01. início

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O céu estava nublado e cinzento, e uma névoa fina nos cercava.


Sabíamos que precisávamos avançar pela mata na direção norte a fim de chegarmos à Trilha mais próxima antes do anoitecer, se não, perderíamos a lua de sangue e todo o nosso esforço teria sido em vão.


Eu li que as árvores deste local eram marcadas por um sinal ocasional de tinta vermelha, e que havia abrigos para os andarilhos acamparem e se aquecerem. Até então, não tínhamos visto nada disso. Só muita floresta selvagem, com ênfase no aspecto "selvagem".


Na verdade, andamos tanto e tudo era tão parecido que eu jurava que estávamos perdidas. Como nem eu e nem a Lily tínhamos trazido a bússola, contávamos só com o nosso senso de direção, e o meu era cada vez menor.


Lily, no entanto, parecia saber o que estava fazendo. Ela tinha um mapa, mas quase nunca o consultava. Eu não entendia nem como ela sabia para que lado ficava o norte ou o sul, porque as nuvens eram densas e escuras demais.



Uma tempestade se formou.


Eu estava pronta para acabar com aquilo. Íamos voltar. E se Lily não quisesse, eu diria que voltaria sem ela... Eu esperava que ela não percebesse o meu blefe, porém, porque eu não saberia me localizar sem a sua ajuda.


Ergui os meus ombros, virei para encará-la e levantei a mão para fazê-la parar. E foi então que ouvimos um rosnado. Estava longe, mas nós os escutamos latir e uivar.


Eu não podia ter certeza de que estavam atrás de nós, mas até Lily sentiu a necessidade de andar um pouco mais depressa.


Viramos à esquerda, e os latidos nos seguiram.


- Lily, acho que esses lobos estão seguindo o nosso cheiro.


- Por que diz isso? Não temos quase nenhuma comida, só os nossos equipamentos de trilha e os seus livros.


- Talvez eles não queiram comida. Talvez estejam apenas atrás de nós.



- Talvez estejam procurando outra coisa.


- Pode ser - admiti. Os latidos ficavam mais altos. - A gente podia atravessar o rio. - sugeri.


- Não tem ponte. Vamos nos molhar. Não quero me molhar - respondeu Lily.


- Mas, se atravessarmos o rio, os lobos vão perder nosso rastro.



- Tudo bem, mas onde vamos atravessar o rio? A correnteza é forte. Pode ser perigoso.


- Perigoso? - repeti - Essa é uma palavra engraçada, vindo de alguém que não pensou duas vezes em se enfiar em uma floresta atrás de um local para ver a lua de sangue. - eu suspirei, já havíamos tido essa conversa quando nos perdemos da trilha. - Vamos lá, parece que o rio fica um pouco mais estreito nesta área, e tem algumas toras enfileiradas até aquela pedra no meio dele. Talvez dê para chegarmos ao outro lado.


Eu podia perceber que Lily não queria ceder. Mas os latidos estavam cada vez mais altos, e os uivos e ganidos dos lobos competiam com o rugido da correnteza do rio.


- Lily! - gritei. - Nós temos que atravessar!


- Vamos procurar uma ponte. Não quero me molhar.


Nesse momento as nuvens negras se avolumaram, e o que antes era uma névoa fina se transformou em temporal.


- Pronto, já está molhada - falei. - Podemos atravessar agora?



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