No Interior

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  Ok, ele estava dentro. Agora não tem como voltar atrás. O silêncio do local era perturbador, e a chuva abafada tornava tudo ainda mais inquietante. Thony imediatamente tirou sua lanterna do bolso e a acendeu, junto com uma machadinha escondida por entre o sobretudo. Ele pode ter esquecido do uniforme, mas disso... Não, ele não esqueceria. Ele sabia muito bem que a Freddy’s não era normal. Sabia muito bem que precisaria se preparar para a ocasião e que, após colocar seus pés lá, sua vida estaria em risco. As pessoas de Hurricane espalhavam lendas sobre a pizzaria local, Freddy Fazbear’s, desde os anos 80. Mas Thony não se preparou só por causa delas. Ele viu diante de seus próprios olhos. Viu o que um animatrônico é capaz de fazer com uma pessoa.

  Após conferir seu “arsenal” por algum tempo, Thony decidiu explorar o local. Empunhando firmemente sua lanterna em uma mão e sua machadinha na outra, ele caminhou de maneira lenta e calculada, como se estivesse pisando em um território hostil. E, de fato, podia ser. A sala em que estava era o local de alimentação da Freddy’s. Seis mesas de jantar estavam espalhadas pela sala, com cadeiras e chapéus de festa arrumados de maneira uniforme em cada uma delas. “Bom, continua sendo uma pizzaria.” Pensou.

  Thony andou por entre as mesas, iluminando enquanto analisava a área ao seu redor. Seu olhar congelou em um palco de madeira, com três figuras presentes nele. Uma estranha sensação de náusea o dominou por completo. Um coelho roxo, um urso marrom e uma galinha amarela estavam parados fitando o nada, seus olhos... vazios e sem vida. Era como se o trio fosse começar um show, ou acabado de terminar um. A segunda opção parecia mais viável.

  Ver os mascotes novamente fez Thony lembrar de seu passado. Não daquele trágico evento, mas sim do tempo em que passava se divertindo na Freddy Fazbear’s Pizza. Freddy Fazbear, o urso vocalista e líder da banda, sempre foi seu favorito. Sua mãe frequentemente o deixava na Freddy’s se fosse necessário, já que não havia ninguém para ficar com Thony enquanto trabalhava. Seus pais eram divorciados, e ela conseguiu na justiça o direito de guarda do filho. Thony admirava a sua garra e determinação, algo que ele levou como exemplo para tentar superar seu trauma que o assombra até hoje.

              Beep beep beep beep

Thony se assustou, no que pareceu o maior susto de toda a sua vida. Ele verificou seu relógio com o coração a mil, se recuperando gradativamente. O som de seu alarme soou extremamente alto, tão alto que ecoou por toda a pizzaria. Ele encarou os animatrônicos em sua frente em uma pose de autodefesa, estando preparado se por acaso algum deles acordasse. Ele imediatamente parou. Um robô acordar por um ruído alto? Soa idiota. Thony checou seu relógio, enxugando o suor de sua testa com o antebraço.
00:00.

“Tá na hora”

12 AM

  Thony deixou o salão de jantar para trás e foi em direção ao escritório de guarda noturno. Enquanto passava pelo corredor, ele notou desenhos de crianças pregados nas paredes. Um era sobre uma garota de vestido vermelho de cabelos espetados abraçando Freddy Fazbear, com a frase “MEU DIA DIVERTIDO!!!” estampada em amarelo na parte superior. Outro era sobre mais uma garota, mas de vestido rosa e cabelo loiro, voando com balões no céu aberto com a mesma frase do anterior. “Essas crianças são bem criativas” – Pensou Thony. “E inocentes também.”

Ao chegar no final do corredor, Thony parou em frente à uma janela do então escritório e decidiu espiar por ela. Por que ele é tão pequeno assim? Ele se dirigiu à porta ao lado, desligando sua lanterna e a guardando no bolso - afinal, uma lâmpada amarela no teto já iluminava o “cubículo”, exceto nas duas entradas para o local. Lá dentro, Thony fitou a porta esquerda; o fato da falta de iluminação lá o deixou levemente desconfortável. Thony manteve a machadinha em mãos. Nunca se sabe quando virá a ser útil. É como dizia sua mãe: Melhor prevenir do que remediar.
 
  O escritório era, de fato, pequeno - pequeno o bastante para uma pessoa com claustrofobia possivelmente se sentir mal. Thony não era claustrofóbico, entretanto. Mas, mesmo assim, uma estranha sensação de desconforto e náusea perdurava desde o momento em que ele deu de cara com o coelho, o urso e a galinha na área de jantar. Uma mesa metálica acoplada com duas gavetas no canto esquerdo inferior chamou sua atenção.  “Então essa é a mesa de trabalho, huh?” – Disse Thony enquanto se aproximava um pouco mais para ver os equipamentos presentes nela.
A mesa continha monitores, um telefone, um ventilador e outros aparelhos eletrônicos diversificados. Havia também alguns papéis amassados, com um pedaço nojento de pizza velha por entre eles. Um inseto passou por cima da pizza, fazendo Thony soltar uma careta do tipo “Que nojo!”. Com um movimento rápido, ele ligou o ventilador, onde o mesmo começou a girar de forma lenta e ascendente. Logo, toda a sala foi tomada por um barulho mecânico alto e constante, um barulho que irritou Thony um pouco. Ele notou uma caixa de som coberta por teias de aranha, que se mantinha parcialmente escondida no canto direito inferior. Surpreso por não tê-la visto antes, ele a cutucou com seu pé direito. “Isso aqui tá com cara de depósito. Olha só essa tralha!” – Thony exclamou em um tom levemente cômico, que rapidamente se desfez em seriedade novamente – ele esqueceu de que ninguém estava lá. Estava sozinho.
 
  Thony deu mais uma olhada no canto direito do escritório em sua frente. Seu olhar pairou em um pequeno cupcake rosa na mesa, um igual ao que Chica – a animatrônica galinha – segurava em sua bandeja na mão direita. Mantido em cima de mais “tralha” não utilizada, a fraca iluminação no ponto em que estava deixou o cupcake de plástico com um aspecto medonho - era como se ele estivesse escondido nas sombras, te observando; olhando no fundo dos seus olhos, da sua alma...
                                         
    O telefone tocou simplesmente do nada, mas Thony não se assustou dessa vez. Aquilo aconteceu pois ele havia baixado sua guarda anteriormente, um pequeno erro que o deixou mais alerta e preparado pra qualquer coisa. Tirando sua atenção do cupcake, Thony pegou o telefone e colocou no seu ouvido esquerdo, se sentando em uma cadeira empoeirada ali perto.

  “Alô?”

   “Hey Thony, é o Gus. Eu, uh, disse que te ligaria depois de você entrar. E aí, tá tudo bem?” – A tempestade lá fora abafou um pouco o som de sua voz, fazendo Thony ter uma certa dificuldade em ouvi-lo.

  “Sim, tudo em ordem por aqui. Aliás de onde você tá me ligando? O barulho da chuva tá bem forte aí.” – Ele perguntou, mas pensou na relevância de sua pergunta logo em seguida. Gus ficou em silêncio - não era da sua conta, afinal. “Não, esquece. Então, Gus... o que mais eu preciso saber?”

  “U-uh... bem... ok. Primeiro, você já se familiarizou com o escritório? Só pra ter certeza mesmo, sabe?”

“Acho que sim. Espera um pouquinho, deixa eu verificar.”

   Thony abaixou o telefone e deu uma checada rápida em volta, verificando os equipamentos da mesa e assim notando dois botões quadrados em ambas as portas - um de cor vermelha e outro, abaixo do vermelho, de cor branca. Curioso, ele se levantou e foi até a porta na sua direita, apertando o botão branco. O corredor – ao menos uma pequena parte em volta do escritório – tornou-se iluminado por uma luz branca. “Ok, eles têm iluminação. Ponto positivo.” Pensou Thony. Agora, após saber sobre a funcionalidade do botão branco, ele apertou o vermelho. Uma porta de metal desceu com uma velocidade surpreendente, fazendo ele dar um passo para trás. “UOU!” – Thony exclamou, surpreso com aquilo. “Cara, isso aqui pode ser útil...”

  Apertando o botão novamente para abri-la, Thony caminhou de volta para a mesa e se sentou, esticando sua mão esquerda – já que a outra continha sua machadinha empunhada - para ligar um dos monitores. Nada.

“Por que essa droga não funciona?”

  Ele disse, frustrado, em um tom baixo quase como um sussurro. Thony tentou outro. Sem resposta.

“Mas que-“

   E então ele notou algo por entre os mesmos papéis esmagados de antes, o que pareceria ser um tipo de tela. Um monitor? Em um movimento rápido, Thony os derrubou, fazendo-os caírem no chão de maneira espalhada. Ele pegou o suposto monitor e tirou um pouco da poeira na tela com a manga de seu sobretudo, procurando algum botão de ligar no processo. Thony encontrou o tal botão e o apertou, resultando na mostra de uma imagem na tela. Ele estreitou os olhos para poder enxergar melhor – a qualidade da imagem junto com a falta de iluminação complicou um pouco o processo.

  Thony concluiu que a imagem – na verdade, o vídeo em tempo real – vinha de uma das muitas câmeras instaladas pela Freddy’s. Ao que tudo indicava, ele estava olhando para a área de jantar, por causa das mesas, cadeiras e chapéus de festa característicos. Um layout no canto direito inferior na tela destacava um mapa da pizzaria, mostrando e nomeando todas as câmeras assim como a localização do escritório. Thony contou com os dedos o total delas. 11 câmeras.

“Ok. Câmera 1B, área de jantar, em frente ao palco.” Ele assentiu, concentrado.

Seu relógio apitou, o verificando em seguida. 1 da manhã. Tudo bem... por enquanto.

(FNaF) The Previous One - O AnteriorWhere stories live. Discover now