Capítulo 3 - Emma

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Como suspeitava minha paz não durou muitos dias após a visita de Lynch. Mesmo sem ver aquele desgraçado, o próprio está sendo uma pedra no meu sapato. Fui despedida do meu trabalho, não precisava me dizer pra saber que tinha dedo dele nisso.

Merda.

Trabalhei no mesmo lugar por quatro anos e apenas com um estalar de dedos ele consegue que me coloquem na rua. Não posso culpar meus chefes, se eles contraria-se as ordens de Lynch poderiam sofrer ou até ser mortos.

Tomo alguns comprimidos, faço uma xícara de café ,pego uma caixa de bombom e fico admirando a merda que é minha vida. Até choraria mas cheguei num estágio que as lágrimas secaram.

Batem na porta. Não acredito que aquele velho já está aqui para me encomodar novamente, ele não tem o que fazer, achava que comandar a máfia era trabalhoso.

- Abre a porta, ruiva- é Conrad.

Abro a porta, ele tem cara de que passou a noite na farra e seus cabelos dourados estão bagunçados como de costume.

- Fiquei sabendo da sacanagem que meus coroas fizeram- ele me abraça, sinto o gelado do metal de seus piercings quando ele beija minha bochecha.

- Eles não tiveram culpa.

- Como não, ruiva? Você trabalha quatro anos lá e do nada eles te botam na rua.

- Tem mais por trás disso- suspiro.

- Como assim?

- É uma história longa.

- Temos tempo- ele fala sentando no meu sofá e pegando Lua no colo- Ninguém vai trabalhar amanhã.

Tenho que rir, Conrad vivia faltando o serviço por causa de suas bebedeiras. Acabei contando a história trágica da minha vida.

- Deixa ver se eu entendi- fala colocando mais um bombom na boca- Sua mãe é da máfia de Mônaco, ela teve um caso com seu pai que é da Bratva, e sua mãe era prometida pro dom da máfia parisiense...

- Exatamente.

- Agora esse cara depois de vinte três anos, como não casou com sua mãe quer casar com você. E ele quer que você case com ele por vontade própria?

- Isso aí- pego um bombom- Na verdade o plano dele é me deixar sem alternativas, se ele quisesse poderia me levar a força, isso deve ser algum joguinho divertido para ele.

- Que merda fodida.

- Muito fodida.

- Aqui entre nós é meio doentio tu querer a mãe e pegar a filha.

- Conrad, ele é um mafioso- coloco o bombom na boca- Doentio é figura de linguagem pra ele.

Ele deita no meu colo.

- O que vai fazer agora?

- Sendo bem realista- dou um longo suspiro- Só estou adiando o inevitável. Lynch me falou que irei para os braços dele por vontade própria, seu plano deve ser me deixar encurralada, sem emprego, sem dinheiro, tendo só ele como salvação.

- Se for assim como você diz, não importa onde arrume emprego ele vai dar um jeito de te demitir. E que tal fugir?

- Tem um carro com soldados dele ali do outro lado da rua. E claro que deve ter mais gente rastreando meus passos, possivelmente até quantas vezes vou no banheiro ele sabe.

- Não te sobrou muitas alternativas- Conrad suspira.

Não havia sobrado mesmo, era só uma questão de tempo.

- E tua família?- Conrad fala acariciando meu rosto.

- Eles me deram como pagamento de dívida, na regra da máfia o que minha mãe fez é uma humilhação muito grande e deixa uma dívida imensa de uma família para outra.

- A do teu pai?

- A Rússia fica bem longe. E eles não quiseram saber de mim todo esse tempo, acha que vão me ajudar- algumas lágrimas insistem em se formar- Filhos bastardos não são bem vistos. Eu nem devia estar viva.

- Ahhh.... Ruiva- Conrad me abraça.

Eu só queria viver minha vida, não queria mais nada.

Passou dois meses desde a visita de Lynch, como suspeitava... o desgraçado me deixou encuralada. Todo lugar que consigo trabalho no outro dia me colocam na rua. As poucas economias que tinha guardado já estão acabando.

- Senhorita Sinclair- meus ouvidos chegam sangrar quando escuto isso.

Me viro e vejo o homem que estava com Lynch na confeitaria, minha vontade é entrar logo em casa, mas minha curiosidade faz eu ficar.

- Me chame de Emma- digo- Pode falar.

- Venha logo para Paris.

- Já dei uma recado bem claro para seu patrão- digo sem paciência.

- Trabalho para Bernard à muito tempo e ele não tem muita paciência...

- Nenhum mafioso tem- o corto.

- Senhorita Emma falo pelo seu bem, venha enquanto ele está sendo paciente, logo ele ficará irritado e te levará à força. Não seria muito complicado para te levar agora para Paris contra sua vontade. Falo para o seu bem.

Por mais que tivesse vontade de xingar esse homem, a vozinha na minha cabeça dizia que ele estava certo.

- Como você se chama?- pergunto.

- Martin.

- Obrigado pelo conselho, Martin- entro no prédio.

Entro no meu apartamento, meus gatos vem me receber. Pego os dois no colo e sento no sofá.

- Vocês são os únicos que gostam de mim de verdade- falo como se eles pudessem me ouvir.

Fui mais uma vez procurar emprego mesmo sabendo que era em vão. Não podia me dar por vencida sem ao menos lutar.

Por que a vida tem que ser tão cretina comigo?De tantas famílias para nascer, tive que nascer numa da máfia. Só podiam fingir que eu não existo como fizeram nos últimos anos, não queria mais nada só isso.

Vou tomar um banho demorado. Faço uma xícara de café, sento no tapete da minha sala e fico pensando. Em tudo que me trouxe até aqui, em como me culpam por algo que os outros fizeram. Como fui humilhada e mal-tratada a vida toda. E agora para completar a desgraça o ex-noivo da minha mãe quer casar comigo.

Que merda que ele tem na cabeça?

Era pra ele ter casado com a minha mãe.

Sou vinte anos mais nova.

Droga.

Merda de vida.

Atiro a xícara longe. Ela bate na parede, virando em vários cacos. As lágrimas insistem em cair, tenho vontade de gritar e espernear, mas de nada adiantaria. É só a vida me pregando uma peça nova. Já devia estar acostumada.

Enxugo as lágrimas. Levanto para juntar os cacos da xícara do chão. Levo para a pia. Da minha janela dá para ver os soldados daquele velho me vigiando. Cerro os punhos.

Eu te odeio Lynch.

Minhas mão está sangrando. Largo os cacos, e pego um pano para estancar o sangue. Olho para as tatuagens do sol e da lua que tenho nos pulsos, é quase impercetível, mas as cicatrizes estão ali.

Já que estou no inferno... hora de abraçar o capeta.

Desço para a rua, e vou até o carro que me observa constantemente nos últimos meses. Martin desce do carro.

- Aconteceu alguma coisa? Você está de pijama? E a sua mão?

- Diz pro seu patrão que ele venceu.

Pecado dos Pais ( Tríade das Máfias - Livro 3)Where stories live. Discover now