HOTEL SORTILÉGIO

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Tema: Fantasmas
Título: Hotel Sortilégio
User: DestinoPoesia
Autor: Jair Jr. M. Teixeira

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João, jovem e poeta. Atributos quase incomunicáveis numa sociedade tomada pela tecnologia e o imediatismo, mas extremamente concebíveis na mente do jovem e talentoso escritor que levava uma vida em estado de poesia e tudo que não fosse literalmente poético era descartável, assim compunha uma orquestra harmoniosa e sinfônica de cores e sons em sua mente, a sinestesia era uma constante e talvez poeticamente eficaz no dia a dia.

Cores frias lembravam-no Augusto dos Anjos e sua poesia simbolista, e as usava principalmente em dias melancólicos e frios, ou se preferir, outono e inverno. Separava na mala os casacos, cachecol, meias e calças para a viagem do próximo fim de semana. Não titubeava e as tardes outonais de junho no Estado de São Paulo eram um misto de certezas e frustrações climáticas. A certeza estava em frustrar-se com o inesperado e mesclado fim de tarde paulista.

Cores quentes lembravam-no Vinicius de Moraes e sua poesia romantizada, e as usava em todos os momentos, e principalmente nos dias de paixão fulminante ou nas tardes e noites de amor febril, ou se preferir, primavera e verão. Separava na mala, principalmente, camisas, as vermelhas e alaranjadas eram as preferidas. Poeticamente falando, as cores despertavam nele um universo a parte. Tudo devia estar num alinhamento próximo à conjunção planetária, e isto ocorre a cada 170 anos, é o mesmo que fazer 170 anos em 7 dias. Esta matemática trazia certa obviedade na vida de João, e confortava-o para os dias de frustração que certamente viriam.

Passava em claro as noites que antecediam sua estadia no hotel sortilégio, ao som de astros da MPB, como dito no início, os sons despertavam-no para o universo das sensações e ouvir ícones brasileiros ao som quase que uníssono do dedilhar de um violão, lembravam-no das tardes de sua infância, a voz aveludada com sabores adocicados faziam-no reviver a nostalgia. Prato cheio para quem vive a poesia. Viver a poesia, a propósito, é um hábito pouco explorado numa sociedade às vésperas do caos.

O rapaz buscou aconchego próximo ao parque da cidade, os sons da natureza alimentavam-no em vigor e otimismo, uma sinfonia de sons orgânicos e primordiais ao fazer literário. Em seu apartamento havia uma pequena biblioteca meticulosamente separada por cores: elegia e écloga estampavam cores do preto ao cinza, ode e madrigal eram cores neutras e estampava principalmente branco, já as composições que remetiam a sátira e ao epitalâmio estampavam as cores laranja ao vermelho, obviamente estas cores contrastavam com o branco gelo de todo o apartamento, inclusive a mobília.

João, que era jovem e poeta, tinha em sua sala um quadro com um trecho do poema "Mar Português" de Fernando Pessoa "Quem querer passar além do bojador / Tem que passar além da dor / Deus ao mar o período e o abismo deu / Mas nele é que espelhou o céu". Neste poema João captava o seu fascínio pela existência de criaturas fantásticas que de tão altas encostavam no céu e na existência de buracos dentro do oceano que sugavam para o inferno, o imaginário coletivo da época e a mente poética de João, alimentavam tais crenças acerca do atual Atlântico conhecido também como Mar Tenebroso.

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⏰ Last updated: Nov 02, 2022 ⏰

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