[1] Seja Mal-Vindo

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Coincidências acontecem, né? Nem tudo é o destino. Para falar a verdade, nada faz parte do destino. Bem, assim eu acredito.

— Jungkook?

Ele foi abaixando a arma enquanto não tirava os olhos arregalados de mim. Se um buraco se abriu sob meus pés, sob os dele se abriu um penhasco. Aos poucos, as coisas foram se encaixando na minha pequenina cabeça de coelho.

Se passou quase meia década... Fez tanto tempo que eu não pisava naquela região que havia esquecido completamente de que, um dia, tive uma vida amorosa ali. Vida amorosa esta que foi minha primeira e única, até hoje.

Não era por falta de opções. Eu – sem querer me gabar –, já tive muitas e muitos pretendentes. Não sei se foi azar ou livramento, mas sempre que o tópico "namoro" era colocado numa conversa, eu me bloqueava internamente. Não culpo Jimin por isso. Ele não deve ser acusado pelo psicológico fodido que adquiri desde pequeno, mas é inegável que tinha uma pequena parcela dele nesse meu problema que precisava de terapia.

Minha boca parecia ter medo até de falar. Meu cérebro fez um movimento retrógrado tão rápido que tenho quase certeza de que ele voltou ao raciocínio de quando eu ainda estava na barriga da minha mãe. Inclusive, seria ótimo voltar para o útero agora.

— O que você está fazendo aqui? — Perguntei sem nem saber se deveria. Ficar encarando um ao outro estava se tornando incômodo para mim, mas não parecia afetar o meu ex.

Jimin arqueou uma sobrancelha e colocou a mão na cintura, deixando o fuzil – ou seja lá que arma fosse –, pendurado nos ombros. Ainda me olhava desacreditado, como se jamais houvesse me visto na sua vida. É, de fato fazia bastante tempo.

Desde que terminamos, há quatro anos.

— Eu que devo te perguntar isso! — Exclamou. Eu não sei como funcionava o movimento naquela área, mas com toda certeza estávamos falando bem mais alto do que o recomendado. — Eu moro aqui. O que VOCÊ está fazendo aqui!?

Andei dez dias para roubar suas coisas e ir embora, para ser sincero. Minha mente quase implorou para que minha boca reprojetasse essas mesmas palavras.

Achado não é roubado e quem perdeu foi relaxado. Não é isso que diz o ditado?

Não. Soaria grosseiro demais, apesar de ser verdade. Então, para não aparentar ser tão invasivo, eu vim resgatar coisas deixadas para trás, basicamente.

Era falar isso e levar um soco no meio do nariz, certeza. Para prevenir agressões e palavreados agressivos, resolvi usar o mesmo feitiço que o feiticeiro;

— Eu MORAVA aqui, não sei se lembra.

Não, ele não lembrava. Óbvio.

Observei Jimin pensar. Nossas vestes eram absurdamente diferentes, tanto que parecia que existíamos em realidades totalmente paralelas. Enquanto por um lado eu vestia calça de couro, botas, camisas de mangas longas, boné e todas as coisas da cor mais escura possível. Por outro, Jimin estava com uma camiseta branca larga e uma calça de moletom cinza, além de estar com um par de crocs.

Louco. Maluco. Pirado. Doido. Ablublé das ideias.

Se fosse há quatro anos, eu pensaria cinco vezes antes de vir por esse lado da rua. Me trazia calafrios só de ouvir falar no nome de Jimin. Cabelos rosas se tornaram como uma maldição na minha vida.

A frase "Eu vou fazer você lembrar de mim" nunca caiu tão bem quanto foi no nosso relacionamento.

— E só por ter morado aqui, se acha no direito de invadir as casas alheias?

The Last Sunset • JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora