Capítulo 2 - Emma

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Faz alguns anos que moro sozinha, não tenho uma vida fácil mas gosto dela. Crescer ouvindo que sou uma mancha para o nome da família não foi agradável, quando saí de casa finalmente me senti feliz. Quer dizer não sei se feliz é uma palavra que combina comigo, mas isso não vem ao caso.

A única coisa que lamento é a morte de meu avô, ele não era um exemplo de carinho e doçura, ele era a única pessoa que me tratava minimamente bem. Ouvi dizer que era porque lembrava muito minha avó, ela era ruiva também. E ele me ajudava a pagar as mensalidades da faculdade de Medicina, era meu sonho. Isso mesmo era, no passado. Quando ele morreu pararam de me pagar minha mesada, consegui uma bolsa de estudos, mas não tinha dinheiro para pagar minhas despesas pessoais. Tive que começar a trabalhar, sem tempo para estudar, minhas notas cairam e perdi a bolsa. Não conseguia me sustentar e pagar as mensalidades, e nem mais tinha tempo para estudar, então abandonei a faculdade.

Me mudei para uma cidade pequena no interior do país, bem longe das loucuras da máfia. Aqui comecei a trabalhar no paraíso, quer dizer um café confeitaria, eu sou apaixonada por doces então é o paraíso sim. Trabalho no mesmo lugar já tem quatro anos, meus patrões são muito gentis e fiquei muito amiga do filho deles. Conrad é um ano mais velho que eu, e até saímos juntos.

Nesse tempo aluguei um apartamento pequeno, consegui mobiliar, e adotei meus dois filhos, meus gatos. Meia-noite um gato preto, e Lua uma gata branca, não sou muito criativa com nomes. Levo uma vida tranquila e gosto dela, nunca procurei outro emprego ou quis me mudar. Podem me chamar de acomodada. Gosto da tranquilidade que tenho hoje, não gosto de sair, tenho poucos amigos. Pra mim a melhor companhia que existe é uma xícara de café, meus gatos e uma barra de chocolate.

Só que hoje minha amada paz foi quebrada como uma frágil taça de cristal. Aquele velho veio para arruinar minha vida tranquila, eu só quero que todos esses mafiosos vão à merda. Por sorte depois de nosso breve conversa Bernard Lynch foi embora, mas isso foi fácil demais.

Hoje estou exausta, chego em casa e tomo meu banho, coloco meu pijama, faço uma xícara bem grande de café. O cheiro maravilhoso se espalha pelo apartamento, pego minhas drogas para a alegria... digamos que a convivência amorosa com minha família escrota me rendeu inúmeras instabilidades emocionais. E isso que só conheci metade, meu pai nunca quis saber de mim, eu sei quem ele é mas não tinha nenhum motivo para procura-lo.

Deito no sofá, com meus gatos, passo algum tempo assistindo uma série. Olho para minha xícara vazia, sei que o médico disse que café demais não faz bem para minha ansiedade. Café é um dos meus vícios, sei que atrabalha no meu sono, uma xícara à mais não fará mal.

Já estava indo para meu sofá novamente quando batem na minha porta. Deve ser o Conrad, não recebo visitas sem ser ele, e meu amigo tem o péssimo costume de vir sem avisar.

Abro a porta e me deparo com Lynch e mais três homens.

- Não vai me convidar para entrar?- ele pergunta.

- Não- tento fechar a porta mas um dos soldados dele se pôs entre a porta.

Os quatro homens adentram meu apartamento, Lynch se senta no meu sofá. Que opção eu tenho? Chamar a polícia. Pouco vai resolver. Atirar essa xícara de café na cara dele fica cada vez mais tentador.

Meia-noite se esfrega nele enchendo seu terno sob medida de pêlos. Pego meu gato e sento na proltrona.

- Sair antes de terminar nossa conversa é falta de educação- ele diz me olhando.

Tomo um longo gole do meu café.

- Entrar na casa dos outros sem ser convidado também.

Ele me olha das cabeças aos pés.

- Sempre recebe os convidados de pijama.

- Achava que era um amigo, mas infelizmente era você.

- Amigo?- ele me olha desconfiado- Recebe esse amigo de pijama.

Reviro tantos os olhos que achei que ia ficar cega, tomo mais um gole grande de café.

- Sou um homem bem ciumento, não gosto que minha noiva receba outros homens em casa ainda mais de pijama, cerejinha.

- Você não é bem-vindo.

- Sua casa é bem pequena- ele olha ao redor.

- Já sabe onde fica a porta- digo terminando meu café.

- Como bom cavalheiro vim te convidar para voltar comigo para Paris como minha noiva, assim economiza meu tempo, pois você será minha esposa querendo ou não.

- Que idade você tem mesmo?- falo levando minha xícara para a cozinha.

- Quarenta e quatro- ele responde.

- Não sabia que se tinha problema de audição tão cedo- debocho- Lembro muito bem de ter dito hoje cedo pra esperar sentado que isso nunca ia acontecer. Mas falo de outro jeito... NEM FODENDO.

Ele trinca os dentes, visivelmente tentando se controlar. Estava cutucando a fera com vara curta, eu sei, só que não ia acatar as ordens desse homem.

- Cerejinha- ele caminha na minha direção- Controle essa boquinha suja, deve aprender a usar ela para agradar seu marido.

Agora que o observo de perto tenho que admitir que ele está longe de ser um homem feio, até com alguns fios de cabelos grisalhos deixam ele bem atraente. Sacudo a cabeça afastando esses pensamentos.

Lynch pega minha cartela de remédio dá uma olhada e observa os outros remédios encima da pia. Eu os recolho rápido, pego o que está em sua mão e guardo.

- Se já terminou de encher meu saco, pode levar seus cachorros embora- me refiro à seus guardas- Tenho que dormir.

- Claro querida- ele dá um meio sorriso- Vou esperar você me chamar para vir te buscar.

Ele faz sinal para seus homens que se retiram.

- Até breve, cerejinha- ele diz na porta.

- Se tiver sorte nunca mais vou te ver- digo antes dele fechar a porta.

Eu era bem azarada. A vida sempre dava um jeito de me pregar um peça nova quando as coisas iam bem. Então tinha a certeza que não era a última vez que teria o desprazer de ver esse homem.

- Que intimidade ele acha que tem para ficar me chamando de cerejinha- resmungo para mim mesma.

Vou para o banheiro, estava escovando os dentes quando ao olhar no espelho entendo o por que do apelido. Meu pijama tinha várias cerejas estampadas. Não vou pensar mais nesses desgraçado, vou apenas seguir meus dias normais e torcer que do mesmo jeito que seu interrese por mim veio, ele vá embora.

Pecado dos Pais ( Tríade das Máfias - Livro 3)Where stories live. Discover now