"laranja ultraforte"

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Na televisão, a mulher do tempo de veste extremamente curta e colada empinava o bumbum enquanto afinava a voz e indicava um ponto específico do país. Conhecido como entretenimento europeu, o programa prende a atenção de Collen, que faz uma careta e se vira para mim com a garrafinha plástica entre as mãos.

- Ainda bem que eu sou gay - ele ri baixo, escondendo o desconforto - Quer suco?

- Quero - pego a garrafinha que ele oferece, bebendo um gole do suco de laranja.

- Olha só quem está ingerindo fluidos sem a sonda... - ergo a cabeça para o lado, Leonardo, meu irmão, está entrando no quarto com um sorriso no rosto e roupas nada formais - É bom te ver melhorando.

- Digo o mesmo - murmuro.

Minha voz ainda estava estranha, minha garganta ainda doía mas não ao ponto de não me deixar comer, era apenas mais um desconforto.

Leo vem em minha direção e me abraça, como quando meu pai brigava comigo e ele precisava acalmar meu choro, quando eu era criança.

- Vou deixar os dois a sós, com licença... - diz Collen, pegando a garrafa de volta das minhas mãos e saindo do quarto - Trago outra para você quando voltar!

- Obrigado - digo, ele faz um aceno com a mão e fecha a porta do quarto - E então, como é a cadeia?

- Ah, eu só cheguei ao ponto da delegacia. Eles me deram até um café - Leo dá uma risada, se sentando na cama, bem a minha frente. Eu estava sentada de pernas cruzadas. - Entrei com um pedido de ordem de restrição para você contra Dixon Madden. Emily disse que até hoje a tarde consegue a resposta do juiz e que está... "ansiosa" quanto a isso, não entendo a língua dos advogados.

- Isso significa que ela acha que juíz irá entregar a ordem - ele assente - Emily está te representando?

- Sim. Claudia a contou sobre o acontecido e ela se ofereceu para me representar - vejo o olhar do meu irmão se tornando mais triste a medida do tempo. - E como você está? Como anda o tratamento?

- Estou bem, o médico me disse que hoje mesmo ganho alta - o respondo - Quero voltar 'pro trabalho.

- Mas não vai, entendido? Você vai ficar no mínimo uma semana em casa sem o stress daquela empresa - Antes que eu possa reclamar, ele me interrompe - Fique você sabendo que Lauren está segurando as pontas, eu estou ajudando como posso... e Billie também.

- Ah... - murmuro de volta - Que bom. - Leonardo tem um olhar de ternura sobre mim, aquele mesmo olhar que ele me lançava quando eu mentia a ele mesmo ele sabendo a verdade quando eu tinha doze anos de idade e ele dezesseis - O que foi?

- Quando eu discuti com Madden, na delegacia, ele me disse várias coisas - suspiro, já sabendo o fim daquela conversa - Eu não acreditei em nada que ele me disse na hora, mas aí eu conheci a tal Billie... E então eu tive uma conversa com ela.

- Você o quê?

- Eu entendia que você talvez não havia me dito por medo da rejeição ou sei lá, então eu decidi conversar com ela entes. - cruzo as pernas mais ainda em inquietação - Vou ser direto, irmã: A única coisa que me importa é a sua felicidade. Quem você namora ou deixa de namorar, seja homem ou mulher, é apenas da sua conta e não diz respeito a mais ninguém - ele diz tudo rápido, como se soubesse como eu estava nervosa - Eu te amo e te aceito e vou te apoiar independentemente de quem você é e das escolhas que você faz, Ele, você ainda é a minha caçulinha loira, entendeu? - faço que sim com a cabeça.

Sorrio abertamente quando ele me abraça e noto o que aconteceu ali.

Tive tanto medo dos outros, e tanto receio em ser sincera comigo mesma, que apenas vi o ruim de tudo. Agora as únicas pessoas que importavam para mim já sabiam, e todas foram gentis e demonstraram que aquilo era algo natural ao contrário do que eu pensava.

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Where stories live. Discover now