[1] Seja Mal-Vindo

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Permaneci imóvel, tentando buscar qualquer mínimo ruído que pudesse me tirar daquela situação.

— Solta a arma e levanta as mãos, agora. — Não estava tão perto quanto pensei. Deu para perceber que a pessoa se mantinha num lugar estratégico, como um ponto cego. — Não vai soltar?

Não tinha muito o que fazer, não é, amigos? Se eu não largasse, receberia um tiro. Se eu largasse, teria menos chances de receber um tiro. Então coloquei o fuzil no chão e retirei as mochilas dos ombros, pondo as mãos na cabeça. Por muita sorte, deixei a maioria dos mantimentos do lado de fora, nas bolsas e carrinhos.

— Vai até o interruptor e liga a luz. — Ordenou.

Acredita que esse é o meu plano desde o começo? Poxa, você está querendo me prejudicar ou ajudar?

— Você espera mesmo que eu saiba onde fica?

Busquei concentrar todos os meus sentidos naquele momento. Seja audição, olfato ou tato, eu tentei ao menos projetar uma imagem de como poderia ser aquela cozinha, na minha cabeça. Dava raiva só de saber que havia uma pessoa que estava ali comigo e não denunciava sua localização de maneira alguma, nem que fosse por uma mínima respiração. Aliás, era só isso que eu precisava para me safar, até porquê, se não estou vendo nada, ela também não está.

— Ao lado do fogão, na sua direita. — Me informou. Dedilhei a parede e com uma rapidez imensurável, achei. Demorei um pouco de propósito, para ver se alguma ideia mirabolante passaria pela minha cabeça e me livraria daquela situação. Por azar, nada veio. — Vamos, não é tão difícil.

Suspirei. Não tinha mais nada a fazer que não fosse me dar por vencido. Que patético, sinceramente. Passei dez dias passando por trancos e barrancos para chegar em uma casa e virar vítima por alguém que eu nem cheguei a ver o rosto?

Sim.

— Aqui?

Perguntei, sabendo a resposta.

— Isso, acende. — Me foi ordenado e obedeci como um bom súdito.

Liguei a luz e de primeira precisei fechar os olhos para me livrar daquele incômodo devasso que invadiu minhas orbes, logo de primeira. Após uns três segundos para me acostumar, finalmente abri decentemente as lumes e mirei exatamente para o meio da cozinha. Não demorou meio segundo para que eu focasse no ser humano em cima de uma cadeira, em um dos cantos mais afastados de mim.

O chão se abriu sob meus pés.

Isso só pode ser uma paralisia do sono. Não é possível que a vida conspire tanto assim contra mim e, na pior fase que estou vivendo, ela me entregue uma bomba dessas. É como se acabasse de ter me mandado um "Foda-se, se vira aí".

Antes eu tinha dúvidas, mas agora tenho certeza; se Deus existe, ele me odeia tipo, para um caralho.

Desejei umas mil vezes que tudo fosse uma ilusão de ótica e a pessoa apontando uma arma para mim, fizesse parte de um delírio. Eu poderia estar enganando a mim mesmo em dizer que aquele não era ele, mas se passou bastante tempo e não tem chances que tenha continuado com a mesma fisionomia. Impossível.

Tem que ser impossível, por favor. Não pode ser ele.

Mas era a realidade. Aquele cabelo rosa não enganava ninguém e muito menos a mim, que tinha até pesadelos com aquela peruca assombrosa da personagem de Lazy Town. Sabe de quem eu estou falando, né? Não sabe? Pesquise, eu tenho certeza que você vai concordar comigo e dizer ser idêntica. A única diferença era que eu evitava aquele homem na minha frente, diferente da atriz do desenho.

— Jimin?

Aquilo soou retórico. Eu sabia que era ele, mas estava tentando aceitar poder ter sido um erro de cálculos e acidentalmente entrei numa casa com um gêmeo idêntico ao meu ex-namorado e que, por sinal, também morava naquela rua.

The Last Sunset • JIKOOKWhere stories live. Discover now