ESTÔMAGO - 2° SEQUÊNCIA

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Tema: Febre
Titulo: Estômago/Sequência de Faca de Cozinha
User: Ralph_atbm
Autor: Rafael Oliveira

Imagem contextualizada

Bituca não conseguia deixar de olhar para o queijo, que escorria pela barba do homem que estava do outro lado da rua

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Bituca não conseguia deixar de olhar para o queijo, que escorria pela barba do homem que estava do outro lado da rua. O hambúrguer engordurado feito as pressas na velha lanchonete do centro antigo não era nada saudável, o homem obeso que comia o lanche também não, talvez nada naquela salvador fosse realmente saudável, nem o homem hipertenso, nem o lanche recheado de colesterol, muito menos o garoto que invejava cada mordida que era dada.

Nascido e criado nas ruas do centro, Bituca era a concretização da obra de Jorge Amado. Dormia nos viadutos, vivia da caridade alheia e dos pequenos furtos que cometia nas ladeiras do Pelourinho, teve a mãe morta numa briga por cobre aos sete anos de idade e era como muitos, filho de um pai completamente desconhecido, na época do famoso escritor seria um dos capitães de areia. Num mundo miserável e assolado pelo Covid-19 era apenas mais um moleque. Um cracudo ou como diriam as velhinhas da igreja um Trombadinha.

O suor escorria do rosto infantil queimado de sol e marcado pela sujeira, o cachorro que costumava se enrolar com ele no papelão deveria estar caçando alguma coisa para comer, olhou para o lado enquanto ainda acordava e conferiu as suas posses,um papelão, dois lençóis finos e rasgados, uma garrafa de água pela metade, um pouco de pacaia e uma marmita vazia. Colocou a mão no bolso e tocou no retrato da mãe, aquilo de alguma forma lhe trazia um pouco de paz, sentiu a barriga doer de novo e ficou olhando para o lanche que estava do outro lado. A fome já fazia parte do seu dia a dia mas quando os crentes não distribuiam comida no campo grande ela era bem pior, se já era difícil sobreviver com a sopa e o pão imagine ficar sem comer por quase um dia inteiro, na real tudo aquilo era extremamente incômodo para ele, para aqueles que distribuiam as refeições e também para os que lhe negavam o básico. As vezes alguma senhora se incomodava com o seu aspecto faminto e lhe oferecia umas moedas, nesses momentos o garoto era um pouco mais feliz e conseguia comprar uns pães recheados ou uma média vagabunda, porém a satisfação de ter o que comer, quase sempre era acompanhada do olhar assustado das mulheres brancas e da cara de nojo dos seguranças. As vezes alguma boa alma lhe oferecia um pacote de biscoitos, um resto de marmita ou uma sobra do Fast-food, mas em um país onde comer biscoitos pode ser considerado um luxo, o garoto comia cada vez menos e por isso acabava se contentando com o cafézinho matinal e com os restos de cigarro que ajudavam a disfarçar a fome, talvez esse fosse o motivo para ele ser simplesmente o Bituca, nome esse dado pelos taxistas e comerciantes da região que nem desconfiavam que o garoto tinha nome de santo, como nas canções de Renato Russo : Pedro era um bom nome mas desde que tinha perdido a mãe, o Pedro deixava de ser gente, de ser criança e humano, para se tornar o resto do resto da sociedade.

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