Capítulo 28

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{Nyx}

As sobrancelhas delicadas de Primrose se franziam a cada passo que dávamos para fora do quarto. Ela olhava para os lados com curiosidade, e até mesmo desconfiança. Sua boca se abria um pouco, como se ela fosse dizer algo, mas, nada saía, apenas um suspiro ou outro de vez em quando. Ela apenas deixava que seus olhos verdes explorassem o local pelo qual andávamos, enquanto eu a guiava, com passos de cautelosos e lentos.

Não soube ler seus olhos distantes, o que foi difícil para mim, já que eu não achava Primrose difícil de interpretar na maior parte do tempo. Ela sentia o que sentia, e sentia intensamente. E aquilo costumava ficar claro em seus olhos, em seu sorriso, na forma como ela se movia, ou falava. Mas, naquele momento, não consegui ler nada.

Primrose ainda tinha uma feição abatida e cansada, com olheiras profundas e olhos inchados, como se tivessem casados de chorar e de sentir. Seu rosto era quase imparcial, como se também estivesse exausto de demonstrar algo.

Deixei que ela olhasse para tudo, em completo silêncio. Deixei que seus olhos se acostumassem com o ambiente, e que o conhecesse, deixei que ela soubesse que poderia olhar para o que quiser, sem temer nada. Ela ainda segurava meu braço, me usando de vez em quando como apoio para caminhar. Parecia envergonhada ao fazer isso, mas quando tentou me soltar, cambaleou um pouco e resmungou de dor, o que a fez finalmente ceder ao meu apoio.

Quando a guiei até o primeiro degrau da escada, parei, fazendo com que a mesma parasse também, quase tropeçando. Primrose, distraída em seus pensamentos, apenas notou a escada quando seu pé bateu contra a madeira da mesma. Virei meu olhar para ela, com meu lábio se repuxando um pouco para o canto. A lancei um olhar, um aviso, no instante seguinte, que ela acompanhou com atenção. Atravessei com a fêmea poucos segundos depois, até o topo da escada para que ela não precisasse fazer o esforço de subi-las.

Primrose olhou para o final da escada, com os olhos um pouco arregalados de surpresa, sem soltar meu braço. Rapidamente engoliu em seco, e moveu a cabeça para o corredor fundo, e forçou a não se encolher. Esperei-a dar o primeiro passo para continuarmos, e quando a mesma finalmente o fez, me coloquei a andar novamente.

O pescoço da fêmea se ergueu, e sua cabeça foi jogada um pouco para trás enquanto ela olhava atentamente para as paredes, para algo que havia chamado sua atenção. Eram as pinturas de minha mãe. Suas sobrancelhas se juntaram, e seus olhos se apertaram levemente, tentando não parecer tão surpresos, mas eu vi algo ali, eles brilharam. Ela analisava todas as pinturas espalhadas pelo vasto corredor enquanto andávamos.

Minha mãe sempre conseguiu transmitir tudo o que queria com as suas pinturas, não importava qual era o sentimento, elas sempre eram capazes de despertar algo em mim. Amor, alegria, ternura, dor, desespero, perda. Qualquer um. Seus quadros falavam. Mesmo que nem todos conseguissem ouvir, eles falavam, e Primrose os escutou.

Ouvi um curto suspiro sair de seus lábios quando ela parou de andar, olhando para cima, deixando seus olhos se concentrarem em uma pintura específica. Era uma pintura de meus pais na noite da Queda das Estrelas. Ambos estavam de costas, mas sabia que ela os havia reconhecido. E atrás deles,as estrelas caiam, iluminando a pintura, a deixando com mais vida. Era uma das favoritas da minha mãe. Primrose tombou um pouco a cabeça para o lado, franzindo de forma fraca as sobrancelhas.

— Estamos na sua casa...? - sua voz, tão sedosa feito veludo, saiu quase como um sussurro, mal pareceu uma pergunta

— Sim - assenti. Ela apertou os lábios, seus olhos vidrados na pintura a explorando, ela ergueu uma mão quase como se fosse tocá-la, quase como se sentisse aquele momento próximo dela. Mas, hesitou, recolhendo sua mão, e as juntando com aflição na frente do corpo. Ao seu lado, apontei a ela outro quadro, escondendo um sorriso, enquanto a convidava a olhar — Vai me dizer que não reconhece aqueles lindos olhos? - ergui uma sobrancelha a ela, e a assistia mudar a atenção para o quadro que eu a mostrava — Aquele é o quadro mais bonito - na minha voz era claro o tom de brincadeira

Corte de Labirintos de Rosas e Estrelas Where stories live. Discover now