[3] Bolhas e Calos

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Sentei na beira da estrada, num fino pedaço de asfalto que servia como calçada. Peguei três barrinhas de cereais da minha mochila e comecei a comer, admirando a vista – escura – na minha volta. Sem sons, sem pessoas, sem nada de interessante... Não sei se aquilo me incomodava ou tranquilizava. De toda forma, estar sozinho era uma ferramenta ótima para quando precisasse lidar com situações. Tudo do meu jeito e ponto, sem precisar da opinião de terceiros, da maneira que sempre gostei.

Poxa, eu estava tão magrinho. Saudades de quando frequentava a academia cinco vezes por semana e conseguia correr alguns bons quilômetros sem desmaiar por queda de pressão. Também não é como se agora eu estivesse fraco. Meus músculos ainda estavam guardados aqui em algum lugar do meu belo corpinho torneado e bem definido, mas tenho saudades de me sentir como um bodybuilder e ficar admirando meus bíceps no espelho.

Porra, penso demais. Se eu não fosse tão cagado das ideias e simplesmente ignorasse tudo que acontece na minha vida, teria me matado faz tempo. Nem sei como ainda não tinha surtado e mordido um zumbi, pela vingança de ver tantas pessoas serem mordidas. Já pensei nisso, mas seria uma morte muito ridícula e eu queria algo mais inovador. Nem amo tanto a minha vida, mas viver dois anos na miséria merece um fim digno de super-herói, tipo os filmes da Marvel.

Estava refletindo sobre a minha infeliz vida apocalíptica quando sete círculos de luz, surgiram da ponte. Ainda estavam um pouco longe, mas dava para ver que se aproximava cada vez mais rápido e, sinceramente, eu estava cansado demais para levantar, me esconder ou atacar. Seriam dez dias de caminhada e se eu saísse vivo dessa, teria poupado esforços sem fazer qualquer coisa.

Percebi que eram motos quando os veículos atravessaram a ponte com o barulho irritante dos motores e pararam bem na minha frente. Continuei comendo minha barrinha de cereal, vendo os sete homens à la metaleiros, me olharem. Todos eram tatuados, jaquetas de couro e só motos chiques, daquelas baixas e grandes, que comportam quase uma família tradicional.

— Perdido?

O que estacionou mais perto de mim, questionou. Ele tinha um lado da cabeça raspado e o outro com o cabelo grande. De um rockeiro punk e perigoso, ele estava mais parecendo aqueles emos que postavam frases tristes e usavam lápis de olho todo dia.

— Não. — Respondi. Aquelas malditas luzes nem me deixavam abrir os olhos direito.

— De onde está vindo e para onde está indo, hein?

Três deles desceram de suas motos, parando em volta de mim. Porra, se me roubassem e me deixassem vivo, eu ia ficar puto. Melhor morrer com um tiro na testa do que de fome e sede.

Continuei agindo tranquilamente enquanto tentava abrir a embalagem do meu cereal, sem nem olhar para o rosto deles. O trio estava parecendo os guardas da Inglaterra, que não fazem absolutamente nada e só agem como estátuas.

— Gyeongsang. Indo para Daegu. — Menti em partes. Uma delas era óbvia e a outra era blefe puro. Ir para Daegu seria como viajar para o Iraque tentando fugir de uma guerra.

Ele me julgou apenas com um olhar. Aos poucos,  um sorriso nada simpático surgiu no gótico.

— Achou coisas boas em Gyeongsang? Estávamos indo fazer uma vistoria por essas partes, Jinhae e tudo mais... — Falou. — Recebemos informações de que aquela área está quase intocável e tem até sinal de rede. Você está sozinho?

Jinhae.

Droga, Jimin.

— Prefiro fazer meu destino sem companhias. — Tentei falar indiferente. Por dentro eu estava entrando em surto. — Nada de tão interessante por lá. Esperava mais.

The Last Sunset • JIKOOKWhere stories live. Discover now