Capítulo 7 - A tristeza no olhar.

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𝐿𝑢𝑐𝑐𝑎𝑠 𝑃𝑂𝑉:

23/04/22 - Sábado 7:30h - Higienópolis, duas quadras antes do prédio da Go Talent.

Eu me levantei mais cedo que o de costume, eu não tinha dormido direito, eu ainda estava intrigado com a maneira que Raya tinha falado comigo. Eu chegaria mais cedo só para pedir sua demissão, eu jamais aceitaria uma funcionária de baixa renda, falar daquela forma comigo. Eu tomei meu café, me arrumei com a roupa social de sábado e sai logo em seguida. Os faróis da Av. Higienópolis estavam quebrados, então tinha um guarda organizando os carros, por esse motivo tudo estava mais lento. Eu estava olhando para janela, já que o caminho estava lento, e vi uma garota sentada na calçada. Ela estava com as mãos na cabeça e o cabelo cobria o rosto, ela parecia chorar, estar desesperada ao mesmo tempo em que estava apenas paralisada. Eu estranhei aquilo e neguei com a cabeça.
- Isso não é da minha conta. - Digo para mim mesmo, mas meus olhos permanecem a olhando, eu conhecia aquele cabelo, não conhecia?
Ela levanta a cabeça por uns segundos e limpa o nariz na manga da blusa e passa a mão pelas lágrimas que pingam seu rosto. Deus, era a Raya! Por quê ela estava chorando? Eu deveria ir lá ajudá-la? Eu suspirei e por algo mais forte que eu, eu estacionei o carro a esquerda e desci. Muitas pessoas caminhavam e nenhuma parou para se preocupar com ela, ela continuava chorando, como se estivesse sozinha no quarto. Eu caminhei devagar até ela e me abaixei.
- Ei, tudo bem? - Eu pergunto a olhando sem ousar tocá-la. Ela não me responde e eu pude ver suas mãos tremendo. - Raya, você precisa de ajuda? O que tá acontecendo? - Novamente eu não tive resposta. Eu respirei fundo e cogitei apenas ir embora, eu estava oferendo ajuda e ela estava me ignorando. Mas então ela tirou o cabelo do rosto e passou as mãos sobre as lágrimas novamente, ela engoliu o choro mas as lágrimas ainda corriam. Ela olhou nos meus olhos, eu pude sentir como se um mar de tristezas me carregassem naquele momento. Que olhos tristes. Por que tão tristes? Foram os 6 segundos mais agonizantes até então, os olhos dela pingavam lágrimas, ela tinha um semblante triste, que quase pediam socorro mas mesmo assim, ela não me dispõe uma palavra sequer. Eu suspirei meio sem saber o que fazer e disse:
- Você.. você quer um abraço? - Eu pergunto sem jeito a olhando do jeito mais calmo possível.
Ela nega com a cabeça e funga, em seguida ela respira fundo e tentar parar de chorar, sozinha. Quando as lágrimas param de cair no rosto dela, ela fecha bem os olhos e inspira e expira 3 vezes, abrindo os olhos em seguida e me olhando.
- Me desculpa.. você não tinha que ter visto isso. - Ela diz com a voz baixa, cheia de culpa.
- Não peça desculpas, o que aconteceu? Você tá machucada? Alguém fez algo com você? - Eu pergunto calmo, tentando ralmente ajudá-la.
- Eu tô bem, ninguém fez nada comigo, não precisa fingir preocupação. - Ela diz e dá um sorriso fraco, tentando disfarçar.
- Eu não estou fingindo preocupação, Raya. Eu fiquei preocupado em te ver chorando numa calçada na rua, completamente sozinha. - Eu disse e percebi que fui prepotente em minha fala, eu não queria parecer superior naquele momento, eu só realmente queria ajudar ela.
- Desculpa, da próxima vez eu encontro um lugar mais longe pra chorar, até porque eu controlo isso né? - Eu vi a ironia na fala dela e principalmente, a tristeza no olhar. Ela estava olhando pra mim enquanto falava, ela não estava mentindo.
- Me desculpa, Raya. Mas eu não tenho uma bola de cristal para saber tudo que você ou qualquer outro ser humano tenha, como vou saber o porquê você está chorando, se você não me conta?
- Você não precisa saber, eu não preciso da sua pena. - Ela diz de modo frio e se levanta.
Eu suspiro e me levanto também, eu não queria me estressar com ela, ela estava frágil e mesmo assim agia de forma bruta.
- Tudo bem, Raya. Eu nunca obrigaria alguém a falar suas dores sem ter a devida vontade. - Digo calmo ainda a olhando. Ela passa a língua nos lábios de forma nervosa e me olha.
- Me desculpa por ontem, eu passei dos limites com você e eu definitivamente não posso ser demitida. - Ela diz e desvia o olhar.
- Era por isso que estava chorando? Porque achou que seria demitida? - Eu pergunto calmo analisando suas reações. Ela me da um riso meio irônico.
- Claro, claro.. era por isso. - Ela diz como se aquela fosse a melhor resposta para não ter que dizer o real motivo de seu choro.
Eu dei um passo a frente e os olhos dela se abriram por mais um pouco.
- Você não precisa se preocupar com isso, ok? - Ousei levar minha mão ao seu rosto e colocar seu cabelo para atrás de sua orelha. - Eu não vou te demitir. - Digo a olhando nos olhos e ela desvia o olhar tirando minha mão de seu rosto e se afastando.
- Agradeço - Ela diz fria e torna a me olhar. - E não faça isso de novo.
- Isso o que? - Pergunto sem entender sua fala.
- Não me toque de novo, não me olhe assim de novo, e não me trate com pena de novo. - Céus, por quê ela tinha de ser tão chata?
- Desculpe, mas é minha "pena" que vai me impedir de te demitir.
- Ah então você ia mesmo me demitir. - Ela diz e solta uma risada irônica. - Vá em frente, me demite! Eu já tô fodida em 50 tons diferentes mesmo. - Ela diz daquele jeito explosivo que eu já estava até me acostumando.
Como ela podia ser tão bipolar? A 30 segundos ela estava chorando dizendo que não poderia ser demitida, e agora, ela estava literalmente pedindo para ser demitida. Eu suspirei e ajeitei a postura.
- Não vou te demitir, Raya. Mas acho que você deveria parar de ser tão explosiva com pessoas que não tem nada haver com seus problemas.
- Exatamente, Luccas. Eu também acho, sabia? - Por que eu senti ironia nisso? - E já que você não tem nada haver com meus problemas, da próxima vez me deixa chorar em paz! - Cristo, que garota difícil. Eu respirei fundo e coloquei as mãos no bolso.
- Perfeito, Raya. Dá próxima vez deixo você chorar até desidratar enquanto faço sua carta de demissão.
- Ótimo. - Ela diz e revira os olhos. Ela coloca a mochila nas costas e sai caminhando.
- Ow, espera. Eu posso te levar. - ela vira para trás e solta uma risada sarcástica.
- Acho que pulo a oferta de entrar na empresa, no carro do CEO. - Ela diz com realmente um sarcasmo. Que garota insuportável, não importa o quão gentil eu tento ser, talvez ela goste de babacas. - Te vejo na empresa, CEO. - Ela diz com um leve sorriso e faz sinal com a cabeça, em seguida volta a andar.
Ok, ela definitivamente era maluca. Ela não aceita ajuda, não gosta de toque físico, é sarcástica e debochada comigo mas é gentil e sorridente com os outros. Maluca ou não, eu não me esqueceria daqueles olhos tristes, eu ainda descobriria o porquê daquela tristeza no olhar.

Não era para acontecer assim...Onde histórias criam vida. Descubra agora