rápido de toda a Grécia"; palavras do mesmo.

- Ei, Speed. Bom dia. - disse ela, se aproximando do animal.

Ele tinha uma aparência velha. Barbicha branca longa que se misturava com seu pelo surrado de animal, cabelo rareando, olhos verdes e cansados. Vestia sua casual roupa esportiva, sem tênis, claro, para os cascos.

- Tem algo para mim? - Atalanta perguntou, casualmente. Era claro que tinha. Speed não vinha para aquele lado da ilha sem uma mensagem.

- O General quer uma palavrinha com você. - Speed informou. - Disse para não demorar.

- Ah, certo. - Atalanta concordou, apreensiva. O que Céos tinha a lhe dizer? - Na casa dele?

- Na fazenda de Epimeteu, se possível. - o Sátiro respondeu. - Ele já deve estar por lá.

- Ok. Mais alguma coisa? - perguntou ela.

- Tudo que me foi informado, Senhorita. - Speed fez uma breve reverência.

- Eu já vou, então. Apenas preciso conferir uma última coisa por aqui.

O sátiro fez uma última reverência e então partiu, tão rápido quanto o vento.

Pacientemente, Atalanta caminhou pelas portas dos chalés. O ambiente começava a ficar animado, com todos acordando, mas a garota não prestava muita atenção no momento. Estava preocupada com a chamada do General Céos. Não conversava com ele à tempos. O que será que ele precisava dizer de tão importante assim?

Primeiro, precisava visitar alguém.

A porta estava aberta, mas ela tratou de bater assim mesmo.

- Ei, capitã. - a garota respondeu, com a voz suave e amena de sempre. Seu sorriso era acolhedor, mesmo que sua expressão fosse triste e preocupada.

- Não precisa me chamar assim, Julia. - Atalanta respondeu, entrando no chalé. - Atalanta está ótimo.

Julia Walker sorriu, enquanto passava a mão no cabelo de sua irmã, Sam. Por sinal, Sam não estava nada bem. Estava assim desde que haviam chegado ali, na semana passada.

- Sem melhora na febre? - Atalanta perguntou, preocupada.

Julia balançou a cabeça negativamente. Não havia nem tentativa de sorriso em seu rosto mais. Ela morria de preocupação. E Atalanta também.

A guerreira havia resgatado as duas de uma quase morte nas mãos de um ciclope em Nova Jersey, durante sua última saída. Duas semi-deusas perdidas. Nenhum sátiro havia chegado para elas. Nem o acampamento meio-sangue, nem o acampamento júpiter. Ninguém tinha notado a existência e se importado com aquelas duas garotas. E ainda falavam que nenhuma criança olimpiana ficava sem ter para onde ir.

Julia tinha dezesseis, Sam tinha doze. Escapando de monstros desde...? Julia mal podia se lembrar. Aquelas garotas tinham tantas sequelas que chegava a ser bizarro. A pior de todas agora era a doença misteriosa em Sam. Ela parecia sofrer de uma febre infinita, que consumia seu corpo e todas as suas forças. Nenhum médico de Nova Criméia havia conseguido identificar a origem daquilo. Nem mesmo o Néctar dos Deuses que Atalanta havia lutado para conseguir parecia surtir algum efeito. As irmãs Walker, filhas de Hécate, a deusa das encruzilhadas, estavam como passageiras da agonia.

- Eu vou ver se consigo mais Néctar na próxima vez que sair...

Julia inesperadamente segurou na mão de Atalanta, o que pegou a garota desprevenida.

- Agradeço muito o que está tentando fazer por nós, Atalanta. - Julia disse, novamente tentando colocar um sorriso no rosto.

Julia era uma garota linda, não era difícil ser simpática daquela maneira. Seu cabelo castanho suave, seus olhos de mesma cor... tudo isso combinado trazia uma estranha sensação morna a qualquer um que falasse com ela. Era estranhamente reconfortante trocar palavras com Julia.

- Não estou fazendo nada que não deveria. - Atalanta manteve a compostura.

- Hum. - Julia sorriu. - Você é uma fofa.

- Ah... eu o quê? - a compostura de Atalanta foi embora. Não era disso que ela era normalmente chamada.

Julia soltou uma risada. Atalanta ficou feliz em escutar aquilo.

- Não é nada. - a garota disse, mais uma vez passando a mão na testa de Sam. - Eu só queria poder saber o que está acontecendo com Sam. Se ao menos soubessemos, tivessemos uma dica qualquer... os médicos poderiam fazer muito mais do que estão fazendo. E você não precisaria se desdobrar por nada.

- Não estou me desdobrando. - Atalanta retrucou.

- Ah, para. - Julia respondeu. - Eu fiquei sabendo que é muito díficil arranjar Néctar dos Deuses se você não é do Acampamento Meio-Sangue ou do Acampamento Júpiter. Me disseram que é muito complicado e perigoso de se encontrar.

- Não é pra tanto. - Atalanta deu de ombros. - Eu tenho um olho bom pra essas coisas.

- Se você diz... - Julia deu de ombros. - Eu ainda não entendo muito dessas coisas.

Na cama, Sam gemeu de dor. Julia imediatamente se virou totalmente para a irmã, acariciando-a e falando baixinho palavras encorajadoras.

- Nós vamos dar um jeito, Julia. - Atalanta prometou. - Vou me encontrar com o general logo mais. Verei o que ele pode fazer.

Julia concordou com a cabeça, sem falar nada. Ela parecia admirada com a persistência de Atalanta.

- Agradecemos muito. - ela disse. - Somos eternamente gratas a você, Capi... digo, Atalanta.

Atalanta esboçou um sorriso. Momentaneamente, no fundo de sua mente, lembrou-se de sua relação com Ethan Nakamura. Será que Julia a via da mesma maneira? Subitamente, ela sentiu uma enorme vontade de lutar por aquelas duas. Não podia deixá-las na mão.

- Seu olhar é incrivelmente determinado. - Julia percebeu, admirando o rosto da garota. - Chega a me dar um pouco de medo, confesso.

Atalanta sorriu, mas não respondeu àquilo.

- Vou indo, Julia. - ela disse. - Volto assim que possível.

Julia se despediu com um aceno de cabeça e então retornou suas atenções para a irmã.

Com a cabeça cheia de pensamentos, havia chegado a hora de atravessar a ilha para ver o que o Titã da Sabedoria, Céos, havia para lhe dizer. Arrepios percorriam em seu corpo só de pensar.

A Guerreira da Eternidade (Percy Jackson)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora