faking assumptions

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Presencio Collen fazer outra acrobacia com a batata frita e conseguir fazê-la cair dentro da sua boca. Ele se levanta da cadeira surpreso e ergue os braços, orgulhoso como se houvesse ganho uma disputa, Eleanor dá uma risada e rio com a sua felicidade. Matteo resmunga já que ele não havia conseguido.

- Exterminaram as batatas, vou pegar mais - diz Collen, cutucando o irmão pelo ombro.

Era apenas mais uma desculpa esfarrapada para nos deixar a sós.

- Vou tentar ligar 'pra Claudia de novo. E por favor... - Matt se levanta, fazendo uma careta para nós duas - Estejam vestidas quando eu voltar.

Ele sorri, a irmã dispara duas uvas em sua direção e ele murmura um xingamento em espanhol saindo do quarto, nos deixando a sós, eu apenas acho graça da situação.

- Adoro seus irmãos, eles são divertidos - digo, afundando meu rosto no vão do seu pescoço enquanto sinto seus dedos frios alisando minha nuca.

É estranho como mesmo após três dias no hospital ela ainda tenha seu cheiro próprio tão bom.

Já era outro dia.

Já era quarta-feira.

- Eles só são assim com você porque te amam... - ela ri fraco, com um suspiro pesado logo após.

Distancio meu rosto do dela, podendo a ver, observar seu olhar. Era aquele típico olhar que ela fazia quando estava pensando em algo.

- No que você está pensando? - ela sorri fraco, a ponta dos seus dedos brinca com uma mecha do meu cabelo que caía sobre o meu rosto. Ela a ajeita para trás e faz um carinho na minha bochecha com o polegar.

- Nos meus irmãos, e você. Sendo mais específica... Na reação deles. - preciso pensar um pouco para entender o assunto - Não supus que eles fossem reagir bem quando descobrissem sobre mim e você, entende? Eu acreditava que eles eram completamente iguais ao meu pai no quesito religião, e agora descubro que Collen namora a meses e não me contou pelo mesmo motivo - ela tomba a cabeça para o lado, prestando mais atenção ainda em mim - Houve uma época em que eles eram os meus diários... Queria poder voltar no tempo.

- Mas e o Leonardo e o Gustavo? Ele, eu vi seu irmão quase espancar Dixon 'pra te defender, ele foi levado pela polícia - rio fraco relembrando a cena. Obviamente nada de tão grave aconteceu além do nariz e um dos olhos de Dixon Madden tão inchado que ele nem se quer enxergará do lado direito por um longo tempo.

- O Leo sempre foi do tipo mais protetor, sabe? Quando o meu pai brigava conosco, ele assumia a culpa, ele também assumiu as ações da empresa para que eu pudesse terminar a faculdade de direito... - Eleanor continua com algo embatucado na garganta.

- E isso é ruim? Por que eu não entendo o seu olhar... 

- É que ele é fanático pelo catolicismo, Billie, ele quase se tornou padre, ele tem vontade de ser padre até hoje. - seu olhar sobre mim muda completamente. De paixão a medo e receio. - E se quando ele souber, ele não aceitar e...

- Se seu irmão é tão católico como diz, ele irá se espelhar no próprio Papa e ter o mínimo de respeito - retiro sua mão do meu rosto, a segurando - Você precisa parar de se culpar de uma vez por todas, não é nada que você pode controlar, Ele... - ela respira fundo, o olhar começando a brilhar mais que o devido - É normal.

Tenho a impressão de que ela discorda de mim, e isso aperta meu peito.

Como tenho alguma condição de assumir um relacionamento com alguém que não consegue se assumir para si próprio?

- Tenho certeza que Collen pensou a mesma coisa sobre você, e por isso não te contou antes sobre o relacionamento dele - digo, ela franze o cenho.

- Mas por quê?

- Você é a cópia do seu pai, todo mundo te teme por conta disso.

- Mas ele é o meu irmão, Bill, é claro que eu... - com as próprias palavras, Eleanor parece refletir - Leo também é meu irmão, ele nunca mudaria a forma que me trata pela minha sexualidade.

Sorrio quando ela diz as palavras em voz alta.

- E o Gustavo?

- Ele mora no Brasil, nos vemos uma vez por ano e olhe lá... Ele foi na conferência, mas agora demorará a voltar. Por algum motivo ele não se dá muito bem com os meus pais - ela dá de ombros - É complicado... 

- Entendo - digo, entrelaço nossos dedos brincando com eles - Gosto muito de você, Eleanor, muito mesmo. Você me faz bem e me faz sentir coisas que eu nunca senti antes... - ela não sorri, talvez porque nota o "mas" que deixo escondido na frase, Eleanor me olha confusa. - Não quero ter que forçar a nada, te prometo que nunca faria isso, mas eu...

- Você não vai me esperar 'pra sempre - ela murmura, arrancando as palavras de mim. Seu olhar se torna triste e ela sola sua mão da minha encarando os seus dedos - De alguma forma eu já esperava por isso...

- Não me leva a mal, já passei pela fase de não me aceitar e tudo o que está acontecendo agora. Por isso eu estou te apoiando, mas tenho quase vinte e cinco, não posso voltar 'pro armário agora que eu finalmente estou bem - ela concorda, deitando o corpo para trás.

- Meus irmãos já sabem, Billie - ela me olha com um meio sorriso - Isso é praticamente metade da minha família, e eles são as únicas pessoas da minha família que tenho contato. Então eu só preciso contar pros meus pais, não é? E eu já sou independente, minha mãe não pode fazer nada, ela nem liga 'pra mim - sua risada no final da frase carrega dor.

Tenho uma forte ideia de que é isso o que ela sente em todas às vezes que ela fala da própria mãe.

- E o seu pai?

- Ele nunca vai aceitar - Eleanor dá de ombros, como se não se importasse, quando, na verdade, aquilo a afeta constantemente. - Agora eu não posso mais esconder, e nem quero - Eleanor fecha os olhos.

Me esgueiro pela maca, me sentando ao seu lado. Seus olhos me fitam com um sentimento que eu não consigo interpretar. Eleanor deita sua cabeça em meu peito, passo o braço ao redor dos seus ombros sentindo seu corpo quente abraçado ao meu.

- Não me deixa, por favor - murmura contra mim.

Naquele momento é como se um cenário que eu não desejava estivesse acontecendo.

- Não vou te deixar - murmuro de volta, ela afasta o corpo e segura minha nuca com carinho. Seu olhar parecia não acreditar em mim. - Isso é um juramento, confia em mim - dou um meio sorriso e selo nossos lábios em um beijo.

Fazia pouco tempo desde a última vez em que nos beijamos e mesmo assim meu lábio inferior centelha com o contato.

Mais uma das sensações que eu só vislumbrava com ela.

𝐋𝐎𝐒𝐓 𝐈𝐍 𝐋𝐎𝐍𝐃𝐎𝐍 | ᵇ.ᵉ Kde žijí příběhy. Začni objevovat