MasterChef

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Eu acordei naquela manhã muito mais tensa que o normal. O dia da grande final finalmente chegara e minha vida iria mudar, independente do resultado. O despertador tocou às oito e meia, como todas as outras vezes. Faziam quase três meses que eu acordava sem Maya ao meu lado, mas aquela era a última vez.

O silêncio do apartamento que eu tinha alugado me deixava maluca. Pelos últimos vários anos, estive acostumada a acordar com Maya fazendo barulho ou com Bruno pulando na nossa cama.

Los Angeles estava começando a esquentar novamente, mas eu sentia falta da chuva frequente de Seattle. Com certeza me vestia melhor em dias chuvosos e frios do que nos ensolarados e quentes.

Como nas últimas onze semanas, me levantei e fui direto para a cozinha. Precisava repassar - pela oitava vez - o menu criado para a final daquela noite. Eu escolhi três pratos veganos, com certa influência da culinária sul americana, mesmo que aquele estilo de vida não fosse meu ou que convivesse com a cultura. Era apenas para tentar algo mais ousado e desafiador, afinal, se eu precisava de um momento para receitas mais atrevidas, aquela era a hora.

Debruçada na bancada relendo o que escrevi em meu caderno, tentei achar algum defeito que pudesse ter passado despercebido. Tracy, que acordaria em alguns minutos, Mike e Tony, eram três ex-participantes da temporada que foram eliminados algumas semanas antes, já tinham provado a receita e todas as suas variações, mas ainda sim, eu estava insegura com o que planejei. A gravação iria começar apenas às oito da noite, então teria tempo de mudar o que fosse necessário. Tracy dividia o apartamento comigo, já que nos tornamos boas amigas ao longo de toda a jornada, assim como os outros dois, que moravam a poucos quarteirões dali. Precisava dos três para ter real confiança na hora do tudo ou nada.

O meu menu estava praticamente montado desde a segunda semana de gravação. Eu havia avisado a produção sobre os ingredientes que precisaria e várias vezes os questionava se estaria certo para fazer o que queria, e tudo parecia acontecer como o planejado.

– Beautiful, você precisa ficar calma. Tudo vai correr bem.

– Você não tem como me garantir isso - eu estava cada dia mais cansada e nervosa.

– Eu te conheço, sei o quão bem você cozinha, sendo amadora ou não. E não importa o que aconteça, você já chegou na final, meu amor - Maya dizia em um volume baixo, já que Bruno dormia apoiado em seu peito.

– Depois de tudo isso, eu não vou ter passado três meses longe de vocês pra ficar com o segundo lugar, bambina. Eu preciso ganhar.

– E você vai, confia em mim.

Suspirei fechando os olhos por alguns segundos. Queria muito conseguir fielmente acreditar no que a mulher me falava, mas a insegurança pré-final já começava a consumir os meus pensamentos.

– Que horas vocês vão vir?

– Nosso vôo é amanhã perto do horário de almoço, devemos estar aí logo no começo da tarde. Mas a gente só vai conseguir se ver na hora, acredito eu.

– Acho que o pessoal vem pra cá me ajudar a revisar a receita bem cedo. Se quiser vir, não tem problema também.

– Não se preocupe. Se ficarmos aí você não vai conseguir se concentrar.

– Eu tô com saudade – respondo com certa fraqueza na voz. Nunca pensei que precisaria passar tanto tempo longe da minha família, e cada dia ficava mais difícil.

– Nós também. O Bruno sente falta das suas torradas antes de ir pra creche. Tentei seguir a receita que você me passou, mas as minhas não ficaram boas.

i love you in every universe - marina oneshotsOnde as histórias ganham vida. Descobre agora