capítulo 2

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Amélia

Eu nasci e fui criada no morro do Dendê. Cresci em uma família humilde, onde meu pai era ajudante de pedreiro e minha mãe era faxineira.

Quando eu tinha onze anos perdi meu pai para o câncer. Depois de dois anos minha mãe se foi, pois ela não aguentou de tanta tristeza

Fui criada pelo meu irmão Rafael(vulgo negão). Ele foi um pai para mim, até decidir entrar no crime. Eu obviamente não gosto da vida desonesta que meu irmão leva.

Eu acabei me afastando dele por medo de ser associada a um criminoso. Medo de não conseguir realizar meus sonhos pelas escolhas do Rafael.

Só que meu medo maior era ver novamente alguém que eu amo morrendo.

Eu lutei muito para ser advogada. Passei dia e noite estudando, ainda tendo que trabalhar como babá.

Hoje tudo que o que eu fiz valeu a pena. Hoje eu tenho meu próprio escritório e sou considerada uma das melhores advogadas criminalistas do Brasil.

Muitos me julgam como esnobe,mas não sabem tudo que eu tive que aguentar para ser quem eu sou.

É fácil apontar o dedo quando você não vê o outro lado da história.

A melhor sensação do mundo é entrar no MEU escritório e saber que eu consegui tudo aquilo com meu suor,sem ajuda nem de papai nem de mamãe.

Meus pensamentos logo se vão quando o elevador para no meu andar. Logo vejo a Mariana, minha secretária com uma cara amendrontrada

Amélia:Que cara é essa?

Mariana:Tem uma pessoa esperando a senhora.

Amélia:É algum cliente?

Mariana:Seu irmão

Nem esperei muito. Abri a porta da minha sala e vi o Rafael sentado na minha cadeira.

Eu nem sabia o que pensar direito. Eu não via ele a tantos anos

Amélia:O que você está querendo aqui?

Negão:Isso é jeito de tratar seu irmão? -ele sorrir ironicamente - Preciso da tua ajuda

Amélia:Não vou te ajudar em absolutamente nada.

Negão:Preciso que tu defenda um dos meus manos

Amélia:Não vou defender nenhum amiguinho bandido teu.

Negão:Moleque só tem quinze anos. Vai ser torturado na mão dos vermes

Amélia:Cada um faz suas escolhas. Não posso fazer muito para ajudar ele

Negão:Quando foi que tu se transformou nessa escrota do caralho?

Amélia:Porque você não desce com a tua tropa e recupera o menino? -ele se levanta e vem em minha direção - Melhor você sair

Negão:Essas tuas roupas caras não te fazem melhor -ele se aproxima mais, fazendo eu me afastar - Tá com medo de mim, Maria Amélia?

Amélia:A única coisa que eu sinto por você é nojo -falo com um nó na garganta - Nossos pais teriam vergonha do que você se tornou

Negão:Acha que eles teriam orgulho de você? -ele solta uma gargalhada - Você defende bandido, Amélia.

Amélia:É bem diferente

Negão:Não é. Somos farinha do mesmo saco

Mariana:Está tudo bem, Doutora? -ouço a voz da Mariana atrás da porta- Quer que eu chame alguém?

Amélia:Ele já está caindo fora

Negão:Já estou saindo -ele solta um sorriso de desgosto - Parabéns pelo noivado

Ele põe o boné na cabeça, então vai embora da minha sala. Eu fico estática, sem saber o que pensar e falar

Mariana:Chamo a polícia?

Amélia:Fica quieta e não faz nada

Eu respiro fundo, então tento assimilar o que tinha acontecido. Meu irmão era o amor da minha vida, mas agora ele é só um estranho.

Sempre que eu via ele os sentimentos antigos voltavam para me lembrar que eu tinha feito um mal enorme para minha única família

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Fiquei tarde da noite no escritório, então decidi ajudar o menino. Ele era praticamente uma criança que ainda podia sair do mundo do crime.

Antes que eu pudesse ligar para o Rafael, minha porta é aberta pelo Gabriel.

Gabriel:Se esqueceu do nosso jantar, Amélia?

Amélia:Me desculpa -bati na testa - Eu estou muito focada em um caso

Gabriel:Não é a primeira vez -ele fala em um tom frustrado - Você tem que se dedicar na nossa relação

Amélia:Prometo que isso vai acontecer -me aproximo dele, então dou um beijo na sua boca - Que tal a gente ir jantar em algum lugar?

Gabriel:Vamos logo, então -ele põe a minha mão na minha cintura, então me pressiona- Estou exausto depois da invasão que teve no Morro do alemão

Eu odeio quando Gabriel fala de invasão, por que sei que muitos inocentes acabam morrendo nessa guerra sem sentido.

Decido esquecer essas histórias e curtir um pouco da noite que eu ainda tinha. Amanhã vou ver o que eu faço para ajudar o menino



LealWhere stories live. Discover now