Capítulo 10

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Esse capítulo vai abordar racismo e violência explícita. Se você tiver sensibilidade recomendo que não leia⚠️

Amélia

Fiquei o dia inteiro pesquisando sobre operações da Bope. O van Damme conseguiu fazer eu ficar com a pulga atrás da orelha

Eu sei que eu deveria ter confiança no Gabriel, porém eu não conseguia fechar meus olhos diante das acusações que foram feitas contra ele

Eu procurei incansavelmente,mas não encontrei nada fora da lei. Ele realmente fazia as operações no Vidigal, mas que em nenhuma delas teve irregularidade

Cida:Dona Amélia -ela bate na porta da minha sala - Trouxe um comida já que a senhora tá a tanto tempo nesse computador

Amélia:Eu nem vi o tempo passar -pego o prato da mão dela - Obrigada, querida. Você já pode ir

Cida:Eu vou sim. Eu estou costurando a roupa de formatura do meu Cadu

Amélia:Você me faz lembrar da minha mãe Cida. Ela sempre quis que um filho dela fosse formado e eu sei que esse sempre foi seu sonho também

Cida:Eu já limpei muito chão nessa vida para que os mais filhos pudessem estudar em vez de trabalhar. A felicidade que estou nem cabe no meu peito

Amélia:Eu estou tão feliz por vocês -me levanto,então dou um abraço nela - Conta comigo para tudo

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Depois de longas horas pesquisando acabo indo cuidar de alguns casos. Eu não podia viver em função de uma teoria que o Van Damme falou

Cida:MEU DEUS

Ouço o grito da cida e algo quebrando na cozinha. Me levanto rapidamente, então corro para a cozinha para ver o que estava acontecendo

Quando cheguei na cozinha eu vi a cida trêmula com o celular na mão. Ela me olha fixamente, enquanto balança a cabeça negativamente.

Amélia:O que aconteceu,cida?

Cida:Meu menino foi baleado -ela me entrega o celular - Eu não estou entendo o que ela está falando

Pego o celular e começar a falar com a pessoa na outra linha

Ligação

Amélia:Boa noite. Eu sou amiga da cida. Me explica o que aconteceu, por favor

-Eu sou vizinha da cida. O filho dela e os amigos dele foram baleados aqui perto da comunidade

Amélia:A gente já está indo. Obrigada por avisar

Desligo o celular e olho para cida que não para de ser tremer.

Cida:Como meu filho tá, Amélia?

Amélia:Eu não sei, mas a gente vai agora para o alemão.

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Demorou um pouco, mas a gente chegou no alemão. De longe eu vejo uma multidão, polícias e ambulâncias. Alí eu vi que o caso era bem mais grave do parecia

A cida não esperou eu parar o carro. Ela saiu correndo, então eu fui atrás dela da mesma forma

Foi uma luta passar por aquela multidão de curiosos. Depois de muito sacrifício eu chego na área de bloqueio que os polícias colocaram

A cena que eu vi foi algo extremamente cruel. Aqueles meninos estavam largados no chão com marcas de fuzilamento

O carro estava recheado de buracos de bala e o lugar tem uma poça enorme de sangue.

Por um segundo eu fico em choque, mas logo foco minha atenção na cida que está ajoelhada no chão.

Cida:MEU FILHO

Vou para perto dela, então me ajoelho ao seu lado e a abraço

Cida:Senhor,não tira meu filho de mim. Eu não posso perder ele, senhor. Eu não tenho mais ninguém nessa vida, meu pai

Eu não podia pedir calmar para aquela mulher. Nada que eu falasse ia acabar a dor que ela está sentindo nesse momento

Cida:EU QUERO VER ELE -ela tentou entrar na barreira ,porém um policial a segura - ME SOLTA!DEIXA EU VER MEU FILHO

-Senhora, eu não posso.

Cida:Pede pra ele deixar eu ver o meu bebê, por favor -ela se ajoelhou na frente dele - Por favor, eu preciso ver ele

Amélia:Por favor, policial. Ela só quer ver o filho dela

Ele solta a Cida, então ela corre para perto do Cadu. Me aproximo dos dois e vejo o Cadu com os olhos abertos e com um livro na mão que está coberto de sangue

Cida:Filho, você não podia deixar a mamãe aqui. Eu ainda preciso de você, Carlos Eduardo. Lembra que você prometeu que ia estudar bastante pra me dedicar um diploma? -Ela abraça ele-  Você sempre me deu tanto orgulho, filho

A cida começou a embalar o Cadu como se fosse um bebê e eu não pude me segurar diante disso.

Cida:Volta pra mim

Os gritos dela eram de tanta dor que eu não sabia mais o que fazer, além de abraçar. Uma mãe tinha acabado de perder o filho para a violência e racismo que está impregnado nesse país

Todos os meninos estirados no chão são negros e estavam voltando da faculdade. Jovens periféricos que não tiveram a chance de viver e cala a boca dos preconceituosos

Carlos Eduardo tinha oito anos quando foi considerado o melhor aluno de sala,tinha treze quando ganhou uma olimpíada de matemática,tinha quinze quando começou a trabalhar pela primeira vez para colocar comida em casa,tinha vinte quando foi o primeiro da família a entrar na faculdade com uma bolsa cem por cento gratuita.

Carlos Eduardo não foi o primeiro de sua família a ser morto por conta da violência,porém foi o primeiro a ser fuzilado com quinze tiros

Muitos Carlos eduardos já foram morto e os responsáveis nunca pagaram pelos seus atos.

Entre 2020 e 2021, negros e pardos representaram 84,1% das vítimas de intervenções policiais, o que reflete em 54% dos brasileiros.

A realidade é assustadora,porém eu precisava colocar essa situação aqui. Sou negra e ainda criança sofri muito racismo

Desde pequenos somos ensinados a andar com notas de lojas,documentos e não agir como suspeitos. Isso quando somos apenas CRIANÇAS

Muito obrigada a todos que leram até aqui🖤

LealWhere stories live. Discover now